MALANJE — Angola enfrenta uma profunda crise de ética que atingiu “níveis degradantes e irresponsáveis que se traduzem na corrosão, nepotismo, compadrio, amiguismo, clubismo e na vandalização e delapidação dos bens públicos”.

Fonte: VOA

Este quadro foi apresentado pelo presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), na abertura da primeira Assembleia Plenária do órgão deste ano, que arrancou nesta quarta-feira, 28, na província de Malanje.

“A minha convicção é que tudo o que de ruim estamos a viver e a experimentar deve-se a uma profunda crise de ética”, sustentou José Manuel Imbamba, para quem “a consciência do mal, do injusto e do pecado está a desaparecer vertiginosamente, já não incomoda, o sentido de honra e de dignidade já não encaixa no nosso perfil, o egoísmo ou o individualismo está a ofuscar e a banir o sentido do bem comum”.

Numa sociedade em fragmentação da consciência em relação às referências éticas, Imbamba acrescentou que “não temos um quadro axiológico de unanimidade social como na sociedade tradicional”.

O líder da Igreja Católica fez um apelo aos decisores e aos cidadãos.

“A gestão ética do serviço público transformar-nos-á em cidadãos e funcionários sérios, honestos e responsáveis, exemplares, comedidos, competentes, comprometidos e desapegados, capazes de garantir uma execução à bom nível das políticas públicas traçadas pelo executivo e com um elevado sentido de pertença e de Estado”, afirmou José Manuel Imbamba.

Ao fazer uma radiografia da atualidade do país, o presidente da CEAST disse que “os problemas socioeconómicos que desafiam, afligem e sufocam a vida dos cidadãos e das famílias são sobejamente conhecidos e devidamente identificados”.

Ele fundamentou que “os relatórios das dioceses e estudos sobre a nossa realidade social ilustram bem este quadro, a vida das famílias e dos cidadãos não está fácil”.

No seu discurso, Dom José Manuel Imbamba disse também que a produção interna “continua manietada”, a especulação dos preços dos produtos básicos continua em alta, afetando drasticamente o poder de compra dos cidadãos, as empresas angolanas continuam asfixiadas e muitas moribundas “por falta de ética”.

No capítulo da religião, ele afirmou que “tornou-se comércio e muitas igrejas transformaram-se em espaços de depravação, violência e desnorteio”, criticou.

“Esta é a nossa maior e a mais perigosa doença que lentamente nos vai corroendo por dentro”, concluiu o presidente da CEAST, cuja plenária termina a 4 de março.