Luanda - O mundo foi marcado por acontecimentos que afectaram as várias economias em termos políticos, económicos e sociais, com destaque para o conflito entre Rússia e a Ucrânia; valorização e desvalorização do dólar face ao euro; oscilação do preço do barril do petróleo; aumento da inflação e das taxas de juros; Conferência da COP 28, que tratou sobre as preocupações com clima, incluindo também as reivindicações em termos de redução dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural), de forma a diminuir a irradiação de gases de efeito estufa, principalmente para o continente africano e dos países mais vulneráveis aos impactos climáticos.

Fonte: JA

O conflito entre a Rússia e a Ucrânia que ainda persiste impactou negativamente diversos sectores da vida económica e social de vários países do mundo. Assim, também é importante reforçar a análise do efeito da guerra sobre um conjunto de sectores, como por exemplo, a influência da crise política no preço dos alimentos, situação esta que, segundo analistas, criou consequências no custo dos alimentos a escala global.

 

O ano de 2023 também foi marcado por pressões inflacionistas vividas pelos bancos centrais de todo o mundo, que exigiu uma resposta robusta em termos de política monetária, tendo sido considerado um dos maiores desafios desde a crise financeira das duas décadas passadas. Portanto, não era previsto pelos analistas que a inflação americana fosse atingir os níveis de aproximadamente 8,6%, representando o maior nível desde 1981, resultando numa pressão excessiva sobre as taxas de juros em todo o mundo, que também se repercutiu em outras geografias, em particularmente a europeia, em que os países da periferia da Europa apresentaram sinais de fragilidade com a elevação precipitada da dívida soberana.

 

Este registo, entre outros, permitiu a observância de novas regras prudenciais de controlo e procedimentos que visam recuperar os níveis de confiança do sector financeiro internacional, porque hoje verifica-se que as medidas não são suficientes para atenuar os riscos de falência de alguns bancos e, deste modo, causar uma nova crise financeira.

 

Os riscos do sector financeiro ganharam maior visibilidade com a pandemia da Covid-19, quando os bancos centrais, para conter os efeitos nefastos decorrentes da pandemia, adoptaram fortes medidas de injecção de liquidez nos sistemas económicos. Este facto resultou no aumento da inflação a nível mundial, tendo o Banco Central Americano decidido pela subida das taxas de juro de referência, tornando os custos de crédito mais caros (quer no mercado interbancário, quer para o cliente final).

 

A globalização desencadeou dois efeitos importantes: a expansão geográfica dos mercados e a eliminação gradual das barreiras ao comércio. Factores que aliados a tecnologia, que é garantida por um sistema de telecomunicações que permitiu o fecho de milhares de transacções em apenas segundos, permitiu uma movimentação rápida de capitais de um continente para outro, sendo o grau de abertura da economia o indicador que determinará a intensidade do nível de exposição face aos riscos, que são cada vez mais assumidos pelas instituições financeiras e empresas.

 

Portanto, toda crise tem um determinado efeito nos mercados, como por exemplo impacto no crescimento mundial, oscilação do preço dos alimentos, energia, entre outros. Isto porque aquilo que é hoje o mercado global contrasta marcadamente com o que era há 15 anos. Os mercados financeiros são hoje mais sofisticados e têm um alcance e dimensão extraordinariamente maior, pelo número de intervenientes e operações transaccionais que comporta, o que de certa forma atenua o efeito de recessão, pois hoje uma crise dos bancos na Europa pode ser facilmente resolvida com injecção de capital proveniente de fundos originários da zona euro, o que era mais difícil há décadas atrás.

 

O risco sistémico é um tema de extrema importância da agenda internacional, uma vez que o sentimento de crise de confiança no sector financeiro não se circunscreveu apenas aos EUA, como também em outras geografias, recordando o caso do banco europeu Credit Suisse, que registou um arrombo financeiro de cerca de 8 mil milhões de dólares, e foi obrigado a vender ao gigante UBS (União de Bancos Suíços) por cerca de 3,2 mil milhões de euros, numa operação que teve o propósito de garantir a estabilidade financeira e o seu contágio na economia internacional. Mais uma vez, a palavra de ordem continua a ser o Controlo, confiança e estabilidade do sistema financeiro, de forma a tranquilizar os mercados e a contaminação na zona euro. As autoridades monetárias europeias consideraram que a operação de aquisição do Credit Suisse pela UBS foi um passo decisivo para apoiar o sistema financeiro e tranquilizar os mercados.

 

* Economista