Maputo - Domingos Manuel do Rosário, chefe do departamento de ciências políticas e administração Pública da Universidade Eduardo Mondlane, em conversa com o Semanário Angolense, esgrimiu seu ponto de vista sobre o Ensino em Moçambique, manifestando algum sete cismo em relação ao futuro da formação universitária naquele país do Indico, sobre pelo facto da Universidade Eduardo Mondlane, ter adoptado a convenção de Bolonha sem ter havido uma discussão profunda antes desta adesão, quanto a investigação cientifica aquele jovem académico receia que as consultorias venha a substituir a investigação cientifica, que seria a morte desta, estas e outras questões são aqui abordadas de forma frontal pelo Drº Domingos Manuel do Rosário, doutorado em Ciências Politicas em Bordeau.

 

Fonte: SA

S.A- Enquanto professor e chefe do departamento de ciências politicas e Administração publica da Universidade Eduardo Mondlane, que avaliação faz do ensino superior produzido aqui em Moçambique?

 

D.R- Bem, o ensino superior é um grande problema aqui, por uma questão muito simples, primeiro pela proliferação de universidades sem qualidades, mas percebo que a ideia era de responder a um objectivo político, que é o de massificar e massificar o ensino superior, por um lado é uma opção política que se pode considerar razoável, porque os números mostram e apontam que o acesso ao ensino superior por parte dos moçambicanos devia atender a estes princípios. Então, o governo está preocupado com isto, mas o problema é que não existe uma espécie de acordo entre aquilo que são as pretensões do próprio Governo de querer massificar o ensino superior e melhorar a qualidade por um lado das instalações, por outros lados dos próprios professores, este é o primeiro grande problema. O ensino secundário está partido e os alunos que saem do ensino secundário já não têm qualidade, imagine em três anos a luz deste processo de Bolonha qual é o tipo de estudante desde o licenciado e mestrado que nós vamos ter para sobretudo fazer face aos desafios desta grande integração regional de que tanto se fala aqui em Moçambique, e também a maneira como a Universidade está e próprio ensino superior, também pode estar relacionado com o sistema que eu não quero me pronunciar muito que é o tal processo de produção e circulação das elites do país, poderá muito relacionado com isto, porque as pessoas que se beneficiam deste ensino que cada dia que passa vai se degradando e de má qualidade são os filhos da classe baixa e dos pobres, e qual é a probabilidade com uma escola má que os filhos e uma classe media atendendo e considerando que o ensino superior é uma oportunidade para as pessoas desenvolveram as suas capacidades e ter condições de concorrer numa economia um bocadinho mas livre e com conhecimentos, quando a Universidade agora não serve para adquirir nenhum conhecimento, é apenas para adquirir um diploma que é um problema da febre d própria sociedade, que se tornou numa sociedade de diplomas, em que se valorizam os diplomas em detrimento dos conhecimentos técnico e científicos das pessoas, do meu ponto de vista pode a ver muita massificação para se atingir os objectivos do milénio, mas a qualidade é muito fraca, e isto compromete muito o desenvolvimento do país.

 

S.A- Que paralelismo se pode traçar entre a declaração de Bolonha e a Carta de Arusha?

 

