Luanda - Li, em jornais, uma matéria que falava sobre Reformas de Altas Patentes das FAA e da Polícia Nacional. Chamou-me a atenção o facto de que todos eles, ou melhor, na sua maioria, eram militares há mais de 40 anos. Realmente, eles têm o direito de deixar a farda e as botas - suas companheiras desde os primórdios da independência - e passarem para vida "civil", para que, finalmente, se dediquem, um pouco mais, às suas famílias.

Fonte: Club-k.net

Em 1974, o que motivou os heróicos filhos da Pátria a ingressarem na vida militar foi o desejo de lutar por Angola, ponto-final. Não houve nenhuma motivação económica nem financeira. Todos eles, independentemente de suas origens: FAPLA ou FALA, foram motivados pelo patriotismo, o amor que tinham por Angola, e nada mais. Mesmo, actualmente, os nossos bravos soldados, apesar das dificuldades que enfrentam no dia-a-dia, continuam com a mesma postura: mantêm-se firmes na defesa da Pátria e, fiéis ao seu Comandante-Em-Chefe, o General João Manuel Gonçalves Lourenço. Isto é um assunto indiscutível. (O meu maior respeito!)

Infelizmente, mais uma vez, os Oficiais recém licenciados à reforma estão a sair das FAA e da PNA de mãos a abanar. Estão a ir para a casa de bolsos vazios. Com os magros salários que auferem, advinha-se que enfrentarão muitas dificuldades fora dos quarteis. Coitados, eles não podem fazer greve. Será por isso que lhes apanharam a pata? Mesmo os que estão no activo, é o que se vê: alguns deles, para chegarem ao final do mês fazem muita ginástica. Vão apertando o cinto até ao limite. Os que receberam Toyota Prado no tempo do Presidente José Eduardo dos Santos, as suas viaturas já estão cansadas. As peças de reposição são caras, os pneus são caríssimos. Há oficiais que chegam a tirar os passadores para andarem disfarçados nos kandogueiros, enquanto simples funcionários da Sonangol ou da AGT desfilam com carros zero km. Que vergonha! Aonde chegamos! Como estamos a tratar aqueles que defenderam a Pátria nos momentos mais difíceis?! Não me venham falar de condições financeiras. O Presidente ofereceu carros luxuosos aos seus conselheiros. Porque não se divide o mal pelas aldeias? Em vez de se dar muito a uma única pessoa, que se reparta para abranger mais gente. Fazer isto não é preciso ter muitos megabytes na cachimónia.

O Estado angolano gasta muitos milhões para acomodar a classe política e os vários Conselhos de Administração com salários "chorudos". O que estes angolanos sortudos fazem de extraordinário para serem mimados com regalias e bons salários? Qual o contributo que prestaram à Pátria para merecerem tudo e mais alguma coisa? Muitas entidades/empresas públicas são um prejuízo ao OGE. Estão a torrar o dinheiro dos contribuintes com futilidades. Um administrador da BODIVA ganha cerca de 8 milhões de kwanzas por mês. Isto é um escândalo! Um administrador do Fundo Soberano de Angola ganha cerca de 11 milhões de kz por mês. Quais os dividendos que eles já trouxeram para a economia? Os administradores do BNA ganham mais de 10 milhões kz por mês. Isto é vergonhoso! O Banco Nacional não consegue baixar a taxa de câmbio, pelo menos até aos 50 mil kz para cada 100 USD. Agora vejam: um General das FAA, que deu todo o seu cabedal nisto, e não teve a sorte de facturar no tempo do Presidente José Eduardo dos Santos, não consegue cobrir as suas despesas com o salário que ganha, que é, em muitos casos, 10 vezes menor do que o salário desses funcionários de luxo. Isto assim é justo? Dessa forma, não se está a praticar justiça social. (Se para os Generais é assim, imaginem a miséria dos soldados!).

Mas como nunca é tarde para se mudar o rumo das coisas, espera-se que o Comandante-Em-Chefe não permita que os seus companheiros de armas acabem mal em tempo de Paz.

Os Órgãos de Defesa e Segurança garantem a Paz e a Estabilidade Política e Social do País. Eles merecem uma especial atenção.

 

Luanda, 06 de Janeiro de 2024
Gerson Prata