Luanda - O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos concluiu, há poucos dias, que a detenção do empresário angolano, Carlos São Vicente (que se encontra a cumprir uma pena de prisão em Luanda por comprovados crimes de peculato, fraude fiscal, branqueamento de capitais e pagamento de uma indemnização de 500 milhões de dólares) foi arbitrária e, como tal, constitui uma violação do direito a um julgamento justo.

Fonte: Club-k.net

A posição do sobredito organismo da ONU é, quanto a mim, facciosa. E faz lembrar aquele nosso parente “estarola” que empunha o garfo quando o jantar à mesa é um prato de sopa. Sugere que o empresário angolano São Vicente foi preso de forma arbitrária ou por razões políticas. Não é, ao que consta, nem uma nem outra coisa.

 

Todavia, manda a verdade dizer que, afinal, estão eivados de razão todos aqueles que advogam uma imperiosa e profunda reforma da ONU por já não mais corresponder às razões para as quais foi criada. Destarte, sou obrigado a juntar a minha voz à de todos aqueles que defendem melhorias no Sistema daquela organização multilateral mundial ou à dos mais radicais que pleiteiam ser, hoje, uma instituição inútil e, por isso, são pela sua extinção.

 

Angola é o que é. Tem os seus problemas. Está certo! Mas é um País soberano. A Justiça angolana é questionável, sim. Mas não queira a ONU ter a insolência de insinuar que Angola é um torrão sem Lei nem Deus. Sem rei, nem roque. Nada disso! As cadeias angolanas albergam um número indeterminado de presos políticos e cidadãos presos arbitrariamente. Nunca se ouviu a ONU a tomar posição nenhuma a favor dos mesmos. Há cidadãos doentes nas prisões angolanas a quem é denegada a assistência médica e medicamentosa. E a ONU sempre manteve-se caladinha. Mas sobre a prisão e o estado de Saúde de São Vicente a ONU foi solícita e tomou uma posição pública sem titubear.

 

A ONU é uma instituição a quem o Estado angolano paga as suas quotas. Julgo que as tem em dia. A organização liderada por António Guterres tem de deixar de ser hipócrita. Tão hipócrita como aqueles que pregam a água e, à sorrelfa, tomam vinho feito gente grande. Ora, se Roma nunca pagou a traidores, porque razão Luanda tem de continuar a pagar a uma organização hipócrita?

 

A ONU tem de interceder por todos angolanos presos políticos e cidadãos presos arbitrariamente nas cadeias angolanas e não sair em defesa apenas de uma pessoa particular. A ONU não pode ser política e convenientemente complacente para uns e indiferente para outros. O sangue de São Vicente é tão vermelho como o de outros cidadãos presos de forma arbitrária e por razões políticas de facto. E , neste aspecto, a ONU manifesta-se vesga ou olha para os cidadãos angolanos de forma categorizada.