Dubai - Rui Jorge Carneiro Mangueira, o embaixador de Angola nos Emiratos Árabes Unidos (EAU), tem a pesada tarefa de representar também os interesses do país e dos cidadãos angolanos numa área tão vasta quanto aquela que significa países como a Arábia Saudita, o Barhein, o Qatar.

Fonte: O Pais


Em região de culturas tão diferentes da nossa, Rui Mangueira conseguiu estabelecer um equilíbrio tranquilo nas relações de Angola com aquelas paragens do Golfo.


No dia-a-dia das suas preocupações, o seu trabalho reparte-se não só no estabelecimento de pontes comerciais entre Angola e a região mas também na projecção de uma Angola politicamente estável e culturalmente aberta. A comemoração do Dia da Paz e da Reconciliação Nacional em Abu Dhabi foi um dos momentos altos no relacionamentos entre o nosso país e as altas autoridades da região.


Senhor embaixador antes de tudo o mais os nossos agradecimentos por nos ter recebido, sei que está com os minutos todos contados. Como estão as relações Angola / Emiratos Árabes Unidos?


Começo por agradecer a vossa presença aqui na nossa embaixada.É uma excelente oportunidade para fazermos uma apresentação da nossa embaixada aqui em Abu Dhabi.Nós abrimos a primeira representação de Angola aqui nos Emiratos Árabes Unidos (EAU) em 2004 com a abertura do consulado geral.


Eu próprio fui o primeiro cônsulgeral de Angola no Dubai e, naquela altura, nós achávamos (o Governo), que havia uma grande necessidade de protecção dos nossos cidadãos, sobretudo naquela área, que se deslocavam para questões de ordem comercial.


Mais tarde Sua Excelência o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, entendeu que deveríamos abrir também uma embaixada e obter uma presença mais alargada para que tivéssemos novas pontes de cooperação. E é nessa perspectiva que a embaixada é aberta em 2008. Eu fui nomeado para aqui, disso resultou que sou o primeiro embaixador de Angola nos EAU e estou cá colocado desde 2008.


Do ponto de vista do relacionamento inter-governamental, nós estamos a marcar muitos passos. Era uma área muito virgem de conhecimento relativamente a Angola. Nós tivemos que começar com passos muito pequenos, por detalhes que hoje são impensáveis, realizámos seminários para chamar a atenção das pessoas aqui nos EAU e tivemos que fazer inclusive um tema “o que é Angola “ para dar a conhecer às pessoas das grandes potencialidades que Angola tem. Actualmente eles já sentem que Angola é um país a considerar na medida em que é a economia que mais cresce em África, apesar de todos os grandes constrangimentos do passado. Nós, neste momento, já estamos numa fase em que temos uma troca periódica de delegações entre Angola e os EAU. Já tivemos os ministros dos EAU a visitarem Angola, os nossos ministros também já tiveram visitas de trabalho, altos funcionários já se deslocaram a Angola, e estamos neste momento na fase de negociação de acordos a nível governamental.


Como deve compreender, isto leva algum tempo. Primeiro o período de planificação e depois a negociação de todos estes acordos, já estamos numa fase final, isto depois vai ser assinado.


O único acordo a nível governamental que nós temos neste momento é um memorando de entendimento entre o Instituto Nacional da Aviação Civil de Angola, o INAVIC, e a autoridade da Aviação Civil do Dubai, que permitiu o estabelecimento dos voos entre Angola e Dubai que são partilhados em três por cada uma das companhias aéreas. A TAAG iniciou muito antes que a Emirates, em Maio de 2008, o acordo foi assinado em 2007 e a Emirates, depois de ter feito um grande estudo do nosso mercado, realiza esses voos desde 25 de Outubro de 2009.


