Luanda - Quem é Jonathan Okeke Chimakonam?

Fonte: Club-k.net

Jonathan Okeke Chimakonam é um filósofo africano contemporâneo, natural da Nigéria, amplamente reconhecido por suas contribuições à filosofia africana, particularmente no desenvolvimento da lógica africana e na promoção do que ele chama de "Filosofia Africana Sistemática". Chimakonam defende uma abordagem filosófica que combina elementos da tradição africana com conceitos modernos, buscando uma identidade filosófica própria para o continente.

Ele é um defensor da descolonização da filosofia e acredita que a filosofia africana deve ser analisada de acordo com seus próprios paradigmas, sem se basear excessivamente em categorias ocidentais. Um de seus principais trabalhos é sobre a lógica Ezumezu, uma forma de lógica complementar que busca desafiar e expandir as limitações da lógica clássica ocidental, que se baseia em princípios binários de verdadeiro ou falso.

Chimakonam é também conhecido por suas propostas de renomear o continente africano, argumentando que o nome "África" tem origens coloniais e racistas, propondo "Anaesia" como uma alternativa para reafirmar a identidade do continente e romper com os legados coloniais.

Além de sua produção filosófica, Chimakonam é activo na promoção da filosofia africana a nível global, fundando e participando de várias redes académicas que visam dar visibilidade à filosofia e aos filósofos africanos. Ele é autor de diversos artigos e livros que exploram a epistemologia, ética e lógica africanas, sempre buscando integrar essas tradições em uma filosofia global.

Chimakonam é professor e pesquisador em várias instituições ao redor do mundo, incluindo a Universidade de Calabar, na Nigéria, e colabora com várias outras instituições de ensino superior e de pesquisa em filosofia ao redor do mundo.


Causas do debate

Os filósofos africanos argumentam que o termo “África”, tem origem nos exploradores e colonizadores europeus.

"Os africanos devem ser chamados de negros ou a categorização das pessoas pela cor da pele é uma prática racista? E quanto à África? O nome do continente é uma injúria racial porque foi escolhido pelos exploradores europeus e baseado no clima, e não nas pessoas, e deveria ser renomeado?”, indaga Chimakonam.

O nome “África” é derivado do grego “aphrike”, que significa “sem frio”, e do latim “aprica”, que significa “ensolarado”, o que remete ao clima e não à cultura e à história dos habitantes.

Chimakonam e o co-autor da proposta ressaltam que a nomenclatura, frequentemente usada para descrever povos e lugares, pode carregar conotações pejorativas.

O nome “África”, de acordo com eles, foi imposto sem considerar a riqueza cultural e histórica do continente, o que se transformou em uma forma de rebaixamento.

Os filósofos comparam com outros termos históricos, como “aethiops”, que significa “rosto queimado pelo sol”, sugerindo uma percepção negativa e racialmente carregada dos africanos.

Reparar uma injustiça
Com o objectivo de reparar o que eles consideram injustiça, os filósofos propõem um novo nome para o continente: “Anaesia”, derivado das palavras “ana” e “esi”, que significam “terra” ou “local de origem”. Esta seria uma das alternativas.

Assim, a nova denominação enfatizaria o papel da África como o berço da humanidade e do desenvolvimento das primeiras línguas.


Centralização do debate

Como seguidor do panafricanista Jonas Malheiro Savimbi, concordo na plenitude com a visão dos filósofos africanos modernos como Jonathan Okeke Chimakonam, quanto a descolonização da filosofia africana que se coloca na perspectiva de combinar elementos da tradição africana com conceitos modernos, buscando uma identidade filosófica própria para o continente.

Acrescida a esta verdade, junta-se o facto da África estar filosófica, política, económica, social e culturalmente na encruzilhada entre a África pré-colonial e a África colonial.

Outra realidade é a de que as duas Africas caminharam e ainda caminham juntas até no presente.

Assim sendo, como combinar a tradição e a modernidade representadas pela África pré e pós-colonial, quando se fundam razões dos problemas no peso do significado da palavra África pelo simples facto de ter sido dado por colonizadores europeus?


CONTRIBUIÇÃO CRÍTICA À FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA AFRICANA SISTEMÁTICA EM RELAÇÃO A "ANAESIA"

ÁFRICA OU ANAESIA eis a questão!

O filósofo nigeriano Jonathan Okeke Chimakonam é conhecido por propor conceitos inovadores no campo da filosofia africana, e um dos seus argumentos está relacionado com a ideia de "Anaesia" como alternativa ao termo "África". Segundo Chimakonam, o termo "África" carrega com ele uma carga colonial e histórica que pode ser vista como opressiva e redutora para a identidade plural e dinámica dos povos e culturas que habitam o continente. Ele propõe "Anaesia" como uma reimaginação filosófica que oferece um nome que não está vinculado ao legado colonial europeu e que pode servir como base para uma nova compreensão da filosofia africana.

