Luanda - Ativistas denunciam custos estimados em mais de dois milhões de dólares, falta de transparência e prioridades equivocadas em meio à crise. O silêncio da Presidência quanto ao escândalo intensifica a polémica.

*Borralho Ndomba
Fonte: DW

Em Angola, uma onda de indignação tomou conta do país perante a revelação de uma viagem privada do Presidente da República (PR), João Lourenço, e seus familiares para a passagem de ano nas Ilhas Seicheles. A polémica intensificou-se ainda mais devido ao silêncio mantido pela presidência em relação ao escândalo de vazamento de documentos.

Segundo informações divulgadas nas redes sociais, João Lourenço viajará no sábado (30.12), para as Ilhas Seicheles, acompanhado da esposa, Ana Dias Lourenço, filhos, netos e outros membros de seu gabinete. O vazamento dos documentos, incluindo cópias de passaportes de funcionários da Presidência, do PR e de seus familiares, revelou uma delegação composta por 34 pessoas, de acordo com o site de notícias Correio da Kianda.

O vazamento levantou questões sobre a autenticidade da lista da comitiva e gerou críticas em relação aos custos da viagem, considerando a atual crise sócio-económica enfrentada pelo país. O jornalista José Gama alertou que, somando despesas com ajuda de custos, hotéis, avião, viaturas protocolares e alimentação, a viagem presidencial poderá custar mais de dois milhões de dólares.

 

Por cada dia de trabalho no exterior, a Presidência paga 350 dólares de ajuda de custos com o pessoal da guarda. Durante os dez dias de férias do Presidente nas Ilhas Seicheles, serão gastos 133 mil dólares só com as diárias dos seguranças de João Lourenço, diz José Gama, segundo os cálculos feitos.

O silêncio da PR e a falta de transparência

A Presidência não emitiu declarações oficiais sobre o vazamento dos documentos nem confirmou a suposta detenção da funcionária responsável pelo ato. Tanto o secretário do Presidente da República para os Assuntos de Comunicação Institucional e Imprensa, Luís Fernando, quanto a Polícia Nacional mantiveram-se em silêncio, orientando a imprensa a buscar informações diretamente na presidência.

A falta de transparência na gestão do dinheiro público utilizado nas viagens do Presidente João Lourenço também foi criticada por ativistas e representantes da sociedade civil. O presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), Francisco Teixeira, destacou que os recursos gastos na viagem privada poderiam ser direcionados para melhorias no sistema educacional, evidenciando a precariedade de muitas escolas públicas.

"Muitas crianças sentam no chão porque as escolas não têm carteiras. Denunciámos várias vezes escolas sem quadro, escolas sem giz, sem teto. Denunciámos várias vezes que em Angola 19 mil árvores servem como salas de aulas. Para nós, não faz sentido gastar tanto dinheiro em viagem privada quando temos esses problemas todos no nosso ensino", protesta.

O ativista Dito Dalí questionou a transparência na divulgação de informações sobre a saúde do Presidente, comparando com a prática em outros países. Dalí enfatizou a necessidade de prestação de contas à população, afirmando que a atitude do Presidente João Lourenço está a gerar crescente insensibilidade às preocupações do povo angolano.

"Não pode prender a funcionária que supostamente vazou isso. As pessoas têm de estar preocupadas com a forma como o Presidente da República age de forma irresponsável, gasta o nosso dinheiro e desrespeita os angolanos. Isso é humilhação. No entanto, a atitude do Presidente da República passa dos limites", entende o ativista.