É bem verdade que tudo isto acontece a nível governamental. O sector privado como deve compreender, é muito mais dinâmico. E por isso nós já temos um movimento muito maior de pessoas. Com o estabelecimento das linhas aéreas é muito mais fácil nós compreendermos como é que o movimento de pessoas é feito. Nós temos neste momento cerca de 500 pessoas a deslocarem-se semanalmente de Angola para os EAU. Por outra parte temos um movimento empresarial no sentido inverso, vemos isso através do volume de vistos que nós concedemos para uma série de empresas que neste momento estão a movimentar-se para Angola.


No âmbito das relações Angola/EAU, houve contactos bastante avançados anteriormente em relação por exemplo, às energias renováveis. Em que pé é que está esse trabalho?


É um aspecto que nós, no plano governamental, estamos a trabalhar em conjunto. Aliás, este foi um dos motivos que fez com que o ministro da Energia dos EAU se deslocasse a Angola. Esteve em Angola também com o objectivo de buscar o apoio de Angola para a eleição dos EAU no sentido deste país albergar a sede da organização internacional das Energias Renováveis. Hoje, Abu Dhabi é a cidade que alberga a sede da Agência Internacional de Energias Renováveis.


Os EAU têm um papel líder nesta questão. Criaram o projecto Masstar, que é um projecto que produz cerca de 1.200 magawats de energia, só nesta perspectiva de energias renováveis, têm instituições de ensino também neste sentido, e têm estado a facilitar o melhor relacionamento possível entre estados e a Agência Internacional.Nós, Angola, temos estado também a desenvolver os nossos projectos, há um relacionamento já a nível.


O senhor embaixador, para além dos Emiratos Árabes Unidos tem outras responsabilidades nesta área – Arábia Saudita e Qatar. Como é que consegue repartir a sua actividade com três estados tão diversos uns dos outros?


Não são três. São cinco. Em primeiro lugar eu gostaria de mencionar que quando nós viemos para aqui, com a abertura do consulado, a nossa presença já era evidente. Era a nossa embaixada no Cairo que fazia a cobertura diplomática dos países do Golfo e o sr. embaixador Hermínio Escórcio era o embaixador não-residente aqui nos EAU. Nós abrimos o consulado mas era a nossa embaixada no Cairo que fazia a cobertura de tudo isso. Na verdade devo elogiar toda a capacidade que o sr. Hermínio Escórcio tinha porque, na altura, ele cobria 12 países e, mesmo hoje eu, a cobrir apenas cinco estados, quando me desloco a esses países, sempre consigo ter uma referência dos contactos que foram feitos por ele. Devo dizer que é de facto algo que é de louvar Em segundo lugar, com menos países que anteriormente, porque Sua Excelência o Presidente da República decidiu fazer essa partilha, isso veio facilitar um bocadinho o trabalho.


Mas não deixa de ser um trabalho que tem de ser feito com alguma energia e nós devemos olhar como metas que devemos atingir.


A Arábia Saudita é um país muito forte, é a primeira economia da região e a 16ª do Mundo, é parte do G20, é um país a considerar todos os dias quando temos que pensar na nossa estratégia com o Médio Oriente. Isto faz com que nós sintamos permanentemente a necessidade de estabelecer contacto com a Arábia Saudita.


Com os EAU onde estou a residir, pronto… é muito mais fácil. Temos aqui a residência e temos já um plano de trabalho como mencionei anteriormente. O Qatar, só na semana passada é que eu fui acreditado, portanto isto é ainda muito recente. E depois temos o Koweit e o Barhein que são economias que estão a desenvolver-se. O Barhein é o principal centro financeiro internacional do Golfo. Há 20 anos houve praticamente uma deslocação do centro financeiro do Cairo para o Barhein. O Barhein aproveitou muito bem isso está-se a desenvolver. Portanto são áreas a que nós temos que dar sempre muita atenção.


