Luanda - A Bíblia "God Bless the USA", endossada pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, exemplifica a preocupante tendência do cristianismo impulsionado pela celebridade. Este foco na celebridade subverte a mensagem central do cristianismo. Embora a tecnologia ofereça ferramentas valiosas para uma compreensão mais profunda da Bíblia, o alto preço da Bíblia endossada por Trump prioriza sua imagem sobre o conteúdo espiritual.

Fonte: Club-k.net

Este foco na celebridade estende-se além da mercadoria. Atletas expressando publicamente sua fé podem parecer admiráveis, mas atribuir vitórias exclusivamente a Deus confunde sucesso com favor espiritual. Da mesma forma, embora a fé do ator Denzel Washington seja louvável, avaliar o cristianismo com base em celebridades em vez de seus ensinamentos é problemático.


Esta tendência impulsionada pela celebridade é particularmente evidente nos Estados Unidos, onde observamos pastores sendo demitidos por criticar Trump, figuras políticas ganhando imensos seguidores com base em suas filiações religiosas, e figuras evangélicas participando de partidos seculares. Isso corrói os ensinamentos centrais do cristianismo e corre o risco de criar cultos de personalidade.


As minhas próprias experiências de infância na Zâmbia contrastam nitidamente com essa tendência americana. Quando jovem, lendo jornais e revistas, encontrei a presidência de Jimmy Carter, cuja fé sincera e ênfase nos direitos humanos exemplificavam princípios encontrados nos Evangelhos. Como Kenneth Kaunda da Zâmbia, Carter viveu esses princípios ao longo de sua vida, muito além de sua presidência. Em contraste, a Bíblia endossada por Trump parece estar divorciada de um envolvimento espiritual sincero.


Embora as ferramentas digitais possam proporcionar uma compreensão mais profunda da Bíblia, concentrar-se em endossadores celebridades enfraquece esse foco. Os cristãos devem estar cientes disso, priorizando a verdadeira essência da fé sobre associações superficiais com celebridades.


A interseção entre cristianismo e política levanta questões complexas sobre o papel da fé na vida pública. Em regiões como o Brasil e outras partes da América Latina, líderes cristãos exercem significativa influência política, às vezes levando a alianças preocupantes onde o apoio religioso é condicionado a favores políticos. Nos Estados Unidos, tradições como o Dia Nacional de Oração destacam a conexão entre fé e governança. Embora destinados como gestos simbólicos, tais eventos correm o risco de ofuscar as mensagens centrais do cristianismo com o atrativo do poder político.


Líderes cristãos frequentemente se envolvem em debates políticos sobre questões como aborto, sexualidade e género. Embora essas posições derivem de ensinamentos religiosos, podem entrar em conflito com avanços científicos e normas sociais em mudança. O desafio reside em equilibrar a expressão de convicções religiosas com o respeito por diferentes pontos de vista em uma sociedade pluralista.


É crucial para os cristãos engajados na esfera política articularem claramente suas posições de uma maneira respeitosa e compreensível para um público mais amplo. Suas ações políticas devem ser enraizadas nos princípios de sua fé, não apenas no desejo de poder. Nos Estados Unidos, a direita religiosa formou uma aliança notável com Donald Trump, frequentemente o apoiando visivelmente em comícios onde símbolos políticos e religiosos são exibidos lado a lado.


Apesar de enfrentar alegações que contradizem esses valores (como acusações de pagar a uma estrela pornô durante sua campanha eleitoral), Trump posicionou-se como defensor dos princípios cristãos. Isso, aliado a seus múltiplos casamentos e falta de envolvimento religioso público, levou alguns a questionar a profundidade de suas convicções cristãs.


Em contraste, o ex-presidente Barack Obama, apesar de enfrentar acusações infundadas de ser muçulmano, demonstrou uma conexão com a fé cristã, especialmente quando cantou “Amazing Grace” durante o elogio ao Reverendo Clementa Pinckney, e quando falou detalhadamente sobre a Bíblia. Este ato foi visto como uma expressão sincera de fé e solidariedade com a comunidade cristã.


O apoio da direita evangélica a Trump parece derivar mais de sua promessa de abordar suas queixas (preocupações com a liberdade religiosa, aborto e nomeação de juízes conservadores) do que de sua piedade pessoal. O desafio permanece para a direita evangélica articular essas preocupações de uma maneira que ressoe com os valores sociais mais amplos, em vez de depender apenas de figuras políticas para defender sua causa.