Luanda - Subsidiar ou não os combustíveis? Para o nosso caso, não pode haver uma resposta fechada, porquê? Porque temos que analisar vários factores e actores envolvidos no mercado, desde os decisores, operadores e consumidores. Também temos que analisar a envolvência e resultados dos actores a médio e longo prazo, tendo como objectivo principal o bem-estar dos angolanos.

Fonte: Club-k.net

Temos tomadas de decisões que afectam os preços de productos e serviços sem antes analisar a elasticidade dos mesmos e capacidade de pagamento dos consumidores. Para a maioria dos casos é recomendável a analise da taxa de esforço de pagamento do consumidor, qual é o máximo que o bolso do cidadão pode suportar? De outro modo também deve-se analisar a capacidade de elasticidade dos preços ou seja ate que ponto pode-se esticar preços que sejam suportados pelo mercado e ou consumidores? Isto serve para cada alteração de impostos, taxas, emolumentos, produtos e serviços. O governo tomará melhores decisões se antes observarmos a capacidade de pagamentos e a elasticidade dos preços.

Qual é o desempenho dos actores a curto e longo prazo?


O governo: perde muito dinheiro com gastos dos subsídios aos combustíveis, estima-se em vários milhões de dólares ano, a curto prazo sem subsidiar os combustíveis o governo terá mais disponibilidades financeiras para poder investir noutros sectores. É legitimo que o governo assim haja e planifique.


Há longo prazo não temos conhecimento de haver algum balanço sobre o resultado da retirada dos subsídios aos combustíveis, mas a experiência dita-nos que os subsídios têm sido diluídos pela inflação e depreciação da moeda, ou seja, por mais que tenhamos reduzido os subsídios, a longo prazo a inflação e depreciação da moeda diluem quase toda recuperação de capitais ai advindos.


O lado do consumidor: Como actor principal da economia, fazendo parte da maior fatia de qualquer segmentação ou estratificação, para o consumidor o aumento dos combustíveis tem efeitos transversais, se por um lado faz-se distinção entre o consumidor com capacidade de custear as despesas relativas ao aumento do preço dos combustíveis, há consumidores que não podem suportar imediatamente a subida.

Vejamos algumas situações: pela locomoção menos de 15% da população detêm uma viatura, já houve a narrativa de que o aumento do custo dos combustíveis afecta mais os consumidores com maior capacidade financeira, o que é errado, e porque errado? Porque na maioria das vezes o preço dos productos e serviços também mudam, desde os táxis, moto táxis, alimentos, escolas privadas, saúde, medicamentos etc. no final vai depender da capacidade de pagamento de cada consumidor.


Subsidiar os transportes públicos e adjacentes é uma ajuda mas não resolve o problema da capacidade de pagamento da maioria dos trabalhadores, é preciso haver uma analise transversal do consumo geral da população, porque muitos preços de impacto social sobem imediatamente ou meses depois, por exemplo as propinas escolares, medicamentos, alimentos ajustam os preços quase sempre.


A medio e longo prazo para o consumidor a tendência é agravar a incapacidade de suportar a inflação, porque os preços tendem a ter um efeito bola de neve.
O lado empresarial: O lado empresarial pode-se dividir entre o sector publico e privado, mas vamos observar o privado que tem a demanda de rentabilizar os investimentos, com isso as empresas vão sempre compensar qualquer tipo de custos que advirem do mercado. Por logica requerem que as empresas apenas ajustem os seus preços ao custo da proporção da subida dos combustíveis, mas não é assim que funciona o mercado, e porquê? porque o aumento do custo do combustível afecta toda cadeia de produção e ou de serviços. Analisemos as seguintes situações, os aumentos também criam espectativas de aumento dos salários e subsídios de transporte dos trabalhadores, para compensar os custos de locomoção e a inflação.

Para uma empresa com vários segmentos de produção e serviços, incluindo diversas materiais primas, imaginemos que comecem a comprar tudo mais caro porque os fornecedores assim fazem devido a subida dos combustíveis, será que uma empresa nesta situação vai apenas ajustar preços de acordo ao combustível? Vai esquecer a matéria prima, empacotamento, utensílios, consumíveis e outros que também tenham ajustado os preços?


A medio e longo prazo: as empresas vão sempre ajustar-se as mudanças de preços e custos para rentabilizarem as actividades, em alguns casos sobre forte pressão dos acionistas e parceiros.

Alguns indicadores e recomendações


O governo pode amenizar um pouco o custo de vida dos cidadãos, fazendo uma inversão de gastos, usar o montante dos subsídios em actividades ou infraestruturas de impacto social como na saúde, educação, comunicação, estradas, energia, água e outros que possam reduzir o custo de vida.


Para os cidadãos acredito que não tenhamos capacidade de remuneração para suportar os preços dos combustíveis do mercado internacional, a nossa remuneração não é comparável com a de países que tenham maior capacidade de pagamento, igualar o preço internacional sem desagravar outros custos será um risco muito alto a condição social do Angolano, por isso é importante analisar a capacidade de pagamento.


Para as empresas haverá sempre a intenção de evitar perdas ou redução da rentabilidade e continuarão com ajustes constantes, mas é preciso monitorar a subida de preços das empresas, há casos de pura especulação e aproveitamento do momento.


Economicamente a retirada dos subsídios levam à ajustes que resultam em inflação e depreciação da moeda, basta fazermos uma retrospectiva dos ajustes de retirada dos subsídios. O governo Angolano a curto prazo recupera o valor da subvenção, mas a medio e longo prazo perde a recuperação com o efeito da inflação e depreciação do kwanza. O subsídio aos combustíveis afecta toda nossa estrutura económica directa ou indiretamente, para alem da inflação e depreciação da moeda, também encarece o endividamento externo e deprecia o endividamento interno, o que pode provocar ajustes por parte dos empresários locais e mais gastos com pagamentos externos.


Outro desafio em consequência dos enumerados acima, tem sido a demanda do volume da massa monetária a circular na economia, quando na realidade o pais não consegue aumentar este fluxo monetário provocado pela inflação e o constante aumento da população, os resultados a longo prazo são desemprego, aumento da pobreza, menos circulação monetária. Os únicos momentos de equilíbrio e tranquilidade, sempre foram quando o preço do petróleo no mercado internacional disparava a valores bem mais altos que o do OGE.


Precisamos aumentar as analises e produção de dados, acredito que podemos fazer e ajudar o nosso governo na tomada de decisões. O ideal é identificar uma solução a longo prazo sem muitas alterações na vida dos cidadãos e empresas.