Por outro lado existe o outro aspecto que é de considerar que é o Plano de Segurança Alimentar. É evidente que Angola está-se a expandir, a nossa infra-estrutura precisa de ser desenvolvida. O mais importante é nós tentarmos fazer com tudo isso se encaixe, seja entre Angola e os EAU, seja entre Angola e os demais países do Golfo. E isso obriga-nos a apresentar permanentemente o caso de Angola para ver até que ponto eles estariam interessados em ver Angola como um grande parceiro desses países no plano que eles têm de Segurança Alimentar.


Gostaria de voltar à vivência dos angolanos nesta região. Que problemas os angolanos suscitam a esta embaixada?


Em primeiro lugar devo dizer-lhe que fiquei bastante satisfeito numa visita de cortesia que fiz ao chefe da polícia. Ele recebeu-me e até me ofereceu um pequeno quadro. Disse-me: “Senhor embaixador, estou bastante satisfeito em recebê-lo porque, ao contrário do que acontece com vários cidadãos africanos, não tenho registos de crimes graves praticados por cidadãos angolanos”. E eu fiquei satisfeito ao ter sido recebido com esta referência. Isto tem a ver um bocado com a característica das pessoas que saem de Angola para os EAU e mais propriamente para o Dubai. As pessoas vêm para o Dubai com objectivos bem definidos e planificam muito bem as suas viagens. São, de carácter absolutamente comercial.


Negócios !!!


Sim. Vamos supor que sejam negócios, mas para fazer comércio. Estritamente comercial. E há um outro segmento de angolanos que também vêm para os EAU e isso é agradável.


São empresas que estão a expandirse muito bem no mercado angolano e que precisam de escritórios de captação de negócios. Algumas delas estão a estabelecer-se aqui nos EAU.


Estabelecem-se legalmente. Cumprem com todas as formalidades, e vão fazendo os seus negócios no sentido de captarem outros negócios de diversa natureza. É um lado muito positivo por parte dos angolanos e, os angolanos têm sido muito bemvistos aqui. Para dizer-lhe a verdade não sinto problemas, provavelmente existem algumas dificuldades que são próprias do estabelecimento de qualquer relação, mas problemas graves não, não temos tido.


Em relação à chamada crise mundial, houve notícias de redução de actividades comerciais e outras. Isso terá influenciado de alguma maneira a procura do Dubai por angolanos?


Eu gostaria de lhe dizer que, pelos dados que nós temos, seja da Câmara do Comércio, seja da própria TAAGLinhas Aéreas de Angola e também da Emirates Airlines, não sentimos que tenha existido algum decréscimo desde 2008 até agora. Aliás, o que nós sentimos é que começando pelas estatísticas de passageiros, sentimos que a TAAG começou em 2008 no início da crise financeira e foi atingindo níveis de estabilidade em termos de passageiros no auge da crise financeira. Isso é bom perceber que, de facto, não afectou em nada o número de pessoas de Angola para os EAU.


Com a Emirates Airlines, que entrou no mercado só em Outubro de 2009, ficamos absolutamente admirados porque logo no primeiro voo tinham 89% de passageiros e hoje estão com um movimento de cerca de 90%de passageiros. É uma média muito boa ara uma companhia que começou em 2009 e seis meses depois eles consideram que a rota é rentável e já estão a pressionar as nossas autoridades para aumentarem o número de voos.


Portanto, por esse movimento que existe, nós sentimos que não há nada que se reflicta negativamente em função da crise económica e financeira. A Câmara do Comércio publicou dados de 2007, 2008 e 2009 das relações com Angola e os dados que nós temos são sempre positivos. Estão sempre a crescer nos últimos anos. Portanto significa dizer que, do ponto de vista do comércio, sobretudo o mercado do Dubai continua a ser muito profícuo para os angolanos.


Na sua percepção de diplomata como é que vê a projecção da imagem de Angola nesta região do Golfo?


