Luanda - As eleições que se desenrolarão em 2024 ao redor do mundo, apresentam um cenário crucial para as dinâmicas políticas e as relações internacionais. Este é um momento em que as escolhas de líderes nacionais moldarão não apenas o destino de suas nações, mas também terão impacto direto na ordem global.

Fonte: Club-k.net

Várias questões-chave emergem, refletindo transformações sociais, econômicas e geopolíticas. Este artigo examinará alguns dos principais desafios e oportunidades que podemos antecipar.

Os Estados Unidos, como uma potência global, enfrentam uma eleição presidencial que não só moldará sua política doméstica, mas também ditará o tom das relações internacionais. Com questões prementes, como as mudanças climáticas, a pandemia e a ascensão de poderes globais rivais, a escolha do próximo líder norte-americano terá um impacto profundo na abordagem dos EUA para a cooperação internacional e a segurança global.

Joe Biden procura um segundo mandato e dar continuidade na sua política externa, que teve como ponto máximo a guerra no leste europeu. Mas deverá encontrar um candidato à altura, que tenciona diminuir a presença norte-americana no cenário geopolítico: Donald Trump.

A União Europeia (UE), por sua vez, enfrenta desafios consideráveis, com eleições que ocorrerão em diversos países membros. A questão da coesão e solidariedade europeia, particularmente após a crise da COVID-19 e as tensões políticas internas, será central.

O resultado destas eleições influenciará a capacidade da UE de enfrentar desafios como migração, segurança e a relação com potências externas. Um dos grandes sinais de perigo, recai para o crescimento da extrema direita no parlamento europeu, bem como a sua capacidade de levantar um debate crítico e hostil às políticas de emigração.

No Reino Unido teremos eleições legislativas e um teste de fogo para o actual primeiro-ministro Rishi Sunak. Com uma sondagem negativa para o Partido Conservador que ele representa e uma opinião pública pouco simpática à sua política, teremos eleições desafiadoras para esse governo britânico e que será antecipado pela eleição do prefeito de Londres.

No caso de Portugal, também teremos eleições legislativas antecipadas após uma crise no governo de António Costa. Um embate legislativo se espera em Março, onde os portugueses terão de escolher se continuam com os socialistas do PS ou dão um voto de confiança aos Sociais-democratas do PSD.

Também em Março teremos eleições na Rússia, onde o presidente Vladimir Putin que está no poder já a 20 anos, vai concorrer a sua reeleição. Num cenário de pura asfixia democrática, vários os candidatos de oposição ao regime de Putin, foram afastados pela comissão eleitoral (como é o caso da ex-jornalista Yekaterina Duntsova) ou estão presos (como Alexei Navalny).

Se houvesse um interrupção da lei marcial e do estado de guerra na Ucrânia, também teríamos eleições presidenciais em Março. Mas por questões de segurança e estabilidade política, o processo eleitoral será interrompido para o próximo ano.

Na Ásia, as eleições em países como Índia e Taiwan têm implicações significativas. Com a Índia emergindo como um ator global cada vez mais importante e buscando um papel mais ativo em questões regionais, o actua primeiro-ministro Narendri Modi procura entrar na história do país como o primeiro líder que conseguiu três mandatos consecutivos.

Já Taiwan, terá de decidir a sucessão a estrategista Tsai Ing-Wen, que termina o seu segundo mandato com um impasse com a China. Os cidadãos de Taiwan terão de decidir entre o Partido Democrático Progressista que tem uma visão mais independente do relacionamento com a China, ou se votam no Kuomintang que tende a se aproximar mais de Pequim.

Na América Latina, a região enfrenta desafios persistentes relacionados à governança, instabilidade política e desigualdade social. Eleições em países como Brasil, México e Argentina terão repercussões sobre a estabilidade regional, bem como sobre a abordagem dessas nações em relação a parceiros globais.

No Brasil teremos eleições municipais que vão escolher os vereadores e os prefeitos, que vão dar corpo ao embate ideológico que vem em ressaca das eleições presidenciais: candidatos aliados de Jair Bolsonaro contra os candidatos apoiados pelo actual Presidente Lula da Silva.

O México vai para eleições em Junho e provavelmente poderá ter a sua primeira presidente do sexo feminino. Os principais partidos da oposição juntaram-se e apresentaram a candidatura da ex senadora Xochtil Gálvez, que enfrentará a candidata do regime e aliada do actual Presidente, a ex prefeita Claudia Sheinbaum.

Também teremos uma candidata da oposição para enfrentar Nicolaz Maduro na Venezuela. Maria Corina Machado pretende disputar as eleições presidenciais desse ano, mas enfrenta um litígio judicial que cassou os seus direitos políticos por 15 anos.

Eleições em países africanos desempenharão um papel vital na narrativa global. Com um continente que cresce em influência, especialmente em questões como desenvolvimento sustentável e governança, as escolhas dos líderes africanos moldarão o papel de África nas relações internacionais.

Para fecho do ano de 2023, o Presidente Félix Tshisekedi conseguiu a sua reeleição contra 18 candidatos, que o acusam de ter fraudado as eleições e que propiciou um processo eleitoral com irregularidades e falhas na logística.

Na África do Sul o ANC de Cyril Ramaphosa terão de superar uma onda crítica de corrupção, altas taxas de desemprego, crimes e acusações de má gestão do erário público. Essas eleições vão ser um teste de ferro para o ANC, que vem perdendo capital político nas principais cidades do país.

À medida que entramos em 2024, o mundo está diante de uma encruzilhada crítica. As escolhas feitas pelos eleitores em diferentes partes do globo terão ramificações duradouras, influenciando a direção da política internacional, a cooperação global e as respostas a desafios transnacionais. Em um mundo interconectado, é imperativo que os líderes eleitos estejam prontos para enfrentar os desafios complexos e abraçar as oportunidades emergentes, contribuindo para um panorama internacional mais estável e cooperativo.

O resultado dessas eleições não só moldará o ano de 2024, mas também deixará uma marca duradoura na história das relações internacionais.

Emerson Sousa.
Analista político.