BENGUELA — Angola tem nas bases do passado um aliado para tirar proveito da Lei sobre Crescimento e Oportunidade para África (AGOA), dos Estados Unidos, com produtos como café, sisal, têxteis e atum, mas a descapitalização dos empresários, aliada ao excesso de importação, é apontada como contrariedade, indicam levantamentos feitos pela Voz da América.

Fonte: VOA

Reacções ao apoio à renovação da legislação que sustenta o comércio entre os Estados Unidos e a África Subsariana há mais de duas décadas, recentemente manifestado pelo Presidente Joe Biden, ressaltam a importância dos fundos do Estado angolano face a limitações do sector bancário.

 

Esta é uma semana de diálogo entre os Estados Unidos, Governo angolano e empresários a respeito da AGOA, poucos dias após o fórum realizado na África do Sul.

 

Desde ontem em Luanda, a capital angolana, para uma visita de trabalho, a vice-secretária do Gabinete de Assuntos Africanos do Departamento de Estado americano, Joy Basu, vai receber informações sobre o ambiente de negócios na perspectiva da posição de Angola face à AGOA.

 


Antes deste diálogo, o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Angola/EUA, Pedro Godinho, ao admitir fracasso em mais de 20 anos, ressalta já que é preciso transmitir que não existem condições internas favoráveis.

 

“Angola, ao longo destes anos, o que fez foi importar produtos, inclusive água, em contentores. Não existem condições para a exportação, por mais incentivos de fora, até porque estamos a importar para nos mantermos vivos, precisamos de mudar esta tendência”, admite Pedro Godinho.

O papel necessário do Estado

Mas outrora, bem antes deste instrumento legal que prevê isenções de taxas, Angola exportou para os Estados Unidos e outros países, conforme lembra o economista José Severino, presidente da Associação Industrial Angolana (AIA).


O regresso a este passado, conforme sustenta Severino, exige fundos criados pelo Estado, capazes de relançar o café, cacau, sisal, os têxteis, o atum e os moluscos.

“A conserva de atum era muito estimada, Benguela tinha três grandes unidades que empregavam seis mil senhoras, o atum agregava a lata e as caixas de cartão. É utopia pensar que a banca em Angola vai ser o motor do desenvolvimento, só depois de 4 anos o Governo percebeu isso”, aponta aquele empresário.

De acordo com Severino, “o pouco do café hoje, que é cinco por cento da antiga produção, mal ou bem alguns estão a mandar para os Estados Unidos, e o cacau e o sinal não têm problemas, conseguimos uma padronização já conseguida há muitos anos”.

Ainda assim, o empresário Paulo Neves, produtor e importador, alerta para exigências do mercado americano, sem perder de vista a descapitalização dos angolanos e a fraca produção interna num país a braços com a fome.

AGOA, nova fase

“Mesmo que tenhamos produtos com qualidade para concorrer … se não temos para nós? Estamos a morrer de fome, vamos produzir e vender à terra dos outros por quê? Outro problema é que o pessoal angolano está sem capital, são pancadas atrás de pancadas, com a desvalorização da moeda”, indica aquele produtor, realçando que “a solidez financeira está apenas em empresas agregadas ao sistema”.

Na primeira e única exportação para os Estados Unidos, acompanhada pela Voz da América há um mês, quando a Food Care mandou os chamados quitutes da terra, a ministra conselheira da Embaixada dos Estados Unidos em Angola, Mea Arnold, assinalou que o número de empresas angolanas exportadoras para o seu país continua a ser reduzido.

Já o chefe do Departamento de Promoção e Captação de Investimentos da Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações de Angola (AIPEX), Bruno Baptista, disse que o alcance dos padrões do mercado norte-americano vai determinar a presença angolana.

Em Angola, Joy Basu, tem encontros marcados com membros do Governo, devendo estar em abordagem, entre outros, temas como o investimento americano no Corredor do Lobito.