Luanda - O especialista Almeida Henriques considera que a aproximação de Angola aos EUA, marcada pelo encontro entre os dois presidentes quinta-feira, pode “gerar ciúmes” em outros parceiros do país lusófono, mas prevê a manutenção do equilíbrio nas relações bilaterais.

Fonte: Lusa

Almeida Henriques, especialista em relações internacionais, comentava desta forma a intensidade da cooperação entre os dois Estados, afirmando que pode “gerar ciúmes” por parte de outros parceiros importantíssimos no âmbito comercial para Angola, como é o caso da China.

 

“Mas nas relações bilaterais o chefe de Estado angolano tem sabido criar um equilíbrio para não ferir os compromissos ou os acordos que se tem com outros Estados”, observou, dizendo que “o Presidente João Lourenço sabe como pode coser as roupas”.

 

O importante é “olhar, em função do contexto, que pedras é que temos de mexer no xadrez em função dos nossos interesses”, acrescentou o académico, admitindo que a proximidade “pode beliscar” estados que competem pela hegemonia económica e investimentos estrangeiros.

 

“Estamos a falar dos EUA e da China que são sociedades politicamente oponentes numa perspetiva económica”, acrescentou o académico angolano a propósito da audiência que Joe Biden vai conceder quinta-feira, em Washington, a João Lourenço.

 

Para Almeida Henriques, João Lourenço deverá levar para o encontro os temas da segurança regional, questões comerciais, particularmente os investimentos externos que Angola está a atrair e o Corredor do Lobito, focando ainda o meio ambiente e os conflitos mundiais.

 

Embora com relações já antigas, na governação do Presidente angolano, João Lourenço, registou-se “uma aproximação muito profunda até no âmbito militar”, destacou, em declarações à Lusa.

 

Realçou, todavia, que essa proximidade no plano militar não poderá ter como contrapartida a construção de uma base militar em Angola, pois a Constituição da República de Angola (CRA) não o permite.

 

“A CRA veta esta possibilidade de qualquer base militar no território nacional”, disse Almeida Henriques, frisando que João Lourenço nunca evidenciou essa possibilidade em nenhum discurso.

 

O analista admite que possa haver essa intenção por parte dos EUA, tendo em conta o seu modelo de política externa na perspetiva militar, mas salientou que o país africano rege os seus interesses com base no que vem plasmado na Constituição.

 

Sublinhou, por outro lado, que a abertura no âmbito da formação militar pode ser uma mais-valia, tendo em conta o “pragmatismo do exército americano”, quer tecnológico quer científico, numa altura em que as Forças Armadas Angolanas estão num processo de reestruturação e modernização.

 

Ao avaliar as relações entre os dois países, Almeida Henriques lembrou que são anteriores a 1993, quando Angola ainda estava num sistema político monopartidário e um sistema económico planificado, em oposição aos EUA, defensores de uma democracia aberta.

 

Com a mudança do sistema político e económico angolano a partir de 1992, continuou Almeida Henriques, os EUA, em 1993, na vigência do Presidente Bill Clinton, “viriam reconhecer a independência e a soberania do Estado angolano”, começando agora, passados 30 anos, a ter uma perspetiva de relações mutuamente vantajosas com Angola.

 

Numa dimensão económica, o analista realçou que o Corredor do Lobito “talvez tenha aliciado, no bom sentido, a América” por ser “uma zona de transição do oceano Atlântico para o interior dos países encravados”.

 

Segundo Almeida Henriques, a decisão norte-americana de privilegiar Angola em termos de investimento é consequência da política externa pacifista do país lusófono.

 

“Sabemos que o Presidente João Lourenço, nas suas prioridades na política externa, tem precisamente a questão de segurança sub-regional, regional e mundial, logo, desperta uma atenção profunda naquilo que é a vontade americana para com, sobretudo, o continente africano, que é um continente assolado pelas conflitualidades permanentes e é preciso que se mitigue isso”, realçou.