Luanda - “Devemos honrar e respeitar nossos pais, pois é uma forma de garantir uma vida longa no lugar que o SENHOR nosso Deus nos deu" - Êxodo 20:12. O incidente recente envolvendo o Sr. João Manuel Carvalho, que foi brutalmente espancado por seu próprio filho DJ Tafinha, causou choque e consternação entre os angolanos, inclusive eu.

Fonte: Club-k.net

Em situações em que nossos pais possam causar aborrecimento ou frustração, é importante lembrar de uma regra simples - afastar-se.

Se a comunicação se tornar impossível, é aconselhável envolver terceiros, como parentes ou até mesmo as autoridades. No entanto, recorrer à violência contra nossos pais não é apenas inaceitável, mas também traz uma maldição sobre nós mesmos.

Devo contar uma experiência que tive em Moçambique, onde testemunhei uma discussão acalorada entre um pai e seu filho por causa de um apartamento. O filho, que estava morando nos Estados Unidos, vinha mandando dinheiro para sustentar um apartamento em uma área nobre de Maputo.

No entanto, ao retornar, o filho descobriu que seu pai havia dado o apartamento para uma de suas namoradas. Frustrado, o filho exigiu o apartamento de volta, pois pretendia começar uma vida em Moçambique. A discussão se intensificou, o pai se tornou agressivo e até apontou o dedo no rosto do filho.

Em resposta a isso, o filho optou por se afastar da situação e buscar a ajuda de sua família estendida. Os tios e tias concordaram unanimemente que o pai havia agido de forma inadequada e precisava desocupar o apartamento imediatamente. O filho acabou vendendo o apartamento e comprou uma grande fazenda nos arredores de Maputo, onde seu pai passaria seus últimos dias.

Apesar do comportamento irracional de seu pai, meu amigo entendia a importância de suportá-lo, pois ainda valorizava a bênção do pai e reconhecia sua importância em sua vida.

Isso demonstra um nível de humildade muitas vezes ausente em jovens criados em ambientes que não abordam a masculinidade tóxica e glorificam a violência. O ataque de DJ Tafinha ao próprio pai reflete o vazio percebido em muitos jovens nas áreas urbanas de Angola.

Lembro de um incidente no interior de Angola, onde um jovem engravidou uma jovem mulher e então desapareceu, recusando-se a assumir a responsabilidade. Ele trouxe vergonha para sua família e clã. Em nossas áreas urbanas, vemos jovens que possuem atributos físicos impressionantes devido a horas gastas em ginásios, têm filhos espalhados por diferentes casas, possuem carros e apartamentos, mas carecem de profundidade devido à ausência dos rituais que os guiam para a vida adulta responsável.

Há vários anos, durante um episódio de insônia, me vi conversando com os guardas do hotel em Luanda quando um luxuoso Range Rover freou bruscamente. Um jovem musculoso saiu do banco do motorista, tirou à força uma jovem do banco do passageiro e a espancou impiedosamente.

Os guardas não intervieram, parecendo entretidos com essa violência. A mulher me viu e pediu socorro, me chamando de "Tio Jamba". O jovem a empurrou com agressividade para um monte de lixo, causando ferimentos.

Eu calmamente o confrontei, avisando-o de que ele se arrependeria de suas ações pelo resto da vida se não parasse. Ele explicou que a mulher o havia enganado sobre tomar pílulas anticoncepcionais, o que resultou em sua gravidez. Isso era inaceitável para ele, pois ele era um homem felizmente casado, até mesmo me mostrando uma foto de sua bela esposa e filhos em Portugal.

Fiquei perplexo e assustado com o vazio moral e a lógica distorcida demonstrados por esse jovem, já que ele não demonstrava empatia pela jovem .

DJ Tafinha não é o único culpado por suas ações; ele é apenas um sintoma de uma sociedade que perdeu suas bases morais. Nas áreas urbanas, a influência da igreja enfraqueceu, e a rede de sábios mais velhos que poderia transmitir valores para a geração mais jovem está moralmente falida. Como os mais velhos podem transmitir valores aos jovens se muitas vezes estão atrás das mesmas jovens?

Aqueles que hoje têm sessenta anos teriam doze anos em 1975, quando a convulsão social em Angola interrompeu muitas redes familiares. É bastante provável que esses homens tenham suas próprias falhas, que são então replicadas pelas crianças que testemunham a violência como um meio de resolver conflitos.

O ataque cometido por DJ Tafinha, uma figura conhecida em Angola, contra seu próprio pai é um ato vergonhoso. Devemos coletivamente nos envergonhar disso e aproveitar essa oportunidade para fazer uma introspecção. Há um sério problema com a masculinidade tóxica, que recorre à violência em vez de dialogar.