A partir dessa perspectiva, o uso de "Anaesia" reflecte a tentativa de se desenvencilhar das narrativas impostas pela colonização, buscando um sentido de identidade mais autêntico e autónomo, enraizado nas próprias tradições, histórias e epistemologias dos povos do continente.

Minha opinião sobre esse debate é que ele traz uma questão importante para a superfície: a necessidade de reflectir sobre como os termos e conceitos que usamos moldam nossa compreensão de identidades e culturas. A proposta de Chimakonam é uma contribuição crítica à filosofia africana contemporânea, na medida em que incita uma reflexão profunda sobre a descolonização da linguagem e do pensamento. Embora a ideia de "Anaesia" possa não ser amplamente aceite ou adoptada de imediato, ela abre um espaço valioso para a discussão sobre a autonomia intelectual e cultural das sociedades africanas, desafiando os conceitos ocidentais enraizados na maneira como o continente e seus povos são vistos.

A partir do momento que Chimakonam coloca a provocação Anaesia em vez de África para incitar uma reflexão profunda sobre a descolonização da linguagem e do pensamento, surge a minha interrogação da razão da descolonização em África se situar ao nível da essência, da forma ou da essência e forma da linguagem e pensamento africano?


A MINHA PERSPECTIVA

Na minha perspetiva, a descolonização em África deve envolver tanto a essência quanto a forma da linguagem e do pensamento africano. O processo de descolonização vai além das estruturas formais e superficiais, buscando uma transformação profunda que atinge os fundamentos das práticas culturais, epistemológicas e filosóficas do continente.

Assim, quando quando se aborda a essência, da descolonização da linguagem e pensamento africano, tem de se recuperar e revalorizar as epistemologias, as cosmologias e os sistemas de pensamento africanos pré-coloniais que foram marginalizados ou suprimidos durante o período colonial. Isso implica uma reinterpretação dos conceitos filosóficos e espirituais que foram reinterpretados ou distorcidos através de lentes coloniais. Por exemplo, a maneira como os africanos compreendem a existência, o ser, o tempo, a comunidade e a natureza pode ser profundamente diferente das visões ocidentais.

A descolonização da essência deve buscar a restauração desses entendimentos dentro de seus próprios termos culturais e filosóficos, permitindo que os africanos pensem a partir de suas próprias tradições e não de padrões impostos.

Quanto a forma da descolonização da linguagem e do pensamento africano refere-se às estruturas e mecanismos pelos quais o pensamento africano é articulado e transmitido. Isso inclui a língua, a escrita, as práticas académicas e pedagógicas, bem como os sistemas institucionais de conhecimento.

A colonização muitas vezes impôs línguas europeias (como o inglês, o francês e o português) como meio predominante de comunicação e aprendizado, o que resultou na marginalização de línguas africanas e de modos de transmissão de conhecimento oral.

A descolonização da forma inclui a recuperação e promoção de línguas africanas e de formas tradicionais de conhecimento (como a oralidade e a prática comunitária), além de desafiar as formas ocidentais de organização do saber, como os currículos académicos euro-centricos.

Finalmente, a descolonização da linguagem e do pensamento africano refere-se ao processo mais completo de descolonização que deve abordar tanto a essência quanto a forma, já que elas estão interligadas.

Por exemplo, o simples facto de traduzir conceitos ocidentais para línguas africanas não basta; é necessário questionar se esses conceitos têm relevância nas culturas africanas ou se a epistemologia subjacente precisa ser reconsiderada. Da mesma forma, a promoção das línguas africanas precisa vir acompanhada de uma transformação das estruturas do conhecimento que permita a expressão plena das filosofias e sabedorias africanas em suas próprias condições, e não apenas como eco das estruturas ocidentais.

Portanto, a descolonização em África é um processo abrangente, que deve actuar tanto na essência do pensamento, resgatando suas raízes filosóficas e epistemológicas, quanto na forma, questionando os mecanismos e estruturas usados para expressar e disseminar o conhecimento. É um movimento integrado que visa redefinir a identidade africana em seus próprios termos, rompendo com os legados estereotipados africanos e coloniais tanto nas ideias quanto nas formas de comunicação.

Desta forma, fundamento a razão das duas Africas, a pré-colonial e a colonial, de caminharem juntas na descolonização da essência e forma da linguagem e pensamento africano na perspectiva da cientificidade que a África pós-colonial projecta para seu futuro e não apenas na birra do afro-centrismo.

Por mim, o conceito África deve prevalecer em relação a Anaesia num quadro que perspectiva a ideologia do panafricanismo renascentista que descoloniza a forma e a essência da linguagem e do pensamento e se estende para a revolução democrática no âmbito do Estado Democrático de Direito na perspectiva Africana.

A África já tem feito alguma caminhada fundamentada, que vem desde os primórdios das lutas anti-coloniais, passando pelas independências dos seus estados e actualmente com o aprofundamento das repúblicas democráticas de direito e integração regional. Factos bastante relevantes na perspectiva da descolonização africana.

OBRIGADO!