Luanda - O Muro de Berlim foi derribado aos nove de Novembro de 1989. Estava dado o sinal dos tempos. O mundo deixaria de estar dividido entre Ocidente e Bloco do Leste. O advento deixou o Presidente da República Popular de Angola de sobreaviso. José Eduardo dos Santos estava atento às transformações geopolíticas. Angola tinha de acompanhar a passada. Para tal socorreu-se da experiência política, acadêmica e técnica de quatro quadros jovens do partido (MPLA) para conceber as “cláusulas pétreas” para mudança de Sistema: João de Azevedo de Almeida Martins (Ju Martins), Marcolino José Carlos Moco, Virgilio de Fontes Pereira e Bornito de Sousa.

Fonte: Club-k.net

Esses foram os “jovens turcos” que conceberam o regime que levou os dirigentes do MPLA a trocarem, às pressas, a balalaika (goiabeira) por fatos e gravatas. A gostar de dólares norte-americanos e a fazerem de Portugal seu país de residência. O lema era (ainda é) ganhar dinheiro em Angola e gasta-lo à grande e à angolana nas lojas mais caras da Avenida da República em Lisboa. Fizeram com que o passaporte angolano também passasse a ser válido na África do Sul. Foram eles os arquitetos do regime democrático vigente em Angola.

 

João Lourenço quer dar uma guinada ao partido. Quer entrega-lo aos jovens. Mesmo sabendo que muitos destes jovens podem espatifar o partido. O País também. Não têm o mesmo traquejo político que Ju Martins, Marcolino Moco, Virgilio de Fontes Pereira ou Bornito de Sousa tinham e têm. Não têm o mesmo grau de responsabilidade e convicção ideológica. São patrioteiros. Mas não são patriotas. É preciso ter cuidado. O presidente do partido e da República tem mau dedo. Tem azar na escolha dos seus colaboradores. Até aqui só escolheu medianos para auxilia-lo. Só “inventou” fracassados. Então, atenção. Muita atenção às suas escolhas.

 

João Lourenço pode indicar quem quiser para substitui-lo. Mas não deve fazer tábua rasa aos estatutos do partido. Eles permitem múltiplas candidaturas. É preciso respeitar isso. Os candidatos à liderança do MPLA são, à partida, aspirantes naturas à Presidência da República. Por isso devem ser sabatinados pelos cidadãos-eleitores. Têm de conceder entrevistas para que se saiba quais são as suas visões e valores para o País. As suas ideias sobre a Economia e a Saúde do País. Têm de revelar o seu pensamento sobre a posição de Angola no concerto das Nações. O País precisa de saber se o candidato tem destreza intelectual e habilidade política. Jogo de cintura. Clareza no pensamento.

 

Essa regra deveria ser extensiva a todos futuros governantes e embaixadores. Desta forma pouparíamos o País da humilhação que às vezes é sujeito. Cá dentro e lá fora. “Falar bonito” na TV ou lisonjear o TPE e aparecer nas actividades do partido no poder não pode continuar a ser condição “sine qua non” para ser governante. É preciso acabar com isso. Urge valorizar a meritocracia em detrimento da subserviência.

 

O País está cansado de comprar “gato por lebre”. Está farto de ver trolhas transformados em políticos no lugar de técnicos de que o País precisa como do pão para o estômago.