Luanda - A prioridade, um conceito aparentemente simples, que permeia muitos aspectos de nossas vidas quotidianas, desde o acesso a serviços básicos até a participação em eventos públicos. Embora, à primeira vista, a ideia de priorizar certos membros da sociedade ou grupos possa parecer uma medida justa e necessária, acho essencial também analisarmos as controvérsias achadas neste principio.

Fonte: Club-k.net

A questão que surge é: até que ponto a prioridade pode se transformar em um ato de descriminação?

Em uma sociedade onde o tempo é um recurso valioso e os mesmos são muitas vezes escassos, a ideia de prioridade emerge também de uma maneira desafiante como uma ferramenta essencial para gerir eficientemente nossas interações sociais e sistemas. Seja na fila do supermercado, ATM, ou na alocação de vagas em instituições educacionais, a prioridade é um critério que permeia nossas experiências diárias. No entanto, à medida que adotamos essa prática como parte integrante de nossas vidas, surge uma questão preemente; será que em alguns casos não transcende o mero gerenciamento eficaz para se tornar num vetor de descriminação?

 

Para compreendermos verdadeiramente as complexidades dessa dinâmica, é crucial examinarmos os cenários em que a prioridade é um elemento crucial e, ao mesmo tempo, reconhecer os potenciais dilemas éticos que podem surgir desse processo aparentemente inofensivo:


1- Emergências e situações criticas- em situações de emergências, a prioridade chega ser crucial para salvar vidas, assegurando que ajuda médica, evacuações, e outros recursos essenciais sejam direcionados rapidamente aos mais necessitados, tal como, no caso de uma mulher com a gravidez em estágio de risco ou mesmo nas vésperas de dar a luz. No caso das filas nos ATM obviamente que também chega a ser necessário em casos de que os mais velhos que já não possuem à mesma pujança que os seus mais novos, no entanto, fica merecendo a nossa compreensão e o total previlégio.


2- Promoção da Igualdade de oportunidades- em alguns contextos a prioridade poder ser usada para corrigir desigualdades históricas, proporcionando oportunidades adicionais para grupos que enfrentam desvantagens sistêmicas( Integração)


3- Incentivo à participação cívica: ao concedermos prioridades em eventos públicos ou processos participativos, pode-se incentivar a participação cívica, promovendo uma sociedade mais envolvida e ativa.

4- Agilidade em processos burocráticos- Em contextos administrativos, a prioridade pode agilizar processos burocráticos, reduzindo a espera e melhorando a eficiência dos serviços.


No entanto, quando é que o panorama pode mudar?

Para compreendermos a controvérsia existente mencionarei alguns aspectos em que a prioridade possa eventualmente ser encarada como um acto discriminatório


Possiveis aspectos discriminatórios:


1 - O critério da total Desinformação- Quando não temos a informação necessária do quão importante é a aplicação deste principio, e como o seu impacto poderá gerar ou ser benéfico para todos nós, acabamos por agir de má fé contra o nosso próximo desenvolvendo atitudes, posturas, e ações que possam minar pela negativa a coesão social.


2 - Falhas na identificação de necessidades reais: se os critérios para a prioridade não levam em conta as necessidades reais das pessoas, isso pode levar à descriminação ao favorecer caraterísticas percebidas em detrimento das necessidades individuais.

3 - Critérios subjetivos de avaliação: quando os critérios para determinar ou mapear a prioridade são subjetivos, há o risco de preconceitos e descriminação, especialmente se não forem definidos de maneira transparente e imparcial.


Para combatermos a esta controvérsia é necessário que existam também equilíbrios de justiça e quais podem ser?

Equilibrios de Justiça:


1- Transparência nos critérios de prioridade: isso exige a garantia de transparência nos critérios para conceder a prioridade, que sejam eles, claros, compreensíveis, reduzindo a possibilidade de discriminação subjetiva


2- Participação e consulta pública: significa incluir a voz da comunidade na definição de politicas de prioridade, permitindo que as pessoas afetadas participem ativamente do processo de decisão.


3- Educação e concretização: significa promover a conscientização sobre critérios de prioridade e os objetivos por trás de sua aplicação, educando a sociedade sobre a importância de um sistema equitativo.

No entanto, diante das complexidades inerentes à aplicação da prioridade, é imperativo que como sociedade nos engajemos em uma reflexão contínua sobre os sistema que estabelecemos e atualmente vivemos. A busca por eficiência não deve comprometer a essência de uma sociedade justa e inclusiva tal como a que todos nós queremos.


Ao considerarmos a prioridade em diversas áreas de nossas vidas, desde a distribuição de recursos,Participação em eventos, e cedências de lugares em situações de filas certamente teríamos um outro impacto diferente ao que temos vivido.


Devemos nos comprometer a promover sistemas de prioridade que sejam transparentes, adptáveis e, acima de tudo, justos. Isso demanda não apenas mudanças em politicas institucionais, mas uma transformação cultural em que valorizemos a equidade tanto quanto a eficiência.


A prioridade em si não emerge como um ato de discriminação, e isto vai depender a maneira como cada individuo prefere encarar este elemento. No entanto, existe a linha tênue entre a priorização justa e a discriminação inadvertida exige-se uma vigilância constante. Ao desafiarmos e aprimoramos constantemente nossos sistemas de prioridade, contribuímos para a construção de um futuro onde a eficiência coexiste harmoniosamente com a equidade, garantindo que nenhum membro da nossa sociedade seja deixado para trás.

Afonso Botáz - Analista e acadêmico