Luanda - Diz-me o assobio do forte vento do sertão da vida que Ruy (Alberto Viera Dias Rodrigues) Mingas entendeu dar, nesta quinta-feira, 04, o descanso eterno e merecido ao seu corpo e alma depois de várias décadas ao serviço da cultura e política angolanas. A “má-nova” chega de Lisboa-Portugal. Estou triste, pois morreu um senhor de classe e com classe. Morreu um homem de cultura e com cultura. Morreu um senhor com “pedigree”. Feneceu um angolano que, com a sua tronitruante e doce voz, deu muitas alegrias ao País e não só.

Fonte: Club-k.net

Ruy Mingas era um homem de cultura e político distinto. Mau grado não ter sido mais valorizado como homem de cultura. É próprio de um País que (não) sabe ler e escrever em condições. É próprio de um País inculto. O mano da professora Amélia Mingas não tinha nada a ver com a “cafrealização” a que assistimos por parte dos protagonistas políticos dos dias de hoje. Não tinha nada a ver com os “novos senhores” que, a sua maneira, pretendem transformar Angola numa roça grande.

Entrevistei Ruy Mingas em 1997. Estava ao serviço do “Comércio Actualidade”. Foi o jornalista Gustavo Costa (reitero, embora póstumo, o agradecimento) quem a viabilizou e deu-me alguns subsídios. Creio que Reginaldo Silva também o fez. A entrevista teve lugar num apartamento de um dos prédios situados logo no início da Rua da Missão, onde funcionava a comissão instaladora da actual Universidade Lusíada.

No decurso da entrevista perguntei a Ruy Mingas se tinha nacionalidade portuguesa. Ele sentiu-se ofendido. Franziu o sobrolho e de olhos esbugalhados destacou que aquilo não passava de intriga que tinham como fonte o partido político pelo qual sempre deu o “litro”. Pediu-me para que desligasse o gravador. Atendi ao seu pedido. Abriu a sua alma para mim. Disse-me que estava desencantado com a governação e que queria distância da política. Que o facto de ter criado a Universidade Lusíada estava a ser combatido por gente da sua “família política” e até mesmo do Palácio Presidencial, à época da Administração Eduardo dos Santos.

Dias depois da entrevista ter sido publicada, fez perguntas sobre mim a Gustavo Costa que as respondeu. Gustavo Costa disse-me, depois, que Ruy Mingas tinha gostado de mim. Foi amor à primeira vista. Tive uma prova. Passada uma semana, recebi um telefonema para que fosse ter com ele no mesmo escritório onde tinha feito a entrevista.

Conversamos muito. Quer dizer, respondi as perguntas dele. Inclusivamente mostrou-me o cartão de residente permanente em Portugal para atestar que não tinha nacionalidade portuguesa e desta forma esbater as alegadas intrigas que, segundo ele, vinham da sua própria “família política”.

No final disse que tinha uma bolsa para mim na Universidade Lusíada. Disse-lhe que iria pensar. Estendeu-me a mão. Pediu que me cuidasse, pois, no dizer dele, tinha muito futuro. Sorriu para mim, deixando ver os seus dentes brancos e bem alinhados. Também sorri e despedi-me. Nunca mais falamos.

Por isso, vou pedir, reverencialmente, cinquenta angolares e um pano ruim emprestado a Antônio Jacinto para me juntar à dor e à carpideira de Cláudio e Ângela Mingas. Mas antes pedirei permissão ao poeta do Golungo Alto para beber maruvo e diluir a tristeza pela partida de Ruy Mingas nas minhas bebedeiras que me permitirão consolar, também, os “meninos do Huambo”. Assim também encher-me-ei de coragem para dizer a Paulo de Carvalho que está perdoado, pois Ruy Mingas tinha bom coração. Não era rancoroso.

Até um dia, Ruy (Alberto Viera Dias Rodrigues!