Lisboa - José Paquissi Mendonça, um comentarista dos órgãos de comunicação do governo, diz em privado que tem sido alvo de ameaças de todos os lados desde que se destacou como o mais proeminente analista dos órgãos do regime para as questões relacionadas com a Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP).

Fonte: Club-k.net

"Falo do meu país e de outros no mundo, porque estudei história"

Apesar de não saber a origem exata das ameaças, José Paquissi Mendonça suspeita que as mesmas possam vir de setores radicais da UNITA ou mesmo do MPLA, que se sentem incomodados com o seu trabalho em prol da CIVICOP. As ameaças são no formato de chamadas telefônicas anônimas com conteúdo de ameaças de morte.


Nascido no Cutato, na província do Bié, Paquissi Mendonça, foi membro da UNITA Renovada no passado. A sua ligação ao maior partido da oposição também é por laços familiares, visto que seu falecido irmão, Jeremias Kalandula Chitunda, foi Vice-Presidente da UNITA e executado por forças governamentais em 1992. Embora não tenha vivido na Jamba, visitou este bastião da UNITA no início dos anos 90, tendo depois residido na província do Uíge, onde se aproximou de Paulo Pombolo.


Paquissi Mendonça e Jeremias Chitunda são irmãos de mãe. O seu pai, João Mendonça é familiar do general Eugênio Ngola Manuvakola, antigo negociador dos acordos de paz de Lusaka pela UNITA. Uma sobrinha sua, Dalva Ringote, é ministra de estado para a área social. Em privado Paquissi Mendonça, alega que foi por sua influencia que Dalva Ringote aderiu a JMPLA, na fase juvenil visto que o mesmo é ligado de Paulo Pombolo, antigo SG da ala juvenil do MPLA.


Dentro da UNITA, Paquissi Mendonça tem sido alvo de críticas por não se importar que as autoridades angolanas não tenham entregado as ossadas do seu irmão Jeremias Chitunda. As filhas de Chitunda exigem da CIVICOP a entrega das ossadas, precedida por exames de verificação de DNA, para evitar a recepção de ossadas falsas, semelhante à situação da família de Ze Vandunem e Sita Vales do "27 de Maio". Paquissi Mendonça é citado como o único membro da família que não se importa se o regime entrega ou não ossadas falsas.


"O mais engraçado é que o Sr. em questão é irmão do Vice-Presidente Chitunda da UNITA, que foi assassinado pelo MPLA em 1992, e a CIVICOP até agora não entregou os restos mortais do seu próprio irmão, e ainda assim junta-se aos assassinos do irmão dele para manipular consciências! Que desastre intelectual...", lê-se numa publicação feita por Adriano Sapinala, o Secretário Provincial da UNITA de Luanda.


Em resposta a Adriano Sapinala, publicada na sua página do Facebook, o visado José Paquissi Mendonça negou que se tenha juntado aos carrascos que mataram o seu malogrado irmão Jeremias Chitunda.


"Sim, somos irmãos, porque viemos do mesmo ventre da nossa querida mãe ROSALINA CALOMBO, 'em memória', e tínhamos uma intimidade de irmandade muito profunda e inigualável, entre finais de 1991/1992, quando nos encontramos aqui em Luanda, eu já adulto, pois quando ele deixou Angola para RDC e depois EUA, eu era apenas uma criança".


Pakisse Mendonça conta que, apesar do seu irmão ter sido da UNITA, ele agora é membro do MPLA, e que isso fique claro. "Ao longo da caminhada das nossas vidas, cada um teve a sua opção política. Ele na UNITA e eu, desde da minha adolescência, no MPLA. E isto fique muito bem claro que não significa que eu matei o meu irmão ou que me juntei ao lado de quem matou o meu irmão, porque a morte do Chitunda acarreta muitas interrogações".



"Ansiosamente, familiares e amigos estamos a aguardar a resposta definitiva oficial de entrega das ossadas ou explicação pública sobre o porquê de não aparecerem. Por isso, depositamos toda a confiança no trabalho que a CIVICOP e a sua subcomissão técnica têm vindo a levar a cabo, um processo que foi anunciado e aberto por Sua Excelência o Presidente da República", lê-se na sua mensagem.


Apesar de sua posição ambígua, fontes consultadas pelo Club-K disseram que a família Chitunda, tem perdoado Pakisse Mendonça quanto a este quesito. A título de exemplo, é ilustrado o convite feito ao mesmo no início do presente mês de dezembro, para ir à província da Huíla assistir ao casamento de Sandra Chitunda, a filha mais nova do malogrado vice-Presidente da UNITA.


As desconfianças de que está a ser ameaçado foram também verificadas durante esta sua deslocação à cidade do Lubango, em que, ao passear pela cidade, optou por usar máscara facial, óculos e chapéu para não ser reconhecido pela população.


Reformado da função pública, de onde serviu como diretor de escola, José Paquissi Mendonça é docente de uma instituição de ensino superior no município do Cacuaco e, ao mesmo tempo, comentarista dos assuntos da CIVICOP na TPA. Há poucos dias, circularam nas redes sociais fotografias suas em que os protagonistas procuraram evidenciar a sua mudança desde que começou a colaborar com os órgãos do governo. Numa das mensagens, havia o antes e o depois, conforme se observa na imagem em anexo.


No seu texto que partilhou nas redes sociais, Pakisse Mendonça nega veementemente a versão popularizada de que se tenha vendido ao regime do MPLA: "não sou nenhum demente ou corrompido através de bens materiais. sou um convidado, tal como muitos outros comentaristas, e não comento simplesmente os atos da UNITA. falo do meu país e de outros no mundo, porque estudei história e linguística e sou parte da história recente do meu país".