Kwanza-Sul  - Introdução: A língua, é veículo sócio – divino da alma; é caminho do pensamento e sentimento humano e transumanos; é também motivo de suma importância visto que, as condições sociais do contacto partem da necessidade de comunicação entre diferentes grupos etnolinguísticos através da língua.


Fonte: Club-k.net

Proposta  da denominação ideal da língua

De qualquer maneira, não é possível desenvolver uma determinada sociedade sem estabelecer intenso contactos económicos, políticos e culturais. Por este motivo, temos vindo a desenvolver uma intensa actividade de investigação científica, na tentativa de encontrar a verdadeira e ideal denominação da Língua Franca da Província do Kwanza-Sul.

 

A nossa grande preocupação reside no facto de a grande maioria da população reagir negativamente e com íra em relação ao termo “Ngoya” como nome da Língua da Província do Kwanza-Sul. Esta denominação foi dada sem contudo, se realizar um trabalho de investigação científica numa província, onde uma só língua tem muitos nomes.


A denominação certa de uma determinada língua baseia-se em critério sociolinguístico, pois deve ser determinada pela consciência colectiva correspondente, que consiste pelo facto dos falantes terem o conhecimento da língua que falam e concordarem com a denominação da mesma.


Origem da  grande maioria da  população do Kwanza-Sul (breve historial)


Com base nos dados recolhidos, dá-se conta que até 1930, os nativos da Kibala, falavam fluentemente a Língua Kimbundu, tal como se fala em Malange, motivo pelo qual, a referida população nativa, ter origem do Reino do Pungu-a-Ndongo.


O irmão do Ngola Kiluanji-Kya-Samba, chamado Kipala-Kya-Samba, por ordem do seu Soberano irmão aqui já referido, provavelmente, antes do Século XV, deixa o Pungu-a-Ndongo e parte com um grande grupo de homens e mulheres, atravessam o Rio Kwanza, na área chamada “Salto de Cavalo” e entram na região do Kwanza-Sul, ocupando a área da Kibala; o nome “Kibala” tem como termo original «kipala», por uma questão fonética da língua portuguesa, foi alterada para o termo «Kibala»; Kipala, significa “Rosto”; Kibala, é nome do seu fundador, o primeiro Soba da Kibala.


Depois da ocupação efectiva da Região da Kibala pelo seu primeiro Soba, Kipala-Kya-Samba (o que Significa filho da Samba), um dos membros desta Comunidade, chamado Katyavala Buíla, sem dar satisfação as autoridades politicas da Kibala, retira-se com um grande grupo de mulheres e homens e, funda o Reino do Bailundu, com toda a autoridade estabelecida, o que não contentou o Soba Kipala-Kya-Samba, anos depois, este organiza o seu Exército e invade o Bailundu, pondo em debandada as autoridades politicas daquele Reino, o que resultou a captura de mulheres e homens levados para Kibala como Reféns; o próprio Rei Katyavala, saiu deste ataque incólume tendo restabelecido novamente a sua autoridade politica. Assim sendo, com a presença dos reféns nativos do Bailundu em Kibala, que mais tarde deixaram de ser escravos, a língua Kimbundu funde-se com a língua Umbundu dando origem aos dialectos do Kimbundu e Umbundu falados na Província do Kwanza-Sul.

 

As autoridades da Kibala, não voltaram a atacar o Bailundu, pois o próprio Soba arrependeu-se de ter proporcionado guerra contra o Bailundu, uma vez que o seu fundador é seu parente.


 O Governo da Kibala era composto pelo Soba, Ministro de Guerra que residia na Aldeia de Muxingi na região de Kitambi 37 Km da Sede Municipal da Kibala e o Ministro da agricultura que residia na região do Tari, à trinta (30) Km da Sede Municipal da Kibala, com o poder do domínio da chuva em todo território nacional, este tinha o Título de Kwkwa-Kioko, e dava instruções mágicas a toda região do Kwanza-Sul assim como também em Malange, sobre as técnicas de como se faz parar a chuva.


Ainda dados também recolhidos, dá-nos conta que em 1914, os colonialistas portugueses, para criar dificuldades à população nativa, decidiram ocupar todas as terras férteis em toda província do Kwanza-Sul, de tal forma que os Autóctones tiveram que praticar a agricultura de subsistência nas montanhas, o que provocou uma grande penúria alimentar. O governo dos colonizados da Kibala, se reuniu estrategicamente em Muxingi, o Ministro da Guerra recebe ordens de atacar o Exército Colonial e destruir todos os objectivos económicos.