D.R- Não, a carta de Arucha, eu não sei se existe um paralelismo que se pode estabelecer, eu quando falo da carta de Arucha, é porque era importante no sentido dos pronunciamentos de Julius Nherere, não é assim? Em que um dos grandes objectivos plasmados na carta de Arucha era sobretudo o ensino que ele propunha que era critico ao ensino colonial que era um ensino de diploma, e não aquele ensino que de facto dava instrumentos aos estudantes para poderem se inserir no mercado de trabalho, e isto é o que estamos a ver de novo agora, o ensino de diploma, eu não sei se há um paralelismo que se pode estabelecer entre a declaração de Arucha e a Convenção de Bolonha, preocupa-me mais é o tipo de ensino que a declaração de Arucha tentava sobretudo no pensamento de Julius Nherere, que foi implementado na por Djama Há, que era uma critica a este ensino colonial, é o que está acontecer, então, a sociedade sobretudo aqui em Moçambique está mas preocupada com o diploma do que com o saber, é valorizado um individuo que tem o diploma em detrimento de um individuo que de facto sabe fazer. Então, paralelismo com Bolonha pode ser um bocado fazer, talvez entra no rol, na medida em que na declaração de Bolonha também o que acontece é que as pessoas em muito pouco tempo um diploma, mas um diploma desculpe lá, não sei se já ouvi falar de gigante de pernas de barro, há-de ser isto mesmo, os estudantes afectos a declaração de Bolonha, se não tomarem a serio o ensino, eles não procurarem investigar a serio como as ferramentas hoje postas a disposição e outros meios complementares de pesquisa e aprendizagem e porque o ensino agora está centrado nos estudantes, eles devem aproveitar esta grande oportunidade para além daquilo que a Universidade pode oferecer, eles também devem procurar formas independentes de encontrar os conhecimentos.

 

S.A- Moçambique tem neste momento trinta e oito Universidade, como é elas vão em termos de investigação científica?

 

D.R- Risos…! É uma pergunta muito interessante, que me faz, porque nem a própria Universidade Eduardo Modlane, faz de facto investigação, porquê? Porque não tem orçamento para investigação, se tiver algum orçamento para investigação, são projectos financiados por algumas instituições, que por vezes têm as suas exigências, por exemplo a nível do departamento a investigação independente e particular que é feita pelos seus docentes em parceria com algumas instituições de fora, apesar de que na política da própria Universidade tem a componente da investigação, mas tem um grande paradoxo aqui, se você não paga bem a um professor, ele nunca se vai dedicar a investigação o professor vai procurar meios alternativos de sobrevivência que são hoje as consultorias que permite então que ele consiga auto-sustentar-se e sobreviver como um ser social.

 


Agora, investigação de facto a U.E.M, tenta fazer de modos muito aquém do que devia, mas na verdade eu não tenho conhecimento exacto, mas eu tenho algumas reservas e nunca ouvi falar de qualquer seminário organizado por outras Universidades cá, em que facto se diz que vamos produzir conhecimento fruto de uma investigação, não tenho o domínio de todo sistema de ensino aqui, mas duvido que isto acontece, não tenho nenhuma noticia sobre isto, a U.E.M, tenta fazer sim senhor, repito mais uma vez, é preciso melhorar as condições sócias dos professores e maneira que eles tenha tempo para se dedicarem a investigação cientifica, de contrários os professores vão se dedicar mais as consultorias e a consultoria mata a investigação cientifica.

 


S.A- Há uma questão que tem a ver com os cursos de pós graduação, Moçambique pelo que sei, já tem cursos de mestrado e até de doutoramento, como é que têm sido ministrado estes cursos?

 

 D.R- É tudo brincadeira isto, estes mestrados e doutoramentos isto é mas politico do que académico, é mais politico do académico por uma questão muito simples, porque os próprios Ministérios e ONG´s, Instituições do Estado e outros organismos privados que queiram que os seus funcionários de facto tenham capacidade para fazer face a interacção regional têm que procurar maneiras de deixar com que os seus funcionários sejam de facto estudantes a tempo e inteiro no mestrado, porque é inconcebível e quase que impossível que um estudante das 7h30 as 15h30, está no seu sector de trabalho e das 16 as 20 horas, está aqui na Universidade e vai para casa, é mãe ou pai tem família não tem tempo se quer para estudar, a fim de ser pelo menos um estudante razoável para merecer um diploma de mestrado. Então, uma coisa é certa se temos os objectivos de milénio atingir sim senhor, este ensino, estes mestrado e doutoramento são cursos apenas políticos e não académicos.

