Luanda - Em entrevista à RFI em Paris, Rui Falcão, ministro do Desporto e da Juventude de Angola, disse que o país vai lançar em 2025 um programa para desenvolver desportos náuticos como vela ou remo e que, com empenho, os 24 atletas angolanos presentes nos Jogos Olímpicos podem obter bons resultados.
Fonte: RFI
RFI: Como foi assistir à Cerimónia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Paris?
Rui Falcão: Foi de facto uma abertura espetacular, principalmente pelo nível tecnológico que foi usado, mas foi sem dúvida um marco. Não só por ser a primeira vez que se faz fora do Estádio Olímpico, mas pela qualidade do espetáculo que foi.
Emocionou-o em alguns momentos?
Sim, em alguns momentos, sim. Houve inovação. Houve momentos de facto que nos tocam, principalmente quem é amante do desporto.
Quais são expectativas em relação aos aletas angolanos que participam nestes Jogos Olímpicos? Temos uma equipa de 24 atletas aqui em competição.
Regresso a Angola com um sentimento de que podíamos ter ganho o primeiro jogo contra a Holanda no andebol. Mas pronto, são as coisas do desporto. Eu espero que o engajamento seja seja maior e que possamos ultrapassar o Brasil e a Espanha, porque são equipas que estão ao nosso nível. Aliás, estas três equipas estão ao nosso nível. Se nós tivéssemos entrado com o ritmo que eu penso que podíamos ter entrado, seguramente o resultado teria sido diferente. Nas outras modalidades, modalidades individuais, a nossa expectativa é que todos que aqui estão batam os seus recordes individuais. Ora, se o conseguirem, é muito bom para nós. Pódio será muito mais difícil, como é lógico.
E como é que estas Olimpíadas estão a ser vividas em Angola? As pessoas estão a acompanhar, sabe se acompanharam a cerimónia de abertura, o Governo fez um esforço para tentar envolver os cidadãos nesta festa do desporto?
Eu fui recebendo mensagens de muita gente. Julgo que todos os amantes do desporto estiveram sentados à frente do televisor a ver a abertura. É de facto um momento marcante nas Olimpíadas e eu espero que agora continuem a ver o desenrolar das várias competições. Como sabe, são muitas modalidades. Têm a oportunidade de ver aqui os melhores atletas do mundo. Portanto, é um orgulho para uma geração que pode acompanhar este este nível de desenvolvimento.
É também uma motivação para os angolanos verem modalidades como o andebol, o remo, mas também natação, atletismo, judo, canoagem representadas aqui em Paris? É uma forma também de as divulgar?
Nós estamos a estabelecer agora um programa especial, particularmente para os desportos náuticos, que é o que menos se vê, embora haja alguns praticantes. São modalidades com pouca visibilidade e nós temos um programa especial agora para relançar mormente o remo à vela em 2025, no sentido de aumentar a base de praticantes e, com isso, naturalmente, melhorar no médio longo prazo a nossa prestação ao nível da competição internacional. Nas outras, não. As outras toda a gente vivencia, mormente o andebol, sabe que nós somos 12 vezes campeões africanos. Portanto, toda a gente sabe que as nossas pérolas são, são, são nosso garante ao nível do continente. Aqui, como lhe digo, se nós entrarmos com com garra, entrarmos com empenho nesta primeira fase, podemos fazer bons resultados.
Angola está a ser um bom aluno na questão da paridade. Isso é algo que era importante para si, ou seja, vir uma equipa olímpica equilibrada, tanto homens como mulheres, para também envolver cada vez mais meninas e mulheres no mundo do desporto?
Angola, nesse aspecto, é cada vez mais equilibrada. Sabe que mesmo ao nível dos órgãos de soberania há um equilíbrio muito grande. Para ter uma ideia, nós temos 46% de mulheres no Parlamento. Temos uma vice-Presidente da República, temos uma ministra de Estado, portanto estamos. Estamos bem. Nesse sentido, há sempre que melhorar. Aqui e ali. Não é tudo igual, mas a esse nível estamos bem e o desporto começa a reflectir. De facto esta organização ao nível do país e é muito bom.
Houve aqui em Paris uma conferência organizada sobre a questão do desenvolvimento e o desporto. Para si, pensa que o desporto pode ser um factor motriz do desenvolvimento e um desenvolvimento sustentável?
Naturalmente. Mas também tem outras facetas. Tem a faceta da empregabilidade, por exemplo. Nós temos é que saber aproveitar o potencial do desporto. O desporto é um manancial de áreas que podem ser exploradas, desde a medicina ao treino desportivo enquanto ciência. Há muito por onde andar. E isso nós estamos a tentar fazer.
Recentemente houve um escândalo de corrupção no futebol em Angola. Como é que o senhor ministro olhou para esta situação? Ainda não era ministro nessa altura, mas imagino tenha acompanhado, já que foi algo que esteve muito nas notícias. E como é que se consegue prevenir da melhor maneira a corrupção no desporto?
Eu tenho dito isso publicamente várias vezes que os próprios associados têm que escolher os dirigentes que querem e banir do desporto aqueles que são nefastos. Portanto, nós não temos contemplações. Aqueles que não servem o desporto devem ser irradiados. Ponto final. Essa é a nossa posição.
O senhor é ministro da Juventude e do Desporto. Portanto, quando falamos aqui de juventude, falamos de um país que é muito, muito jovem. Angola tem muitos jovens, muita potencialidade, mas que infelizmente, se calhar muitos desses jovens vêem as suas expectativas frustradas. A questão da empregabilidade, a questão da economia. Angola é um país com um nível de vida muito elevado face aos salários, especialmente para quem começa a trabalhar. Como é que o senhor ministro consegue ligar a estas duas coisas o desporto e os jovens? Mas também, por outro lado, dar aos jovens as condições de vida para que eles sejam satisfeitos e terem uma vida o mais tranquila e o mais serena possível.
Sabe que nós estamos agora na fase final do tratamento de dois programas concretos. Temos o Plano Nacional de Desenvolvimento do Desporto, que vai agora ao Conselho de Ministros para ser aprovado, que já mereceu discussão pública de todos os actores, incluindo jornalistas desportivos ou a indústria desportiva toda a gente participou e temos também em discussão pública o Plano Estratégico de Desenvolvimento Integral da Juventude. Portanto, sabe que os assuntos da juventude são assuntos transversais. O Ministério da Juventude e Desportos não trata tudo. Temos outros ministérios que têm responsabilidades imensas no domínio do emprego, por exemplo, no domínio da habitação. Nós temos que fazer é a coordenação das políticas juvenis do país. E aí estamos a tentar fazer no sentido de melhorar a prestação de serviço público que fazemos.
Teve aqui várias reuniões com altas entidades FIFA, o COI, o próprio encontro, provavelmente também o próprio presidente Emmanuel Macron. O que é que leva na mala para Angola e para desenvolver nos próximos tempos?
Não estive, infelizmente, com o Presidente Macron, mas estive com outros dirigentes. Tivemos aqui um encontro com a ministra francesa dos Desportos. São momentos particulares da vida de quem dirige o desporto. Foi bom, Partilhámos muito com muito óleo. Tive agora um almoço com com, digamos, o bureau do Comité Africano dos Comités Olímpicos e foi muito, muito profícuo. Trocamos muitas, muitas, muitas opiniões e acho que são convergentes no sentido de melhorarmos a relação que temos com o consórcio. Tivemos outros encontros privados com outras pessoas, com outras instituições, no sentido de discutirmos desporto. E foi muito bom. Foram momentos muito bons.