Luanda - Nas vésperas do congresso extraordinário do MPLA, o seu líder e chefe de Estado, João Lourenço, luta activamente pela subordinação total do partido. Para o conseguir, está a atacar o grupo dos conservadores que defende outras opiniões, tentando expulsar o maior número possível dos seus representantes, inclusive com a ajuda de acusações infundadas.
Fonte: Club-k.net
Entretanto, os objectivos de João Lourenço vão supostamente ao encontro das exigências dos americanos e europeus, mas não dos angolanos, no sentido de activamente reduzir a influência chinesa na economia angolana.
Um exemplo claro é que o presidente do MPLA tem procurado renovar o MPLA, mudando a sua ideologia (do centro-esquerda e social-democracia para o liberalismo).
Obviamente, isto está a ser feito para adaptar o partido às exigências dos EUA e da UE, especialmente no que diz respeito a varias questões sociais.
Por exemplo, as autoridades angolanas proibiram a discriminação contra os homossexuais. Segundo a lei, aqueles que se recusarem a contratar estas pessoas ou a prestar-lhes serviços com base na sua orientação podem ser punidos até dois anos de prisão.
Desde 2019, o país tem operado um programa PROPRIV de grande escala destinado a privatizar empresas públicas (195 lotes na lista). O Grupo Carrinho aumentou a sua influência no domínio da logística dos produtos agrícolas.
A empresa adquiriu quatro complexos de silagem de importância estratégica, dos quais dois se localizam no corredor do Lobito, o terceiro no corredor do Namibe e o quarto na estrada que liga as províncias de Benguela e Huambo.
O PROPRIV dividiu a rede de supermercados Nosso Super em 15 lotes. Vários deles foram comprados por José Carlos Manuel de Oliveira Cunha através da sua empresa Valoeste.
Em Dezembro de 2019, ele integrou as fileiras dos conselheiros presidenciais, substituindo o governador de Benguela e membro do gabinete político do MPLA, Luís Manuel da Fonseca Nunes.
Mais três supermercados na província do Zaire foram para o dono da rede Pomobel, Raul Mateus, que, por iniciativa de Lourenço, foi nomeado em Janeiro para o Conselho Económico e Social.
De referir que o grupo conservador do MPLA é composto por apoiantes do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, que são possíveis candidatos ao cargo de chefe do partido. São, por exemplo, os políticos Fernando da Piedade dos Santos “Nandó” e Higino Carneiro.
Os conservadores defendem os valores tradicionais do MPLA e de Angola, e opõem-se a mudanças e reformas radicais que implicariam um papel dominante do Estado na economia.
Os reformadores atacam conservadores antes do congresso extraordinário do MPLA que deverá ocorrer em Dezembro. Todos os líderes desleais já foram substituídos em diversas províncias. As últimas alterações afectaram os primeiros secretários em Bié, Lunda Norte, Huambo e Kwanza Sul.
Além do mais, para pressionar a antiga direcção do partido, foi organizado um «caso sobre o contrabando de combustível». De acordo com o Procurador-Geral, Hélder Pitta Grós, os nomes dos participantes serão tornados públicos após a recolha de todas as provas.
Os suspeitos incluem ex-governadores, generais, comissários de polícia e SIC, e também figuras seniores da AGT e da Sonangol.
Tudo isto aponta para uma divisão no MPLA, que enfraquece não só o partido, mas também a posição do próprio João Lourenço. Afinal, ao substituir os políticos conservadores experientes com um forte apoio nas empresas e comunidades chinesas em Angola, podem vir pessoas inexperientes e sem recursos, cuja qualidade principal é a devoção cega ao presidente e ao seu clã.
Tendo em conta a descida de valor político do MPLA como o partido líder em Angola, o mesmo corre o risco de perder a sua liderança em eleições futuras.