Luanda - O Poder Legislativo não tem, definitivamente, consciência das circunstâncias sociais e econômicas dos mais de 30 milhões de angolanos que dizem representar. Os tribunos assemelham-se a uma criança grande que mal vê um brinquedo novo, mesmo tendo o outro em mãos e com vida útil, corre atrás do novo, abandonado o outro como se já não mais tivesse utilidade.

Fonte: Club-k.net

Os deputados à Assembleia Nacional são grandes em tamanho e pequenos em responsabilidade republicana. Revelam-se pequenos no que à defesa dos Direitos Fundamentais do cidadão eleitor diz respeito. Só assim se pode entender que os mui (in) úteis 220 deputados à Assembleia Nacional vão ser (ou já foram?) agraciados com viaturas no valor de um pouco mais de cem milhões de Kwanza. São bólides da marca japonesa Toyota Lexus, modelo SUV.

A notícia corre célere pelas redes sociais, qual fogo sobre capim seco. Não há, até ao momento, um desmentido formal. Se não se desmente, é porque é verdade. A notícia é o “tema popular” do momento. Mas o órgão unicamaral alegadamente representativo de todos os angolanos, nada diz. Faz jus ao anexim portucalense segundo o qual a caravana passa e os cães ladram.


Dito de outro modo: os tribunos angolanos não querem parar de melhorar as suas condições de vida e fazer fazenda para vida futura, só porque o povo murmura por invejar a vida de nababos que levam.

Consta que a atribuição de viaturas aos congressistas angolanos tem força de Lei. Todavia, atendendo à periclitante crise econômica e financeira do País e o facto de os cidadãos ordinários terem deixado, há muito, de ter três refeições por dia, os deputados deveriam abster-se de receber novos carros. Seria uma forma de manifestar a sua solidariedade ao cidadão-eleitor. Seria uma forma de estar ao lado do povo.

O MPLA perdeu a soberana oportunidade de se colocar ao lado do povo quando, em sede parlamentar, se debateu a questão referente à destituição de João Lourenço do cargo de Presidente da República. Hoje quem perde a oportunidade de se colocar ao lado do cidadão-eleitor são os deputados no Parlamento pela UNITA e similares. Ter-se-iam colocado do lado dos cidadãos se se abstivessem de receber as viaturas que lhes são (ou serão) atribuídas.

Pelo que tudo indica, estão nem aí. Sequer têm rebate de consciência ante à miséria social e econômica por que está passar o País e os cidadãos-eleitores. Isto é - quanto a mim e em bom português - um insulto àqueles angolanos que sequer podem tomar vitaminas por não terem uma refeição por dia.

O desempenho de muitos deputados é (sejamos honestos e claros) desproporcional aos régios privilégios de que usufruem derivados de dinheiros públicos. Não tem qualidade política nem técnica. Os carros de que vão usufruir chegam a ter mais valor que muitos deputados. Os tribunos criticam ferozmente o Executivo, mas na primeira oportunidade, seguem as peugadas do mesmo. Isto é fartar (muita) vilanagem!

Por isso, apelo vivamente aos cidadãos para que, na hora do voto, nas próximas eleições, tenham presente, o dito atribuído ao autor de “Os Maias”, Eça de Queirós: “os políticos e as fraldas devem ser trocados freqüentemente e pela mesma razão”. E mais não digo!