Luanda - Naquela fase de guerra, antes da assinatura da paz de Bicesse, em 1991, a entidade responsável pelos desportos nas Terras Livres de Angola, chefiada pelo jornalista e escritor Tito Marcolino, coadjuvado pelo Tenente José Dias Sunguahanga e pelo mais velho Kawema, sob tutela do General Isidro Wambu Chindondo, organizava campeonatos, quadrangulares e jogos interescolares, com o objectivo de incentivar a prática desportiva entre os guerrilheiros de Jonas Savimbi. Naquela altura, praticava-se o futebol onze e o de salão, basquetebol e atletismo.

Fonte: Club-k.net

Para um melhor enquadramento e nos situarnos no tempo e no espaço, vale recordar que o último Quadrangular foi em saudação à celebração do VII Congresso Ordinário da UNITA, realizado na localidade de Kwame Nkrumah, noroeste da Jamba, no ano de 1990. Desse quadrangular lembrei-me do triste momento do golo que eliminou a Estrela Vermelha, no jogo jogado no campo pelado do Quartel-General. Aquilo aconteceu, mais ou menos, assim: depois do primeiro quarto de hora, notava-se que a partida cheirava a prolongamento e, possivelmente, a desempate pela marcação de grandes penalidades. Mas não foi isso que aconteceu. Em um lance de pontapé de canto, o meio campista Mwalupasa antecipou-se ao defesa que o marcava, e cabeceou o esférico como mandam as regras: de cima para baixo. A bola passou nos "tubos" do defesa central e transpôs, lentamente, a linha de golo. Estava feito o primeiro e o único golo que colocou de fora, pela primeira vez na história do futebol da guerrilha, a melhor equipa daquele tempo – a Estrela Vermelha.

Com a Estrela Vermelha fora do caminho, os da Estrela Negra tinham razões para festejar antecipadamente. Sabiam que a vida estaria facilitada... Foi com esse ânimo que partiram confiantes para o jogo da final, disputado no campo da Mita-ombamba, no Kwame Nkrumah.

Os Mártires, equipa do Brigadeiro Sabino Sandele e do Coronel Comigo Kakunda, e dos Majores Lelinho e Chivinga, tinham preparado pormenorizadamente a partida, e fizeram vida negra à Estrela Negra, que, apesar de ter ganhado o jogo, viu "fumo". Afinal, a vitória não esteve bem, bem no papo! Foi graças a uma jogada rápida, saída dos pés de Laranjeira, que colocou a bola em profundidade, para explorar a velocidade de Chidinho. Por sua vez, Chidinho interceptou a bola e, com um toque subtil, espetou um "chapéu" ao defesa, que ficou a olhar para o ar, de seguida, endossou o esférico para o extremo contrário, ao ver Kandjavity com a mão levantada, e sem dar mais nenhum passo, Kandjavity atrasou o esférico para a entrada da grande área, e Camilo, de primeira, chutou forte, e a bola só parou no fundo das malhas. Daí para frente, foi apenas questão de tempo, o jovem atacante Isaías marcou o segundo da partida e bisou. Mas os Mártires não atiraram a toalha ao tapete nem se intimidaram, jogavam que jogavam, tendo chegado ao golo por intermédio de Cabeludo, ponta de lança. Minutos depois, Azevedo-I viu o seu golo ser anulado. Empolgados com o golo marcado, e nervosos com o anulado, os jogadores ficaram mais soltos e corriam por todas as direções, procurando, pelo menos, o empate. Por vezes, ouvíamos Beto a gritar para Duque, enquanto Jojó pedia a bola, e Beja avançava pelo corredor direito para auxiliar Pinto ou Azevedo-II. O único que não passava do meio-campo era Moisés, defesa central. Apesar das investidas, a experiente Estrela Negra manteve-se serena e soube conservar a confortável diferença. Minutos antes do apito final, os jogadores dos Mártires reclamaram por uma grande penalidade, mas o árbitro não cedeu à pressão, e fez sinal com as mãos, que dava a entender que o atacante tinha-se atirado ao chão. Não tardou, terminou a partida. O placard apresentava: 3 – 1.

Depois do jogo, ouvi, com os meus próprios ouvidos, alguém do banco de suplentes dizer: se isto continuasse mais um pouco, empataríamos! – Os "gajos" estavam a ser bem fustigados, até derrubaram o Kaprivi na grande área. – E concluiu, dizendo: “Este árbitro é mesmo GATUNO, poça! “

Para satisfação dos adeptos da Estrela Negra, durante a noite Cultural e Recreativa, no Pavilhão do Kwame Nkrumah, por onde decorreu o VII Congresso, o capitão de equipa, Camilo, levantou a Taça das mãos do Presidente Fundador e Alto-Comandante das FALA, o Dr. Jonas Malheiro Savimbi.

Voltarei…

Luanda, 02 de Fevereiro de 2024.
Gerson Prata