Luanda - O presidente da UNITA considera “enganador” os números apresentados pelo Governo angolano, à percentagem de 15%, que a proposta do Orçamento Geral do Estado (OGE), entregue à Assembleia Nacional, atribui ao sector da educação, que nas contas feitas pelo maior partido na oposição, ao contrário do bolo propalado pelo Executivo, a educação vai receber apenas 6,36%.

Fonte: Club-K.net

Os dados foram avançados por Adalberto Costa Júnior, quando discursava nesta sexta-feira, 3, na abertura da III reunião ordinária da Comissão Política da UNITA, que decorre no complexo Sovsmo, em Luanda, sob o lema: “sustentabilidade, crescimento para a victória”.

“No mesmo dia que fizemos a réplica sobre o Estado da Nação foi também entregue na Assembleia Nacional o OGE para 2024 e de imediato se fez um acento especial ao elevar da percentagem para áreas sociais, nomeadamente a indicação do aumento da percentagem para a educação elevada aos 15%”, lembrou o político.

Segundo Adalberto Costa Júnior “ouvi entrevistas e muitos elogios por finalmente se chegar aos dois dígitos para a educação. Achei precipitadas estas declarações, porque infelizmente estamos habituados à manipulação dos números”, disse.

Para auferir a veracidade dos factos, de acordo com o líder da UNITA, “solicitei cópia do OGE e infelizmente confirmamos que a educação não alcançou os dois dígitos, como todos gostaríamos”, lamentou, sublinhando que “em vez dos 15%, estão-lhe realmente atribuídos 6,36% do Orçamento”

“Quando se fixou a meta de 20% como objectivo, não se estava a considerar uma parte do orçamento, mas sim uma percentagem da sua totalidade”, pois na sua visão “é preciso ser-se mais sério e não andarmos continuamente a enganar os angolanos”.

No seu discurso de pouco mais de vinte minutos, o presidente da UNITA garantiu que o seu partido não vai desistir da proposta de destituição do Presidente da República “e temos razão bastante para continuarmos nesta batalha a fim de salvarmos o Estado Democrático da derrocada em que se encontra”.

No entendimento de Adalberto Costa Júnior, o Presidente João Lourenço e o seu partido (MPLA) “dão provas bastantes de não querem saber dos clamores das populações, cada dia mais pobres e excluídas de uma vida de dignidade”.

Esta semana, lembrou o líder da oposição, “fizemos a réplica ao Estado da Nação, num bairro pobre, muito próximo do centro do poder político; a Presidência da República está no mesmo município e provamos que há várias Angolas, com faces distintas, uma para mostrar aos estrangeiros e outra escondida, atirada à extrema pobreza”.

“Mostramos pelas imagens o país real e o porquê da urgência de reformas que reconduzam Angola à esperança e ao desenvolvimento, ao comprometimento com o
Estado Democrático e de Direito”, salientou.

Adalberto Costa Júnior fez saber que nesta III Reunião da Comissão Política, os membros vão avaliar o balanço de execução dos programas traçados e definir acções a desenvolver em 2024.

Das acções a levar a cabo na sequência desta reunião, segundo o presidente da UNITA “daremos primazia ao aprimoramento dos métodos de mobilização do povo para o desafio da alternância, que deve começar com a implementação das autarquias locais em todo o país e em simultâneo”.

“Sabemos que o regime anda a fugir do compromisso que várias vezes tornou público, mas é obrigação da UNITA, dos seus parceiros e da sociedade angolana em geral forçar o regime a concretizar esta importante componente de participação democrática do povo”.

Para o político, a confissão de que Angola é o único país na região da SADC que não tem implementado o poder local "tem de dar lugar a uma condenação e reacção de toda a sociedade, penalizada e refém do regime. Angola sob regime do MPLA não é,
infelizmente exemplo algum a seguir em matéria relacionada com a liberdade, a democracia e a justiça social”, pois para a UNITA, “estamos a vender ilusões ao mundo, investindo cada dia mais em propaganda”.

Afirmou que passado um ano depois das eleições, “os angolanos estão hoje, confrontados exactamente com um dos piores cenários económicos e sociais do nosso país, atingindo a estabilidade das famílias e a estabilidade das empresas angolanas”.

Na sua constatação, com a inflação galopante, a moeda nacional sucumbiu perante as moedas estrangeiras, a cesta básica, os demais produtos de primeira necessidade, os materiais de construção, atingem valores proibitivos e a inexistência de políticas impeditivas de especulação económica “fazem com que mesmo o que a natureza nos oferece, como a areia, o burgão, a pedra, tenham disparado de valor como jamais visto em Angola, deixando as famílias numa situação de instabilidade. Angola está perante um total desgoverno”.

De acordo com a UNITA, o povo angolano está exposto aos interesses de uma classe política “e infelizmente corrupta, exposta a governantes comerciantes atirados à acumulação primitiva de capitais, perante o silêncio medroso ou interesseiro das restantes elites do poder”.

A responsabilidade do desastre que atinge o país, disse, “não é apenas de um presidente autocrático, que não ouve ninguém, que não sabe dialogar, que nega a participação pública aos partidos políticos na oposição e à sociedade civil”.

“A responsabilidade é estendida aos membros da sua direcção, aos deputados que votam mesmo que em violação das leis, demonstrando ao país que aquele partido coloca os interesses de grupo, acima dos interesses nacionais”, assinalou.

Na sua intervenção “vivamente aplaudida”, Adalberto Costa Júnior salientou que Angola só encontrará esperança com uma genuína alternância política, pois “o programa do partido de regime é um programa de manutenção do poder a qualquer preço, em detrimento do interesse nacional”.

A III Reunião Ordinária da Comissão Política da UNITA, que decorre no complexo Sovsmo, no município de Viana, em Luanda, encerra no sábado, 4, com um comunicado final.