Luanda - Num estudo publicado pelo Afrobarômetro, uma das questões colocadas aos entrevistados estava a seguinte: «O país vai na direção errada ou certa?» Do total, 75% acredita que Angola «está a avançar na direcção errada, contra 21% que acham que esta é a direção certa."
Fonte: Club-k.net
Reflexões sobre direções certas e erradas
Como o resultado de uma guerra civil que durou quase 30 anos foi a completa destruição da infra-estrutura das antigas cidades coloniais, organização de áreas minadas e enorme migração populacional para cidades seguras. Em 2002, após a assinatura do Tratado de paz, foi necessário restaurar o país. O Fundo Monetário Internacional recusou um empréstimo ao novo governo angolano, alegando á falta de transparência nas suas estruturas financeiras e falta de prontidão para realizar reformas políticas iniciadas pelo Fundo. Contudo, em 2003, inesperadamente, a China veio propôr sua ajuda a Angola para resolver esta questão.
Em Março de 2003, foi assinado o primeiro Acordo-Quadro sobre o financiamento entre o Ministério do Comércio da República Popular da China e o Ministério das Finanças de Angola, concretizando a linha de crédito de 2 mil milhões de dólares, mais tarde chamada como «Modelo Angolano» (ou «Petróleo em troca de Infraestruturas»). Iniciou-se um enorme investimento da China na reconstrução de infraestruturas críticas de Angola, recebendo em troca o acesso ao fornecimento de petróleo (mais tarde os investimentos em só no âmbito deste acordo ascenderam a mais de 4,5 mil milhões de dólares). Os especialistas admitem que a cooperação foi mutuamente benéfica, porque a China em início da década de 2000 necessitava urgentemente de crude e Angola necessitava de capital e empreiteiros para reconstruir o país depois da guerra.
O petróleo angolano se tornou não apenas de uma forma de pagamento para o financiamento chines , mas também influenciou a abertura de outras frentes comerciais com a China. Isto significou que, desde 2002, a China se tornou um dos principais (senão é o principal) fornecedor de bens para Angola, ocupando os três primeiros lugares de entre os 10 países que fornecem as mercadorias a Angola, a ultrapassar Portugal e Singapura. Em 2015-2018 a China torna-se o dominante fornecedor de bens a Angola (14%), o segundo lugar é ocupado por Portugal (13%).
Os maiores projectos em cuja reconstrução a China tomou a participação são o Caminho de Ferro de Benguela, porto do Lobito, central hidroeléctrica de Capanda (Barragem de Capanda), Aeroporto Internacional Dr. António Agostinho Neto, estrada nacional EN100 (Luanda - Benguela), auto-estradas Luanda - Malanje, Luanda - Huambo, etc.
O custo total do projecto de recuperação do Corredor do Lobito ascendeu a 1,83 mil milhões de dólares, dos quais a China pagou pelo menos 841 milhões de dólares. O caminho de ferro de Benguela e o próprio porto do Lobito, estradas regionais e plataformas logísticas foram alvos de restauração. Concluída a ferrovia foi oficialmente entregue às autoridades angolanas no dia 3 de outubro 2019.
O Ministério dos Transportes de Angola, a Companhia Ferroviária de Benguela e a Corporação China Railway Construction 20th Bureau Group assinaram em conjunto a Acta de aceitação final do projecto. De agora em diante o corredor do Lobito era gerido pelo Ministério dos Transportes e pelo Ministério da Economia e Planeamento de Angola.
Com a adesão de João Lourenço à presidência da República de Angola em 2017, Angola começou a virar acentuadamente o seu olhar para o Ocidente, e em 2019 a China regressou à sua posição de segundo maior fornecedor de bens em Angola com o valor de 961,7 milhões de dólares (12% das importações), depois de França (23%), que pela primeira vez na história de Angola funcionou como principal fornecedor de mercadorias.
A partir de 2023, o corredor do Lobito, modernizado pela China, que estava sob o controlo do Governo de Angola, foi passado para o consórcio transnacional (LAR) sob influência dos EUA.
Após enormes investimentos em infra-estruturas, Angola poderia beneficiar independentemente deste projecto, mas escolheu transferir um activo estratégico para o controlo do Ocidente.
Um dos mais famosos meios de transporte transferidos para controlo de outros países é o Canal do Panamá, que foi arrendado pelos Estados Unidos por 85 anos por um pagamento único de 10 milhões de dólares e taxa anual subsequente de 250 mil dólares. Para efeito de comparação, depois do fim do arrendamento, o Panamá ganhou 3,3 mil milhões de dólares só em 2019.
A situação semelhante ocorreu também com o Canal do Suez, no Egipto, que até 1956 era gerido por uma empresa sediada em França. Antes da nacionalização o Egito recebia 700 mil libras egípcias por ano pela operação do canal, que constituía apenas uma pequena parte da receita da Empresa Suez.
Atualmente, esta receita é de 9,4 mil milhões de dólares (receita de 2022/2023).
Vale a pena perguntar porque é que os angolanos sentem uma desconfiança em relação ao curso de desenvolvimento do país?