Muito boa. Em primeiro lugar porque Angola é sempre caracterizada por uma grande estabilidade política. E; sem dúvida alguma que (e não quero de forma alguma olhar para a imprensa do lado negativo) nós temos tido aqui uma grande dificuldade – e não falo só de Angola, falo dos países africanos de uma maneira geral – porque a imprensa internacional apresenta a África sempre no negativo.


Que é o continente das guerras, que é o continente dos golpes de estado, que é o continente das doenças contagiosas, portanto, tudo o que é desgraça a imprensa internacional encarrega-se imediatamente de projectar, dificilmente existe uma notícia boa sobre África.


Bom, não estou a culpar a imprensa internacional, o que eu quero dizer é que, este trabalho de imagem positiva, quem tem de fazer somos nós. Eis a razão pela qual nós estamos aqui. E conseguimos projectar esta imagem de estabilidade política que nós temos no país, e sempre que existe um acto político novo com a entrada em vigor da nova Constituição nós fomos capazes de dar a conhecer sempre o papel positivo e a estabilidade política que nós temos. Em segundo lugar – e isto são dados que hoje estão perfeitamente aceites pelas instituições económicas e financeiras internacionais – Angola é o pais que mais cresce em África. Por outro lado todos os factos que nós temos estado a apresentar, seja pelo desenvolvimento das nossas infra-estruturas, seja pela capacidade de realização e de melhoria daquilo que está a acontecer no nosso país, são dados que são fidedignos porque são publicados pelo Fundo Monetário Internacional, pelo Banco Mundial, pela Organização Internacional do Comércio e Desenvolvimento das Nações Unidas, pela Organização Mundial de Comércio. São dados com muita fiabilidade que eles recebem e conseguem investigar acerca de Angola. Portanto Angola começa aqui a ser vista muito bem justamente em função desses dados positivos.


Daí ocorre juntar um assunto ao outro. As comemorações que esta embaixada e o senhor embaixador estão a promover em relação ao 8º aniversário do Dia da Paz e da Reconciliação Nacional, é, de alguma maneira, um bom instrumento para lançar, reforçar a imagem de Angola na região junto de todas as autoridades locais. É essa a intenção?

 

Sim senhor. Em primeiro lugar eu gostaria de dizer que o desporto e a cultura acompanham-nos sempre.Nós, para sermos bem conhecidos,para além de todos os factos políticos e económicos que nós mencionámos, devemos considerar que a cultura e o desporto devem estar sempre ao nosso lado. Há um aspecto fundamental que eu gostaria de mencionar, que tem a ver com o dia da paz. Devemos também dar a conhecer aos demais que em Angola, o conflito já é coisa do passado e que nós temos que celebrar a paz. Celebrar a paz significa dizer que nós precisamos de ter a cultura do nosso lado para difundir a nossa cultura em primeiro lugar.


Em segundo lugar, para chamar a atenção para a estabilidade política que nós temos em Angola. Ainda que nós estejamos neste momento a fazer com um mês de atraso, em função de alguns constrangimentos, essa celebração tem, de facto, essa vertente: a primeira que é a divulgação da nossa cultura, a segunda que é a divulgação do nosso país, e a terceira no sentido de criar uma maior proximidade com as autoridades locais no que diz respeito à estratégia que nós temos. Criar uma ponte entre Angola e os EAU.


Será este o ponto de partida para futuras actividades no sentido da divulgação da cultura angolana, do ser angolano nesta região?


Sem dúvida nenhuma. A comunidade estrangeira aqui é muito grande e tem um peso muito grande aqui nos EAU. Sem dúvida alguma também a religião aqui poderá eventualmente também ser um factor de constrangimento na medida em que a distância geográfica que nos separa, do ponto de vista cultural, é ainda maior por a religião ter um peso muito acentuado pelo facto de ser uma religião que, de certo modo, postula determinados princípios e cria determinadas barreiras até mesmo de relacionamento e penetração, mas esse lado, nós vamos continuar a explorar e eu acredito que nos próximos anos nós vamos promover esses grupos. No próximo ano nós vamos continuar a fazer na mesma perspectiva em que a cultura vai ter um peso muito grande e nós vamos avançar também com actividades desportivas, porque esse é o nosso grande objectivo, o de cada vez mais estabelecer esse relacionamento para difundir a nossa cultura e criar mesmo até, laços de irmandade através da cultura e do desporto.


