Luanda - A Ordem dos Advogados de Angola (O.A.A), é uma ordem profissional com respaldo constitucional, constituída por advogados que estão ao serviço da justiça e do direito. A advocacia é uma instituição essencial à administração da justiça. As eleições para o cadeirão máximo da O.A.A, realizaram-se no dia 15 de Dezembro de 2023, após vários dias de campanha dos candidatos concorrentes.
Fonte: Club-k.net
Destaca-se o facto de ter havido pela primeira vez desde a fundação da O.A.A, cinco (5) candidatos concorrentes pertencentes a cinco listas, nomeadamente:
Lista A, encabeçada pelo Dr. Vicente Correia Pongolola.
Lista B, encabeçada pela Dra. Henriqueta Silva.
Lista C, encabeçada pelo Dr. José Luís Domingos.
Lista D, encabeçada pelo Dr. José Carlos Miguel.
Lista E, encabeçada pelo Dr. Sebastião Vinte e Cinco. 3
O processo da campanha foi bastante activo, renhido e exigente, pois, cada candidato e seus membros, tentaram convencer os associados eleitores com as políticas gizadas nos seus programas e manifestos eleitorais, algumas voltadas a continuidade dos processos existentes, e
1 Advogado e Docente universitário.
2 No 1,2 do art. 193o da CRA.
3 Conforme acta da Comissão Nacional Eleitoral, datada de 16 de Dezembro de 2023.
“Okuvangula o Direito, os compromissos são com o País”
outras com uma visão mais idealista e futurística em descordo com o actual modelo de gestão e condução dos processos na O.A.A. Assim, é digno de nota, o facto de ter havido entre os candidatos debates públicos nas cadeias televisivas e rádios, o que foi imprescindível para influenciar o eleitorado, que por sinal estava até ao dia que antecede a votação um tanto quanto indeciso sobre em que candidato votar. Nestes debates, houve questionamentos relativos aos programas ou linhas de força de cada lista e as respostas dos candidatos serviram para criar a convicção aos associados eleitores, sobre quem devia conduzir os próximos destinos no cadeirão máximo da O.A.A.
Nossa humilde opinião, é que este processo foi definitivamente e sem sombra de dúvidas um bom exercício de cidadania, democracia e respeito pelas diferenças, acresce o facto de terem sido eleições bastante inclusivas, na medida que houve pela primeira vez, discussão dos programas, uma perspectiva dialéctica sobre o caminho que a O.A.A deve seguir, inovação, deslocação dos candidatos um pouco por todo o país, contacto directo com os associados e um nível elevado de organização. O marketing digital e o investimento feito para as campanhas, no que concerne a publicidade a todos os níveis e deslocação as várias províncias para apresentação dos programas, foi a tónica e nota de realce desta campanha dos candidatos e respectivas listas.
A expectativa inicialmente criada pelos associados, se foi dissipando aos poucos e uma nova figura (Candidato da lista C) desconhecido por muitos, com seu carisma, verticalidade e dinamismo, foi emergindo aos poucos, com um marketing de guerrilha, que amado por uns e criticado por outros, foi digno de nota e deu resultados bastante positivos.
Destaca-se o facto de apenas uma mulher, estar entre os candidatos e de forma destemida representar bem a classe, através das suas intervenções bastante curtas mas incisivas levando muitos a acreditar que a ordem podia ser liderada pela primeira vez por uma mulher que por sinal conhece bem a casa e teve um nível de recepção e aceitação digno de nota.
No fundo, é nossa opinião que houve neste pleito, dois grupos concorrentes, olhando para os seus programas e linhas de força. Um que defendeu a continuidade e ajustes ao funcionamento da máquina já existente (Lista A, B, D), e outro, que defendeu a ruptura e o estabelecimento de uma nova ordem (C, E), quer na visão, objectivos e programa totalmente diferente. Parece-nos sensato, analisar este segundo grupo com atenção na medida que trouxe perspectivas pelas quais a classe se revê, almeja e deseja, bem como, um discurso vertical, directo e corajoso em função dos desafios modernos que a ordem tem pela frente.
É inegável que há uma nova classe de advogados jovens, que não se revê no actual modelo de liderança da ordem dos advogados, bem como nos regulamentos que a regem, e viram neste segundo grupo, uma réstia de esperança, de ter os seus intentos satisfeitos e seus direitos mais reconhecidos, na busca por uma ordem cada vez mais interventiva e mais zeladora dos direitos dos seus associados. Neste ínterim e surpreendentemente durante as votações, foi esta classe de advogados jovens contra as expectativas de tudo e todos, que fez ecoar bem alto o nome do candidato que sagrou-se vencedor (Lista C). Assim, o Dezembro tornou-se lilás e foi escrita uma nova página que se consubstancia no nascimento de uma nova perspectiva na liderança da O.A.A, todavia, com muita expectativa e alguma timidez, muito por conta das várias promessas feitas no acto da campanha.
Enfim, queremos valorizar acima de tudo e no cômputo geral a forma ordeira, urbana e cívica durante o processo de eleições. É um ganho grande para a ordem dos advogados e almejamos que haja de facto a alternância seja efectiva. Queremos em função dos novos tempos e novos desafios, que se dê e se conceda reais direitos e privilégios aos associados que muito esperam, principalmente na dignificação e respeito a classe da parte das instituições públicas e dos órgãos de soberania e porque afinal, somos uma classe que por algum motivo goza de consagração constitucional e contribui eficazmente para a realização da justiça.