O Exército Colonial sofreu grandes baixas em campo de batalha, obrigado a negociar com o Soba Kandimba do Bailundu, que lhes deu o apoio militar e que conseguiu desvendar o segredo mágico do Ministro da Guerra da Kibala, chamdo Kapanga-a-Lunga, que depois disto já não conseguiam vitórias nas operações militares.

 
A ajuda que o Bailundu prestou aos invasores Portugueses, foi interpretada pelas autoridades da Kibala como traição à Pátria e aos interesses dos Negros, porque o Soba Kandimba mandou o seu Exército atacar e matar Negros iguais. Esta acção, minou o relacionamento entre a população da Kibala e a do Bailundu, em que quando se encotravam nas htongas (Grandes Rossas de cafeiros), os Kibalas não conversavam nem comiam com os Bailundu. Estes enfurecidos diziam: (Ove olo ngoya), o que significa dizer, “estes são gulosos por isso é que não aceitam conviver connosco.”


Ngoya, é um termo pejorativo com que os Bailundu insultavam e chamavam os Kibala, que na Língua Umbundu, significa: Guloso, oportunista ou individualista, pelo que não é nome de uma língua, aliás, nenhuma Língua Africana tem esta denominação, outrossim também é nome de uma montanha que fica situada na fronteira entre o Município do Waku-Kungu e o do Bailundu. 


Assim sendo, o Exército do Kapanga-a-Alunga foi vencido, ele e outros seus oficiais foram apanhados vivos, obrigados a lenharem e com as mesmas lenhas foram queimados numa pedra chamada Dand-ya-Kyawle (pedra onde o Kapanga-a-Alunga  e  os seus Oficiais foram queimados). Estes dados foram fornecidos pelo Ñgana-Ekete (que significa Anti-bala ou Senhor duro como ferro), e pelo Soba Kitumba de Kitambi, sendo o primeiro Ex-Oficial e sobrevivente da guerra do Kapanga-a-Alunga, também conhecida de guerra de Kandimba. Antigamente, isto é no período pré-colonial, o chefe Máximo da Kibala, não tinha o Título de Rei porque dependia já de um outro Rei, o Rei Ngola Kiluanji-Kya-Samba isto é, dependia do reino do Ndongo; em caso da morte do Soba da Kibala, o seu sucessor, tinha de ser empossado pelas Autoridades do Pungu-a-Ndongo, ao passo que todos os oito (8) Municípios que falam a variante Kibala, os seus Sobas eram empossados pelas autoridades da Kibala com excepção dos Municípios do Sumbe, Konda, Uku-Seles e Kassongue, que foram constituídos mais tarde e que falam o dialecto do Umbundu.

 


Conclusão


De acordo com resultados obtidos, na Província do Kwanza-Sul, a sua Língua é denominada em função do nome de cada município; assim, os da Kibala, dizem que falam a língua Kibala; os do Ebo, dizem que falam a língua Ebo; os de Mussende, dizem que falam a língua Sende; os da Gabela, dizem que falam a língua Mboim, etc.


De qualquer maneira, a variante Kibala é a mais falada como dialecto do Kimbundu, falado nos oito (8) Municípios da província (Kibala, Libolo, Mussende, Waku-Kungu, Ebo, Gabela, Kilenda e Porta-Amboim) com a excepção dos municípios do Sumbe Konda, Uku-Seles e Kassongue, que falam o dialecto do Umbundu.


 Atendendo que a Província do Kwanza-Sul possui dois (2) grandes grupos etnolinguísticos isto é, o grupo Ambundu e o grupo Ovimbundu, que motivaram a fala do Dialecto do Kimbundu e o de Umbundu, para se encontrar uma denominação ideal da língua  da referida região, passa necessariamente em aglutinar as denominações «KIMBUNDU e UMBUNDU» (Kimbundu + Umbundu = à Kimbundubundu), dois (2) dialectos falados na referida região, dando origem a palavra «Kimbundubundu», proposta como nome único da Língua Franca da província do Kwanza-Sul, de tal modo que se salvaguarde o equilíbrio étnico da região, capaz de proporcionar a unidade etnolinguística   e cultural da Província.


Persuadidos estamos que, a questão proposta merecerá o devido tratamento para se ultrapassar duma vez por todas, as reclamações por parte da grande maioria da população do Kwanza-Sul que nega a denominação Ngoya e, em nome da referida maioria opositora à esta pejorativa denominação, pedimos o obséquio de retirar denominação Ngoya, na grelha da Rádio Nacional de Angola tal como saiu na Rádio-Sumbe.

 

A Comissão Técnica

Dr. António Panguila
(Historiador e Escritor)

 

Avelino António Kalunda
(Consultor Técnico)

 
Luanda, aos 16 de Junho de 2010.