Luanda - Nesta quadra festiva do três de Agosto, a data do nascimento do Presidente-Fundador, Doutor Jonas Malheiro Savimbi, que nasceu em 1934, faz-me lembrar do dia 22 de Julho de 1970, na Base de Apoio de Lungué-Bungo, na Frente Leste de Angola, na Província do Moxico. Neste dia, em referência, nos encontrávamos na Base de Kassapua, onde nos reunimos para preparar a nossa deslocação à Orla do Rio Cuanza, nas áreas do Umpulo e de Ringoma, onde tínhamos uma implantação forte através do grande patriota e nacionalista, Regedor Augusto Kambimba. Um dia virei falar sobre os feitos patrióticos deste grande nacionalista, da Orla do rio Cuanza, do Povo Luimbi, do grupo étnico Nganguela.

Fonte: Club-k.net


Se a memória não me atraiçoa, estiveram presente nesta Reunião os seguintes dirigentes da UNITA e das FALA: Doutor Jonas Malheiro Savimbi, Miguel N’Zau Puna, Samuel José Chiwale, José Kalundungu, Moisés Njolomba, Salmão Mundisa, Carlos Tiago Kandanda, Eduardo André Sakuanda, José Canuel, Antero Kufuna Yembe, Jackson Tulyenu Fungamesso, Pedro Cunha, etc.


Nesta Reunião o Presidente Jonas Savimbi disse-nos que, a Base de Apoio da nossa luta de libertação vai manter-se aqui no Lungué-Bungo, que reúne as condições geográficas, que nos viabilizam consolidar e expandir o território libertado. Esta área é bastante estratégica em termos político, militar, logístico, estrutural e diplomático. Pois, ela está encostada ao CFB e nos permite sobretudo o acesso à Zâmbia que é fundamental para manter o contacto assíduo com os nossos diplomatas em África, na Europa e nos Estados Unidos da América. Daqui, temos o controlo absoluto do corredor entre o rio Lungué-Bungo e o rio Luanguinga, uma passagem vital e segura.


Além disso, é uma região vasta e remota, com uma população dispersa e de origem camponesa, assente na cultura angolana, sem a alienação do sistema colonial. Esta área estende-se ao Cuando-Cubango, ao Planalto Central e ao Norte do Caminho de Ferro de Benguela. Portanto, devemos prestar maior atenção à população local desta região do Lungué-Bungo que tem o papel muito importante na luta de libertação nacional, que levamos acabo.


Por outro lado, Doutor Savimbi dizia que, é imperativo consolidar a nossa presença ao longo do rio Cuanza para nos permitir implantar-se na Província do Bié que nos dá acesso às províncias do Huambo e de Malange. O Planalto Central é o coração de Angola onde atravessa o Caminho de Ferro de Benguela, que constitui o pulmão da economia colonial portuguesa, e que transporta os recursos minerais de Katanga e de Copperbelt. Uma boa parte das exportações e importações da Zâmbia passam pelo Corredor do Lobito. É por isso que, Kenneth David Kaunda e Mobutu Sese Seko estão muito zangados connosco.


Neste respeito, nós não podemos sacrificar a nossa luta em prol da Zâmbia e do Zaire. Eles já estão independentes e nós também temos que lutar, por todos os meios, para conquistar a nossa independência. Vocês sabem que a logística militar e a movimentação das tropas portuguesas estão a passar pelo CFB. Temos que proteger as nossas bases e as populações que estão nas nossas áreas libertadas.


Acima disso, é importante saber que, o Centro de Angola é a região mais populosa do país e rica na produção agrícola. Uma boa parte das Missões Religiosas estão concentradas no Planalto Central. Muitos dos quadros espalhados pelas Regiões Sul e Leste de Angola são provenientes do Centro de Angola. Portanto, é o grande celeiro em termos agrícola e em termos da densidade populacional. Neste momento precisamos de muitos jovens e muitos quadros para engrossar as nossas fileiras. Por isso, é mesmo urgente reforçar a nossa presença ao longo do rio Cuanza, que nos vai permitir perceber bem a situação do Planalto Central e do Litoral.