Estes países são muito cautelosos em receber pessoas, exercem um determinado tipo de controlo, eu diria quase selectivo. Nem toda a gente que queira vir cá será eventualmente aceite. Um angolano, ou uma família angolana, ou um quadro angolano que gostasse de emigrar e de vir experimentar novas actividades nesta região, o senhor embaixador entende que teriam facilidades em se inserir nesta sociedade?


Eu gostaria de dizer que, apesar de algumas dificuldades que são colocadas, este mercado é aberto. É aberto porque se nós olharmos para as estatísticas nós vemos que 91% da força de trabalho aqui dos EAU é estrangeira. E, a nível de todo o Golfo, isso constitui cerca de 75%. Significa dizer que há muita mão-de-obra estrangeira. São países subpovoados e com o seu crescimento económico e com toda a expansão que existe no mercado de trabalho, há uma grande necessidade de absorção de mão-de-obra. Agora, este mercado de trabalho tem uma característica muito interessante. É um mercado de trabalho muito selectivo. E há uma exigência muito grande de que os quadros tenham alguma qualidade.


Significa dizer que apesar de eles serem abertos eles exigem, fazem uma selecção do ponto de vista da qualificação. A emigração é selectiva, e em termos de qualidade eles preferem que sejam os melhores. Em determinados postos eles exigem que as pessoas tenham uma determinada qualificação académica e ela tem de ser internacionalmente certificada.


Claro que para os demais postos como de serventes, etc., eles já não têm exigências tão grandes assim.


O que se passa verdadeiramente e em função da minha presença de seis anos aqui na região, eu sinto que os angolanos, de uma maneira geral, têm algumas barreiras. Há bocadinho mencionei que existem alguns factores que facilitam a vinda dos angolanos e com agrado vejo que aquelas empresas que já criaram postos de captação, elas, mais cedo ou mais tarde, irão expandir-se aqui neste mercado e irão começar a ter uma actividade muito mais inserida.


Mas vendo por outro lado, uma das principais barreiras que os angolanos têm é a questão língua. Fala-se muito pouco o árabe, a língua mais falada na verdade é o inglês. É uma barreira. A segunda barreira que existe é a questão dos salários.


E existe a questão dos salários baixos.


Os salários aqui são muito baixos.


Apesar de o nível de vida ser muito elevado, existe um custo de vida muito elevado, que eu considero que seja provavelmente 20% mais baixo que o custo de vida na Europa mas, por exemplo, o caso de Abu Dhbi é praticamente similar ao da Europa.


Não há dúvida nenhuma de que os salários aqui são muito baixos. Nós temos situações em que as pessoas apesar de estarem a ganhar cerca de 5.000 dólares, não têm capacidade para pagar a renda de um quarto, de um apartamento ou de um simples estúdio, que ultrapassa em larga escala aquilo que eles ganham. Isto acaba por ser um factor de constrangimento porque as pessoas podem ganhar mas não têm meios de poupança.


Em Angola, mal ou bem, as pessoas acreditam num projecto, de maneira que as pessoas vão e voltam. Por outra parte, este mercado é extremamente competitivo, porque eles apostaram numa diversificação económica. Hoje já não é só petróleo, mas no comércio, e serviços e também o turismo, são outras áreas que estão a ser amplamente desenvolvidas seja nos EAU seja nos outros mercados. E, na verdade, a nossa cultura empresarial ainda não está tão preparada assim para enfrentar um mercado extremamente competitivo.


