Luanda - Nestes últimos meses, o sul de Angola conheceu um novo episódio de seca que colocou milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar. Uma problemática perante a qual o padre Pio Wakussanga, pároco dos Gambos, na província da Huíla, e coordenador da ONG 'Plataforma Sul' pede que o governo angolano tome medidas para proteger a população local contra a fome.
Fonte: RFI
A seca agravada pelas alterações climáticas e a insegurança alimentar daí resultante apanha "todo o Sul, nas chamadas zonas semiáridas de Angola, em Benguela, boa parte da província do Namibe e uma boa parte da província do Cunene", explica o Padre Pio Wakussanga que, de há alguns anos a esta parte, vem lançando apelos a favor da população daquelas zonas do sul do país, onde a seca tem sido endémica.
"As culturas não maturaram porque houve pouca chuva. Muito pouca chuva, com comunidades que já não têm reserva alimentar. Isto acelerou a vulnerabilidade. As pessoas ficaram sem alimentação. Estão a enfrentar a fome aguda, não têm alimento. Os mais jovens continuam a emigrar para a Namíbia para encontrarem trabalho. Os idosos ficaram entregues à situação da vulnerabilidade. Em Fevereiro deste ano, as agências das Nações Unidas, especialmente a UNICEF, estimavam mais ou menos em 1.580.000 pessoas necessitadas. Neste momento, a estimativa chega quase a 2 milhões de pessoas que, em todo o Sul, precisam imediatamente de alimentação", refere o religioso que é também coordenador da 'Plataforma Sul'.
Perante esta situação, o Padre Pio Wakussanga pediu que o executivo angolano tome esta situação em mãos e, por exemplo, declare o estado de emergência no sul do país. Até ao momento, este apelo não foi ouvido.
"Quem toma as grandes decisões do país, infelizmente, é o Presidente da República. Então é a ele que estamos a chamar a atenção. A falta de medidas imediatas de articulação com a situação, está a provocar problemas sérios que vão realmente pôr a própria segurança do Estado em risco. A segurança do Estado não é um exército armado, não. O Exército que no final do dia tem a sua família, não é a polícia bem treinada. Não é isso. Nos dias de hoje, o conceito de segurança do Estado está muito ligado ao conceito de segurança humana. Isto é básico", diz o sacerdote.
Daí que para o Padre Pio Wakussanga "é necessário que a Presidência da República tome consciência que tem de fazer uma intervenção de emergência na Região Sul para poder realmente amenizar o problema. Tudo bem que estão a fazer projectos estruturantes de canais de irrigação, de barragens, mas as pessoas precisam de comer. Não vão esperar cinco anos até que as barragens terminem, algumas delas com muitos problemas. Por isso, é preciso tomar em atenção este factor. Definir uma cesta básica alimentar para as famílias afectadas e estender a todas as escolas rurais a merenda escolar. Definir um programa de apoio agrícola aos camponeses e não simplesmente restringir o seu programa aos fazendeiros, aos produtores comerciais. Melhorar o salário dos trabalhadores sobre a questão do interior".
Para o Padre Pio Wakussanga é preciso ainda "descentralizar o país. Não é multiplicar os municípios que vai resolver problema de Angola. Não é o poder real que vai ajudar a promover o específico, a produção, a resiliência. Fazer com que a administração tome medidas com um grande nível de autonomia descentralizada para acudir ao problema, do que esperar que um buraco que está na estrada seja o Presidente a dizer que vai reparar aquela estrada".
"O modelo governativo não está a ajudar definitivamente", conclui o Pároco dos Gambos.