 

S.A- Mas Moçambique apesar do seu cepticismo, foi o único dos PALOP´S que aparece no ranking das 100, melhores Universidades africana, sei que a três anos atrás estavam numa situação bem mais privilegiada, estavam em 23, hoje estão em 43, que leitura é que faz deste quadro professor?

 

D.R- Isto reflecte aquilo que eu lhe disse, a Universidade hoje em dia já não produz investigação, os professores que estão aqui são meio professores, meio “biscateiros” então se você não produz investigação, uma Universidade é avaliada pela quantidade e qualidade de investigação que produz, o que está acontecer agora com a U.E.M, é reflexo da falta de politica do ensino superior por parte do Governo, o Governo não tem uma politica do ensino superior, não tem uma politica do ensino superior de facto, uma politica do ensino superior deve prevê um remuneração, eu agora estava numa Residencial School, no Uganda onde eu esteve com professores de muitos países, e ficaram escandalizados que ficaram a saber o quanto é que recebe um professor auxiliar aqui na U.E.M, que chega a ser três vezes menos o que recebe um professor que nem sequer é auxiliar, assistente recebe, nas universidades do Quénia, por exemplo, então qual é a motivação que os professores poderão produzir investigação para aumentar o Ranking, desta Universidade se a outra parte que é o Governo não está fazer a sua parte? Os professores têm as suas famílias têm que dar de comer as suas famílias. Então, o que está acontecer agora, este rebaixamento no Ranking por parte da U.EM, é reflexo da falta de política do ensino superior que não está sendo adoptada neste país.

 


S.A- Nestas circunstâncias Moçambique, arrisca-se a padecer da fuga de cérebros?

 

D.R- Não há duvidas nenhumas, as pessoas têm duas saídas, ou volta para aqui e trabalha na Universidade, porque quer ter prestigio, porque tem prestigio trabalhar na Universidade, mas prestigio não enche a barriga de ninguém. Então, o que é que as pessoas fazem? Fingem que são académicas porque estão na Universidade, vêm dar aulas, mas têm um contrato com uma empresa de consultoria que vai lhe dar dinheiro. Então, nós também podemos dizer que há um bocadinho de fuga de cérebros, porque de facto alguém que sai vai fazer um doutoramento o seu lugar é na Universidade, o seu lugar não é numa ONG, ou numa Embaixada, assumir funções Administrativas, eu duvido que um individuo tenha saída para Europa, ou para América, fazer um doutoramento tenha que submeter as pressões de trabalho de uma ONG, ou de uma Embaixada, mas como são as Embaixadas e ONG´s que pagam um bocadinho mais, e pronto, é verdade que agora Moçambique tem outra face, tem alguns Instituto de  investigação que estão a começar a surgir, estou a falar do IESE, por exemplo, que é um Instituto de Investigação que é muito violento no âmbito da pesquisa cientifica, isto é muito bom, mas quanto a Universidade como tal, ela conta com quadros jovens meio progressistas que acreditam que esta Universidade ainda pode ser alguma coisa, e que estão aqui a tempo inteiro, depende também do tipo de perspectivas que as pessoas pretendem construir ao longa das suas carreiras e vidas não é? Que sempre alimentaram um sonho que é o de construir a carreira na Universidade, mas pronto é preciso ter grande estômago, porque condições para isto não existem. Portanto, a fuga de cérebros já é uma realidade, existem casos pessoas que deviam estar a tempo inteiro aqui, fazer carreira aqui, mas privilegiam o emprego que têm fora, porque remunera melhor.

 

S.A - Que vantagens teriam as parcerias Publico-privado, em termos de investigação científica aqui na U.E.M?