Se nós olharmos para Jebel Ali Free Zone, nós vemos que na Zona Franca existem cerca de 6.000 empresas, como já disse. A Câmara de Comércio do Dubai fala-nos em cerca de 19 mil membros. E, a Câmara de Comércio de Abu Dhabi tem cerca de 15 mil membros. E, se formos para Sharjah onde 37% das indústrias dos EAU estão localizadas, há outros tantos mil membros. Ora, competir num mercado como este é muito difícil e a nossa cultura empresarial de marketing ainda não está suficientemente desenvolvida. Uma cultura empresarial de reinvestimento ainda não está suficientemente desenvolvida, de grandes poupanças para competir em função de novas oportunidades, de inovação tecnológica. Então, provavelmente, sejam esse alguns dos factores de constrangimento, eis a razão pela qual nós não sentimos muitas empresas angolanas ainda a operarem aqui.


Mas eu acredito que, mesmo algumas empresas angolanas que já sentem essa necessidade de expansão, mais cedo ou mais tarde, elas depois de entrarem para este mercado, hão-de ter capacidade competitiva de certeza.


Em termos de finalização senhor embaixador, quantos angolanos estão registados nesta área?


Nós temos um número bastante reduzido. Constantemente apelamos aos para se registarem, até mesmo porque é do nosso interesse que os angolanos se registem aqui na embaixada, e também no consulado no Dubai.


Existem mecanismos de protecção diplomática que mais facilmente podem ser accionados em função do registo. O registo consular para nós é crucial. Já fizemos três ou quatro campanhas, distribuímos os formulários, as pessoas levam os formulários e depois voltam. Situações em que as pessoas fazem o registo é precisamente naquelas circunstâncias em que as pessoas querem renovar o passaporte, precisam de um documento novo, precisam de um salvo-conduto imediato e então nós sentimos que as pessoas fazem um registo forçado.


Isto acontece em muitos países. Não é só aqui nesta embaixada. Nas outras embaixadas de Angola também temos isso, cada um com as suas características, cada um com os seus motivos, de maneira que nós temos cerca de 40 angolanos devidamente registados com quem nós temos mantido um contacto permanente. A comunidade angolana aqui é muito pequena.


Para aqueles que estão cá residentes ou estão de passagem e para o interior do país, que mensagem deixa o senhor embaixador nesta altura?


Gostaria de dizer a todos os angolanos que nós estamos aqui na embaixada com a grande finalidade de transmitir uma mensagem de amizade e de cooperação para os povos dos EAU. E que, todos os angolanos que se deslocam aqui, continuem a fazê-lo do modo que todos os outros anteriores fizeram, que é no sentido de respeitarem as leis e as regras deste país. Por outra parte eu penso que Angola, como país virgem, com uma estabilidade política boa, reduz o risco político de investimento a nível do nosso país. É um país que pode albergar muito bem investimentos dos outros países e alguns investidores que se encontram aqui estão em condições de poder estabelecer parcerias com os angolanos. É bom que os angolanos utilizem também os mecanismos que têm à sua disposição no sentido de facilitar parcerias com empresários dos EAU e da região também, que o façam de uma forma convincente e de acordo com as leis em vigor em Angola.


Este país é um país de oportunidades, e a internacionalização das nossas empresas poderá ser feita do mesmo modo. Assim sendo, eu acredito que o sector privado terá um papel extremamente importante na medida em que é o motor principal para o estabelecimento das relações entre os dois países. E tenham a certeza de que e o Estado angolano, o Governo angolano, terão toda a capacidade para apoiar e criar os mecanismos de apoio ao sector privado, no estabelecimento dessas relações.


“Na verdade devo elogiar toda a capacidade que o sr. Hermínio Escórcio tinha porque, na altura, ele cobria 12 países e, mesmo hoje eu, a cobrir apenas cinco estados, quando me desloco a esses países, sempre consigo ter uma referência dos contactos que foram feitos por ele. Devo dizer que é de facto algo que é de louvar”

 

Helder de Sousa