Londres - Chamo-me Alexandre Machado, sou Angolano residente no Reino Unido ha alguns anos. Fui, e continuo a ser membro da UNITA, apesar desta estar a passar por um período de letargia nas comunidades do exterior.


Fonte: SA


Através do vosso jornal tenho seguido com muito interesse e alguma preocupação, a troca de recados conduzida na praça publica por destacados dirigentes da UNITA. Como militante, que deu a cara em momentos difíceis e sofreu na carne as conseqüências das suas opções políticas, não me posso calar perante este drama. Permitam-me que faca comentários sobre três breves questões:


Primeiro, depois da morte do Dr. Savimbi, a UNITA adoptou livremente a instituição de um processo democrático interno, que visava essencialmente resolver conflictos ligados a seleção da sua direção. O sistema ora adoptado implica legitimidade adquirida pelo voto dos militantes em congresso, para mandatos de quarto anos. Todos militantes em pleno gozo dos seus direitos, podem candidatar-se a presidência do partido. Porem, a democracia implica também colocar o interesse coletivo acima do interesse pessoal. Quando um líder dirige um partido que enfrenta eleições com resultados desastrosos, tem a obrigação de deixar a liderança e, no interesse coletivo, permitir que outros assegurem o partido para os novos desafios. Por isso e que Gordon Brown demitiu-se, John McCain já não e o líder dos republicanos, Manuela Ferreira Leite já não dirige o PSD. Ninguém acredita que o MPLA seja responsável a 100% pelo fraco desempenho da UNITA em 2008. Houve desorganização, falta de articulação de políticas credíveis e ma utilização dos recursos materiais e humanos disponíveis. Isto e tudo uma questão de gestão.


Segundo, o Dr. Claudio Silva e certamente bem-vindo ao seio da UNITA. Porem tem de saber que precisa de algum tempo de militância antes de ousar escalar o topo da pirâmide. Nada lhe da o direito de acusar, sem provas, outros dirigentes de estarem ao serviço do MPLA. Alias nada nos impede de concluir que o próprio Dr. Silva esteja ao serviço do MPLA. Tem a sua gênese na JMPLA, andou pelos corredores do poder da Sonangol, onde fez a sua fortuna com muito pouca transparência, passou pela FpD, que abandonou em condições estranhas e agora esta na UNITA onde pretende afirmar-se mais católico do que o Papa. O Dr. Claudio seria uma mais valia a UNITA se fosse capaz de convencer colegas seus a seguirem os seus passos. Pelo que sei, ainda não convenceu ninguém. A família da terceira esposa que o Dr. Claudio divorciou e abandonou nos EUA, reside em Londres e conheco-a bem. Pelo que consta, a sua “entrega” a UNITA, resulta de um desastre na sua vida pessoal. Depois de um caso grave de violência domestica, o Dr. Claudio foi levado pela policia, algemado e detido durante 48 horas. O seu cadastro ficou manchado e sem possibilidades de singrar nos EUA. Foi nesta altura que descobriu a UNITA. Se o Dr. Cláudio vela de facto, pelo interesse da UNITA, recomendo que seja comedido nas suas ambições.


Terceiro, fico sinceramente desapontado que o Mais velho Samakuva se limite a contemplar os efeitos nefastos deste duelo. Como e que e capaz de virar as costas aos seus colegas e companheiros de longos anos de luta, camaradas com os quais andou debaixo da chuva e passou a fome, em beneficio de alguém que acaba de chegar, caído de pára-quedas, sem historia nem prova de militância. Ou o mais velho denota uma cegueira política de proporções assustadoras ou perdeu de vista o interesse coletivo. Os partidos são antecâmaras do poder do estado e campo de ensaio para os políticos. Um político que insiste em presidir um partido apesar de estar a encaminhá-lo para o naufrágio, ou e incapaz de ler e interpretar o quadro politico-estrategico nacional, ou e motivado apenas pelos benefícios do poder. Em democracia, os mandatos dos lideres partidários são fixados pelos resultados.

 

Neste aspecto, mais uma mais, fico despontado que o mais velho Samakuva aceite conselhos daqueles que o querem perpetuar na liderança do UNITA, projetando assim uma imagem de um líder vitalício. A UNITA não e a Renamo. A consumar-se este desejo, que diferença haverá entre Samakuva e Dos Santos? Se quisermos a democracia, temos de demonstrar que somos democratas. O mais velho Sam pode desempenhar um papel crucial no seio do partido mesmo não sendo presidente.


Em nome dos militantes anônimos pelo pais e pelo mundo fora, deixai que os militantes se pronunciem num processo verdadeiramente transparente permitindo que todos dirigentes em pleno gozo dos seus direitos e que queiram candidatar-se, se candidatem e que ganhe o melhor. Acredito que assim, o partido sair-se-a mais forte e unido.