Luanda - É cada vez mais alto o grito de socorro de muitas mulheres no nosso país. A violência sistemática sobre os corpos das mulheres é preocupante. As violações sexuais, a violência vicária (não alimentar os filhos e filhas, ao separar-se da mulher), violência doméstica, assédio sexual, pedofilia, casamentos forçados e muitas outras formas de violências exercidas diariamente sobre os corpos das mulheres, em uma sociedade patriarcal e heteronormativa, onde senão és homem, estas sujeita a todo tipo de humilhações, é verdadeiramente alarmante. Como exemplo, destacar o caso da cidadã Ana da Silva Miguel, conhecida como "Neth Nahara", uma mulher angolana, que tem denunciado, vezes sem conta, nas redes sociais a violência exercida sobre o seu corpo, por parte de um dirigente público. O caso é grave em toda a sua essência e, (a considerar sua versão), agrava-se mais ainda, pois, segundo a queixosa, os abusos datam desde o tempo em que a mesma era menor de idade. Este facto deveria fazer-nos repensar que tipo de sociedade e de país queremos. A coisificação do corpo das mulheres não deve ser algo habitual nem tão pouco normal. É um problema que requer a intervenção de todos os agentes sociais do país. As políticas de igualdade devem ser “mainstreaming” em todas as instituições públicas, devem estar presentes na consciência colectiva. O empoderamento da mulher, a igualdade de gênero, a equidade e a intercessionalidade, são aspectos sine qua non, do desenvolvimento do país.

Fonte: Club-k.net


A mulher angolana, não é apenas mãe, nem amante, nem dona de casa, nem subordinada à família e ao marido. A mulher angolana é muito mais que isto. A mulher angolana, sempre ocupou um lugar de protagonista da sua própria história em todos os campos da vida. Angola é o berço de uma das mulheres que melhor soube gerir os assuntos diplomáticos em África (Nzinga Mbandi). A mulher angolana defendeu com a sua própria vida, os seus valores culturais e a idiossincrasia do seu povo (Kimpa Vita). A mulher angolana defendeu a sua pátria contra os invasores colonialistas de forma individual ou filiadas nos partidos políticos (mulheres da AMA (FNLA), da OMA (MPLA) e da LIMA (UNITA)). As mulheres lutaram seguindo a linha das suas congêneres africanas que escreveram a sua própria história, defendendo com determinação e bravura a sua terra ao exemplo das guerreiras de Dahome, atual Togo e Benin. Este combate, das heroínas do glorioso passado, abriu as portas ao mundo das ciências e à toda a humanidade, com a criação da primeira Universidade (Fatima Imri- Marrocos), dirigindo com sabedoria e diligência os seus reinos (Asantewa, Zulu, Antananarivo...), só para citar algumas.


As mulheres por todo mundo, sempre lutaram pelos direitos que hoje cabe a todos e todas nós defender. Direitos impulsionados por mulheres como Simone de Beauvoir (França), o Rosa Parker (Estados Unidos da América), que com a valentia do NÂO, reforçou a luta pelos direitos civis naquele país. Mulheres fortes, que conseguiram reunir as suas companheiras de 17 países em 1910 em Dinamarca, para impulsionar os movimentos sociais de luta pelos direitos das mulheres e exigir o sufrágio universal (voto feminino) e enquanto se reuniam nos Estados Unidos, 140 mulheres morriam queimadas vivas, na fábrica onde trabalhavam, por exigir direitos laborais iguais. Passados 7 anos destes acontecimentos, ao finalizar a primeira guerra mundial, e vendo o balanço de mais de dois milhões de soldados russos mortos (filhos, maridos, irmãos...), as mulheres russas saíram à rua, exigindo pão e paz, facto este que marcou o que hoje o mundo inteiro celebra como o 8 de março, dia dedicado a pensar, fazer valer e respeitar os direitos das mulheres.


No caso específico de Angola, a luta ainda é árdua e os direitos conquistados, salvo aqueles considerados orgânicos, como é o direito ao voto, a participação política, empresarial e social, outros muitos como: -o direito a decidir sobre o próprio corpo (direitos sexuais e reprodutivos), sobre a orientação sexual, o assédio sexual nas ruas, no trabalho, a luta contra os pontos negros nas cidades ( melhor iluminação, para que andemos sem medo de noite pelas ruas) a elevação das penas por violação, pedofilia, casamentos forçados, trata com fins de exploração sexual e laboral e a violência física exercida dentro do lar e fora dele, todas, são tarefas urgentes a resolver. Nenhuma mulher do mundo deve ser violentada, única e simplesmente pelo facto de ser mulher.


É importante que a sociedade tome consciência e condene unanimemente todas aquelas violências exercidas sobre as mulheres, especialmente por aqueles homens que têm o dever de as defender e proteger como é o caso de (dirigentes públicos ou servidores públicos). Infelizmente estes mesmos senhores, na calada da noite ou à luz do dia, abusam da sua posição, para violarem sem dó nem piedade, aproveitando-se da situação de vulnerabilidade, causada por eles mesmos e o seu desgoverno. Abusam sexualmente de muitas mulheres, fazem com os seus corpos o que bem entendem, dando o pior exemplo possível às futuras gerações.


Não se pode deixar impune nenhum acto de violência exercido contra as mulheres, como foi o caso da mulher zungueira morta por um agente da polícia nacional (homem). Seguindo exemplos de movimentos sociais, como o “ME TOO”, DENUNCIEMOS todos estes actos.


Todos os dias uma mulher no nosso país é violentada, desrespeitada, humilhada, avassalada, traída, abandonada sozinha ao cuidado dos filhos e filhas... não esqueçam que não há vida humana neste planeta, que exista sem que uma mulher o tivera feito possível. Portanto, respeitemos a mulher.


Mulheres, nós somos capazes, fortes, lutadoras, valentes, inteligentes, bonitas, e sobretudo imprescindíveis. Não permitamos que ninguém nos obrigue a vender a nossa dignidade.


Nós nos queremos VIVAS. Nenhuma menos. A nossa luta é pelas que estão, as que já não vivem, as que não têm voz e as que nascerão.


Viva a mulher angolana, a mulher africana. Viva a mulher!!!


“Metade do mundo são mulheres. A outra metade os filhos e filhas delas”