Luanda - Foram os chineses que descobriram a pólvora que, na dinastia Han, lá para 206 antes de Cristo, faziam artefactos explosivos e ruidosos para afastar os maus espíritos. Há cerca de mil anos, os fogos já eram coloridos e utilizados para comemorar vitórias em batalhas.

Fonte: JA

Maldita fundanga que nos fez perder guerras contra o invasor. Ainda me recordo de meu pai e o seu compadre Lima de Caconda a fazerem fundanga para venderem a caçadores. Me lembro que três ingredientes principais era o carvão, o sal e o enxofre. Era a pólvora negra. Ter pólvora e canhangulo, no antigamente, era ouro. Mandume aviou-se no então Sudoeste africano e, com armas e fundanga, encostou os portugueses às cordas.


Na passagem do ano há uma espécie de campeonato mundial de fogos de artifícios, multidões se juntam para olhar para o céu, o deslumbramento dos fogos.

 

Porém, as autoridades que promovem as toneladas de fogos de artifício têm consciência exacta e plena de que os fogos são altamente poluentes dando contributo ao efeito estufa, prejudiciais à saúde humana, mais a poluição sonora e perigosos quer na fabricação quer no uso. Quer dizer, o mundo junta-se numa cimeira para resolver os problemas do clima, depois faz a festa com poluição. Quer dizer, entra pela porta o que se tenta fazer sair pela janela.

 

Curioso, desde 2017 que 400 cidades chinesas proibiram os fogos de artifício, também chamados pirotecnia, para protecção do meio ambiente. Outros locais vão proibindo e outros reduzindo. Felizmente, outros países têm restrições ao uso de fogos de artifícios como o Chile, Alemanha, Finlândia e Irlanda.

 

Espero que a inteligência artificial consiga inventar fogos sem poluição e, qualquer pessoa, com um drone, fazer o seu fogo de artifício… ou fazer o seu mufete.

 

Nem sei como o português de Durban, Fernando Pessoa, não escreveu quantas mães, quantas noivas ficaram por casar por tua causa, ó pólvora.

 

Da pólvora, se arrecuámos para as catanas… mas mais tarde, por procuração, muita fundanga se usou aqui em nome da morte, porque não nos lembramos que tudo acaba na palavra.

 

Quando eu era miúdo, havia só foguetes de fazer barulho. Era na Feira Popular. Nós corríamos a ver onde caía o caniço ainda quente e a cheirar a enxofre e depois íamos aproveitar os paus para fazer brinquedos, colocar um arame na ponta para correr com um arco ou armadilhas com uma caixa pendurada no pau e uma linha. Milho no chão. A galinha entrava para comer o milho, era só puxar o fio preso ao caniço que a caixa caía e, depois, era só agarrar a galinha. Havia um de nós que matava. Eu nunca. Nem ajudar minha mãe a aproveitar o sangue para cabidela.

 

Mas nessa de não há bela sem senão, as pessoas compraram como podiam. Uma senhora, minha amiga, de baixa renda, deixou o bacalhau para trás e fez um panelão de cachupa, contribuição de 16 pessoas sem contar com a miudagem, dançaram toda a noite com birra, marufo, gasosa e quissângua. E assim que o sol acordou, de manhã, o prato que levanta a bandeira nacional: o muzonguê, cabeças grandes de peixe fresco, corvina grossa de meia cura, cebola tomate, óleo de palma, o pirão, batata doce e mandioca, Suku! Mesmo quem não tem religião, aí acredita que só Deus podia inventar essa comida ou esse desconstrangimento.

 

Porque agora mataram o problema. A gente vê na televisão e já ninguém fala problema, antes havia problemas de saúde, de educação, sei lá problemas, os professores e os problemas, a senhora dos 16 colégios e os seus problemas. Lembro-me que nas malfadas primeiras eleições, o informante final disse que tinham havido alguns constrangimentos que fizeram atrasar e tal e coiso. Mas quem é que assim de um dia para o outro matou o problema "então diga lá! Sim doutor, vim com a minha mulher porque ela tem constrangimentos na vagina. Quer dizer que ela tem problemas… Não doutor, constrangimentos. Olhe, qual a sua profissão? Professor primário. E que tal? Ai doutor, bué de constrangimentos. E problemas não tem. Quer dizer… constrangimentos. Sabe, se não estivesse aqui a sua esposa eu dizia-lhe onde meter os constrangimentos. Minha senhora, marquesa, vamos a isto. Quando doer diga. Afinal que problemas é que tem sentido? Problemas? Sim então a senhora se veio aqui é porque tem algum problema! Nada, doutor. Então? É só constrangimentos…