 

D.R- Sim, sobretudo a nível da Universidade, eu penso que no Centro de Estudos Africanos, estas parcerias sobretudo no sector das ONG´s, tem sido muito bem aproveitas, a nível dos Centro de Estudos Africanos com o professor Carlos Serra, em cada contrato de consultoria que lhe era solicitado por uma ONG, ou organização Internacional, no contrato ele tinha ele tinha que depois produzir a consultoria em conhecimento científico, isto é publicado num livro, e isto foi muito importante sobretudo na transformação de consultoria em conhecimento científico e foi muito útil para os estudantes, que nós a nível do departamento estamos a tentar capitalizar neste sentido.         

 

S.A- Vocês contam com a parceria de docentes estrangeiros cá na U.EM?

 

D.R- Agora diminui muito, diminui por uma questão muito simples, por se for a ver Moçambique investiu muito nos últimos anos no envio de professores que tinham o nível de Licenciatura de Mestrado para se formarem no exterior, como França, Estados Unidos, Inglaterra. Então, professores estrangeiros são muito poucos contam-se com os dedos da mão, ao nível do nosso mestrado, dado somente pelo staff local, o mestrado em Administração Publica e Governação, é todo dado pelo staff local, nós temos este nível de exigência para dar estas pós graduações devem ser doutores, para dizer que as pessoas como tal existem.

 


S.A- Quantos mestrados tem sido leccionado aqui no departamento de Ciências Politicas e Administração?

 

D.R- Nós temos um mestrado em Administração Publica e Governação, que depois do segundo ano tem especialidades, uma em políticas públicas, e outra em governação, com cerca de 70 estudantes.

 

S.A- Qual é o tempo de duração dos mestrados aqui na U.EM?

 

D.R- A duração é de dois anos.

 

S.A- Com a convenção de Bolonha quem ganha com esta convenção?

 

D.R- Eu penso que ainda não é altura exacta para se adoptar, porque Bolonha ainda é controversa na própria Europa, como é que uma politica pública que é controversa do local onde ela vem pode ser implementada num país como Moçambique, atenção! Bolonha, é fruto de uma discussão num ambiente próprio, e numa cultura própria, de uma história local, não pode ser transposto de uma maneira como se fosse uma espécie de past copy, como se Moçambique fosse Europa ou como se a Europa fosse África e vice-versa, é preciso respeitar um conjunto de pressupostos culturais e sociais, por outro lado era preciso dar tempo de reflexão aos académicos e não só, de maneiras a reflectirem. O que é Bolonha para Moçambique? Que reformas curriculares tinha que se fazer para se adequar a reforma do ensino primário e secundário aqui em Moçambique? Lá o sistema secundário europeu está consolidado, nós aqui desde 1975 não conhecemos reformas no sistema secundário, estamos a mudar de sistemas de dois em dois anos, o sistema Nacional da Educação etc. o próprio ensino secundário não está consolidado, cada Ministro que vem aparece com uma tentativa de reforma e que nunca se consolidam e se mudam, como é que numa condição como esta vais encontrar um ensino secundário forte, com estudantes bem preparados para enfrentarem um ensino de apenas três anos? É complicado, então que perspectivas?

 

S.A- As pessoas poderão responder-lhe da seguinte forma, o senhor também é produto de Bolonha, porque estou na Europa, como responderia a esta reacção?

 

D.R- Não eu não sou produto de Bolonha, quando eu terminei a minha Universidade nunca implementou Bolonha, isto foi em França no Instituto de Ciências politicas de Bordeaux. Logo eu não sou produto de Bolonha, nem sequer conheço o que é isto, eu ouvi falar de Bolonha na Europa, mas ao chegar aqui, fiquei admirado que no Instituto onde eu estudei não havia sido implementado, mas aqui esta ser implementado, isto é controverso não é?

 

S.A- Qual é a sensibilidade que sente da parte dos outros docentes e discentes sobre este processo aqui em Moçambique?


D.R- Desculpa, mas eu não posso falar em nome deles, eu falo em nome pessoal, e são as minhas reflexões e é o que eu penso, não posso falar em nome dos outros.