Luanda - Gilmário Vemba é meu “chalado” (leia-se humorista) e, ao mesmo tempo, meu herói. Na última sexta-feira, 15, levou uma (in)esperada “tampa” do poder político. Calma. Eu explico: “chalado”, porque quando conta das suas, desperta a criança adormecida que há em todos nós e o seu bom-humor. Herói, porque serve-se do humor para bater-se pela democracia e pela Liberdade de Expressão em Angola. Mais: por dizer em voz alta aquilo que a maioria dos cidadãos pensa (e quando pensa) em silêncio.

Fonte: Club-k.net

(In)esperada “tampa” pelo facto de o Centro de Conferências de Belas (CCB), situado na capital angolana, ter-lhe sido foi vedado para a apresentação do seu espetáculo, denominado “Tour Temas”. A não concretização da empresa do humorista era expectável, pois já não restam dúvidas (para quem ainda as tinha) que com as suas “chaladices”, Gilmário Vemba diz verdades que doem; verdade que incomodam.

 

As suas comédias representam dolorosas alfinetadas para o “establishment”. Mais do que um modo de vida, a comédia é, para Gilmar Vemba, uma forma de participar da vida pública do País. Mas, por isso (apenas por isso e nada mais do que isso), é tido como um ”inimigo” que desmerece um palmo da sua própria terra.

 

Ora, não dá para dar uma de ombros e muito menos manter-se indiferente ao que aconteceu com Gilmário Vemba. O meu juízo é o seguinte: tratou-se de uma medida politicamente jumenta, estrategicamente desastrosa, despida de racionalidade e inteligência. As consequências deste acto politicamente vergonhoso poderão conhecer a luz do dia num futuro próximo. E, presumo, serão historicamente pouco abonatórias para quem dirige.

 

O cancelamento do espectáculo do humorista confirma que o mesmo já não tem espaço em Angola. Que o querem calar. Atesta que o que aconteceu é apenas um alerta de que Gimário Vemba sequer é bem-vindo na sua própria terra. Quem deu a ordem para o cancelamento do espetáculo de Gilmário Vemba deverá estar a rir-se à beça por ter frustrado uma série de angolanos dispostos a assistir ao espetáculo anunciado e a jactar-se por ter desarticulado o projecto de um jovem empreendedor.

 

Todavia, antigo é o ditado que reza o seguinte: “o último a rir, ri melhor!”. E, neste caso, o último a rir será segura e garantidamente Gilmario Vemba quando, um dia, descobrir quem foi, de facto, o “sujeito” que deu a “ordem política” para frustração do seu projecto. Tal “sujeito” vai ser transformado num personagem das suas piadas.

 

Gilmário Vemba é um intelectual com dois palmos de testa, daí o facto de não ser benquisto; daí o facto de estar a ser alvo de perseguição política. Em Angola, ele está na lista negra. Está no “índex”. É a autocracia angolana em acção e no seu melhor.

 

Comediante de mão cheia, Gilmário Vemba conquistou os palcos, televisões e rádios portugueses com a força telúrica do seu talento, com o seu humor, sorriso de orelha a orelha e a sua permanente e inabalável boa disposição.

 

Enquanto Portugal reconhece-lhe a voz, o rosto e o talento, as autoridades angolanas renegam-no. Combatem-no. Acossam-no. Desprezam-no. Não o querem por perto. Tratam-no como se fosse um leproso. Foi assim com Barcelô de Carvalho “Bonga.” Foi Assim com Waldemar Bastos. Foi assim com muitos anônimos, intelectuais e fazedores de cultura. Gilmário Vemba não será o primeiro. Nem o último…!