Antes de terminar a reunião, como de costume, Doutor Savimbi, num tom muito severo, dirigiu- nos as palavras, nos seguintes termos:
“Tenho uma percepção muito forte de que alguma coisa vai acontecer em Portugal. Seja qual for, temos que estar muito atento. Mas apenas digo-vos, se não lutarmos seriamente pelo nosso povo, nós seremos «excluídos»; o povo angolano será humilhado, reprimido, explorado e mergulhado na pobreza extrema; a opressão será mais severa do que do colonialismo português; digo-vos com toda a firmeza de que, a nossa luta é imperativa; essa luta é que vai determinar o futuro deste país; estou a dizer isso porque conheço muito bem os nossos irmãos do MPLA; eles pensam que são os únicos angolanos; são os únicos que devem libertar, dirigir e governar este país; vocês um dia irão acreditar nas minhas palavras; sei que, o nosso caminho não será fácil; este caminho será longo, será sinuoso e será sangrento; apesar disso, eu acredito na vitória final.” Dali, com as mãos dadas, cantamos a nossa canção revolucionária: Há Victória Para Nós.


De facto, quando saímos da Base de Kassapua, ao longo do caminho para a Orla do rio Cuanza, no dia 27 de Julho de 1970, as 13h00, através da Emissora Oficial de Angola, ouvimos que o grande déspota de Portugal, António de Oliveira Salazar, tinha acabado de morrer na Residência Oficial de São Bento, em Lisboa. Em função disso, a Direcçao do Partido redigiu um Comunicado sobre este acontecimento, cujo texto escrito a mão pelo Doutor Jonas Savimbi, foi- me entregue para seguir às áreas do Chatuika no sentido de datilográ-lo. A partir do Chatuika o Comandante José Canuel partiu de imediato à Zâmbia levando consigo o correio. Eu dei volta ao encontro da Direcçao do Partido que já se encontrava nas áreas do Chimbandiyanga.


Em síntese, para além de render a singela homenagem ao Presidente-Fundador da UNITA, Jonas Malheiro Savimbi, se hoje estivesse ainda em vida, no dia 03 de Agosto de 2024, ele faria 90 anos de idade. Honra e Gloria à Sua Memória.


Por outro lado, a quilo que nos tinha dito na Reunião de 22 de Julho de 1970, na Base de Kassapua, hoje em dia está mais evidente que nunca. O nosso país está de facto mergulhado na pobreza extrema; existe a exclusão política, social e económica; os angolanos são tratados de modo cruel e desumano; eles estão sujeitos à exploração excessiva dos estrangeiros que têm sob o seu controlo todo o sistema de exportação e importação de bens; o comércio formal e informal é igualmente controlado, dominado e manipulado por estrangeiros; a produção rural já está sob domínio dos estrangeiros; instalou-se empresas monopolistas que controlam todos os investimentos, toda a produção nacional, todos os meios de produção e ditam arbitrariamente as regras do mercado.


Na mesma óptica, a opressão está pior e mais severa do que do sistema colonial; a humiliação dos angolanos é repugnante; a inflação é elevadíssima; a corrupção é sistémica; as pessoas come nos contentores do lixo; existe uma classe opressora que pensa que é dona do país e tem direito absolutos e ilimitados; esbanja o erário público; enquanto o povo vive na miséria; morre da fome; morre da malnutrição; morre da falta de medicamentos; e morre do sistema precário da saúde pública; basta ir aos nossos cemitérios para ter uma noção clara da taxa elevadíssima da mortalidade em Angola; a criminalidade tomou conta do país; todos os dias o povo chora amargamente e clama desesperadamente pela Justiça; mas que nunca chega; o seu clamor tornou-se um mero eco no deserto; ao contrário, os julgamentos sumários, políticos e coletivos de angolanos inocentes estão na ordem de dia.


Este é o contexto real que se verifica em Angola que Jonas Malheiro Savimbi já tinha previsto ao longo da luta anticolonial; e nos chamava atenção constantemente daquilo que havia de acontecer neste país. Por isso, devido o seu espirito patriótico, a sua visão de longo alcance e a sua entrega total à Causa do Povo Angolano, Doutor Jonas Malheiro Savimbi tornou-se vítima do imperialismo internacional e do regime autoritário e corrupto. Paz a Sua Alma!


Como ele dizia, apesar da «odisseia», mas acredito na vitória final. Esta vitória do povo angolano contra o neocolonialismo não está muito distante. Levou muito tempo para o Povo Angolano tomar consciência. Mas já está acordado e já está de pé. Pronto para libertar-se do jugo do sistema neocolonial.


Luanda, 03 de Agosto de 2024.