Luanda - Após o anúncio do possível aumento salarial na função pública angolana de 5%, sindicalistas defendem a estabilização dos preços da cesta básica. "O que adianta ganhar mais 5 por cento e não melhorar em nada?"

Fonte: DW

A medida consta da proposta do Orçamento Geral do Estado (OGE) para o exercício económico de 2024. Quem ganha cinquenta mil kwanzas (o equivalente a 56 euros) passará a receber mais dois mil e quinhentos (cerca de 2 euros). Já quem aufere cem mil encaixará na sua conta mais cinco mil kwanzas (o equivalente a 5 euros), ao final do mês.

Esta é uma medida ilusória, diz o jornalista Manuel Godinho. "Para quem não sabe o que corresponde essa percentagem de 5 por cento, vai pensar que o Governo disse que haverá aumento de salário, então o trabalhador fica a sonhar, a fazer previsões pensando que em 2024 com o aumento que o Governo está a prometer a vida vai mudar."


Por esta razão, o delegado do Sindicato de Jornalistas do Bengo, Edvaldo Lemos, defende que os esforços do Executivo angolano deveriam estar centrados na estabilização dos preços dos principais produtos de consumo.

"A maior preocupação deve ser de regularizar os preços da cesta básica. Termos um mercado onde o funcionário que ganha um salário, tem o poder de compra", entende o sindicalista. Edvaldo Lemos questiona ainda "o que adianta ganhar mais 5% e não melhorar em nada?"

Já o professor e analista Ngongo Mbaxi aplaude a visão do Governo em injetar um bom capital financeiro nos setores com bastante impacto na economia angolana, com destaque para o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), Fundo Activo de Capital de Risco Angolano (FACRA), Fundo de Garantia de Crédito entre outros.

"Daí a medida de recapitalização destas unidades que têm a responsabilidade de atribuir crédito aos produtores", salientou.

Erros do passado

No entanto, medidas como estas não chegam para travar a contínua subida dos preços, nem trarão benefícios às famílias angolanas. É o que diz o Secretário Nacional do Sindicato de Professores, Admar Jinguma.

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Admar Jinguma, Secretário Nacional do SINPROFFoto: Borralho Ndomba/DW
O sindicalista lembra o que aconteceu recentemente, quando o Governo atribuiu novos subsídios aos profissionais do setor da Educação.

"No seguimento, o Governo subiu o preço da gasolina e depois tudo o resto subiu. O preço do arroz duplicou, da fuba duplicou, há coisas que os preços triplicaram, de tal maneira que o efeito que se precisava acautelar com o incremento ficou diluído."

O presidente do Sindicato Nacional dos Professores do Ensino Superior, Perez Alberto, espera uma boa advocacia dos deputados no sentido de ver elevada a percentagem do aumento dos salários na função pública angolana. "Exortamos a mudança de mentalidade por parte do Executivo angolano, no que tange ao bem-estar social dos trabalhadores", conclui Alberto.