Luanda - O presidente do Observatório de Coesão Social e Justiça de Angola, Zola Bambi, foi levado na semana passada, 5 de Janeiro, para a esquadra Vila Alice, onde permaneceu durante dez horas, sem que as autoridades tenham apresentado queixa-crime. O advogado de direitos humanos afirma que se tratou de um acto deliberado para o impedir de defender a activista Laurinda Gouveia.

Fonte: RFI

O advogado e defendor de direitos humanos, Zola Bambi, descreve que quando se preparava para sair de casa foi impedido de o fazer e mais tarde levado para a esquadra.

 

“Sexta-feira [05 de Janeiro], preparado para ir representar Laurinda Gouveia - uma activista que tinha sido detida durante uma manifestação, juntamente com o marido e o filho menor - os meus colaboradores encontraram o portão bloqueado. Quando estava prestes a sair, apareceu o aparato policial e compulsivamente [disseram] o senhor tem de nos acompanhar”, detalhou.

 

Zola Bambi tinha sido contactado, na véspera, por activistas que o informaram da detenção de Laurinda Gouveia, durante uma manifestação contra a condenação de presos políticos - Tanaice Neutro, Adolfo Campos, Abrão Pensador, Gildo das Ruas e da influenciadora digital Neth Nahara - e cujo paradeiro era, na altura, desconhecido.

 

O presidente do Observatório de Coesão Social e Justiça de Angola refere que quando chegou à esquadra “não havia queixa-crime, não havia um processo contra mim, tratando-se apenas de questões cíveis”.

 

Zola Bambi, que permaneceu detido durante dez horas, considera que se tratou de um acto deliberado para o impedir de defender a activista Laurinda Gouveia, que foi a julgamento e já se encontra em liberdade.

 

“Absolutamente. A Laurinda [Gouveia] estava a ligar para mim e sabia que seria eu, ou alguém da minha equipa”, explicou.

 

O advogado angolano pretende agora reclamar os seus direitos, uma vez que afirma ter sido detido de forma injustificada.

 

“Primeiro quero identificar de quem veio a ordem para [a polícia] vir à minha casa e depois agir conforme a lei, reclamar os meus direitos”, sublinhou.

 

Entretanto, a polícia terá contactado Zola Bambi para o informar que estão a ponderar avançar com uma queixa-crime, acusando-o de ter deturpado os factos durante a detenção.

 

“Fui contactado hoje [08 de Janeiro] pela polícia que me disse que estão a pensar levantar uma queixa-crime contra mim e contra o Club K. Eles [a polícia] consideram que eu tenha insinuado os jornalistas. Não que os jornalistas informaram, mas que foram insinuados. Enquanto que as evidências estão aí. Eles que neguem não ter ido a minha casa, que não me levaram à esquadra, que não fiquei lá até às 15h00 e que não me impediram de ir a julgamento”, concluiu.

 

A RFI tentou contactar o comandante da Polícia de Luanda, Francisco Ribas, mas até ao momento não foi bem sucedida.