Luanda - A “gestão de silêncio” é uma estratégia política perversa e mui barulhenta adotada pela maior parte dos membros do partido no poder para encapotar, conveniente e circunstancialmente, a sua incompetência intelectual, técnica e ideológica por terem o rabo preso e falta de bravura.

Fonte: Club-k.net

Ela decorre, também, do facto de os membros da cúpula da Pessoa Colectiva que governa Angola terem participado na subtração e apropriação de indevida de bens públicos e o Presidente da República dispôr, de forma ilimitada e irrestrita, do poder de arrasar senão mesmo mandar anular - em todos os sentidos - quem, no seio do MPLA, ousar publicamente exercer a sua Liberdade de Opinião e de Expressão.

É preciso ter presente que o Presidente da República tem sob sua esfera de controlo e influência instituições como a PGR, os tribunais, os Serviços de Inteligência, o SIC, a Policia Nacional e o Exército.

A “gestão de silêncio” é, acima de tudo, um mecanismo de sobrevivência política que milita em desfavor da cidadania, contribui para a ineficácia da consolidação das Liberdades Fundamentais e concorre para a procrastinação da democracia.

A “gestão de silêncio” é sempre invocada na perspectiva de se evitar problemas ou de se ser mal interpretado. É a esfarrapada e desculpa perfeita para se entrar calado e sair mudo de uma reunião do partido no poder ou do Executivo, onde era suposto, possível e desejável que a verbalização do pensamento fosse imperativa, objetivando contribuir para a melhoria das condições de vida do colectivo.

Que serventia tem um político que não fale, que não forme opinião por alegada “gestão de silêncio”? Como se lhe vai conhecer as ideias? É fácil, cômodo e estratégico adoptar a “gestão de silêncio” como estratégia para se chegar ao aparelho do Estado ou do Governo sem que os cidadãos conheçam as suas ideias, com todos os resultados desastrosos inerentes a posteriori.

Os militantes do MPLA levam muito a sério a “gestão de silêncio”, aliado à disciplina partidária. A maior parte dos militantes tem pavor de se pronunciar, publicamente, sobre os assuntos da Polis sem o “amém” da direção do partido. Tudo para evitar problemas. É muito difícil entrevistar ou chegar à fala com os membros do partido no poder. É raro os cidadãos conhecerem as suas ideias sobre os mais diversos assuntos do País.

Se, por um lado, a “gestão de silêncio” é boa e conveniente para esconder a incompetência de toda a sorte, por outro, ela afigura-se como um verdadeiro “bico d’obras” ante à possibilidade da realização de eleições autárquicas. Com a “gestão de silêncio” no quadro da realização de eleições autárquicas, o partido no poder pode sofrer uma acachapante derrota em virtude de os cidadãos não conhecerem as ideias dos eventuais candidatos a autarcas.

A política e o silêncio são, definitiva e absolutamente, incompatíveis. A política é para quem tem ideias. E elas devem ser verbalizadas, externadas publicamente e em sede própria. A política não precisa de gente muda, surda e cega. A política faz-se sobretudo com palavras, argumentos, ideias e debates. Política demanda ideias na cabeça e verbo na ponta da língua.

O silêncio, em Política, pode, às vezes, ser de ouro. Pode ser uma exceção. Mas,não deve ser tido como regra! Pelo contrário. O silêncio é contraproducente. É nocivo. A "gestão de silêncio" pelos membros da cúpula do partido no poder é, também, em bom rigor, a máscara de um absolutismo muito mal disfarçado.