Luanda - Os criminosos mais perigosos, na Idade Média, eram enterrados com as mãos e os pés amarrados. Ainda há, pelo mundo, regimes autoritários que usam esta prática. Não para delinquentes comuns. Mas para desonrar os seus adversários políticos e os seus descendentes. O acto de enterrar alguém algemado representa(va) a desonra que o desventurado carrega(va) até à morte.

Fonte: Club-k.net

José Eduardo dos Santos, antigo chefe de Estado angolano, morreu aos oito de Julho de 2022 no Reino da Espanha, vítima de doença. Não foi algemado. Mas é como se tivesse sido. Os familiares, amigos e antigos colaboradores estavam, terminantemente, proibidos de visitar o jazigo onde se encontra o seu corpo.

 

A Direção da Fundação Eduardo dos Santos (FESA) pediu recentemente permissão à Presidência da República para visitar o sepulcro do seu Patrono e (ainda) presidente emérito do MPLA: José Eduardo dos Santos! O Palácio da Cidade Alta anuiu ao pedido. Aleluia!

 

Aquando da sua morte em Espanha, o Executivo criou todas as condições inapropriadas para que o seu corpo fosse transladado para a capital angolana. Puseram-no no porão de um avião comercial. Feito uma carga qualquer. Posto em Luanda, não houve um protocolo à dimensão do que foi José Eduardo dos Santos. Durante um período de quase quatro décadas, foi o rosto mais visível do Estado angolano e do MPLA.

 

Os seus indefectíveis não se fizeram presente ao aeroporto. O partido (MPLA) não se fez presente. Dos seus antigos colaboradores, nem vivalma. Uns por medo. Outros por ingratidão. Traição. Por aparente lealdade ao “novo senhor”. O seu “fiel escudeiro”, General Antonio José Maria, não foi ao aeroporto. Já tinha a Justiça à perna. Creio que já tinha sido condenada à prisão domiciliar. Não fosse isso, estou certo e seguro que far-se-ia presente. Todos aqueles a quem José Eduardo dos Santos deu de “comer” e transformou em gente não foram homenagea-lo. Uma forma “simpática” de pagar com traição ao seu benfeitor. Mais ou menos quando o cão morde a mão do seu próprio dono.

 

Saúdo o facto de o Presidente João Lourenço ter permitido que, de ora avante, familiares e amigos possam visitar a arca funerária onde (não) repousa o corpo de José Eduardo dos Santos. É uma boa iniciativa. É uma espécie de “soltura” que se dá ao antigo presidente, “preso” mesmo depois de morto. É um bom passo para (re)conciliação entre João Lourenço e a família de José Eduardo dos Santos. Uma iniciativa louvável que vai cair no goto de alguns militantes do MPLA que não gostaram nem um pouco mais ou menos da forma como o seu presidente emérito foi (des)tratado antes, durante e mesmo depois da sua finitude.

 

Encomendemos, pois, uma Missa de Acção de Graças. O Presidente João Lourenço “libertou” o corpo de José Eduardo dos Santos. Colocou um fim à humilhação a que submeteu o presidente emérito do MPLA e à sua família. Finalmente! Acabou a vontade de João Lourenço mostrar que com o poder que tem em mãos não se brinca. Prova disso é o facto de ter colocado um ponto final à punição “pós-mortem” de José Eduardo dos Santos. Aleluia! Hosana nas alturas! O morto foi “libertado” pelo condenado vivo!