Luanda - Membros da sociedade civil pediram hoje ao Presidente norte-americano que persuada o Governo angolano a “abraçar a democracia” e não apenas centrar-se nas relações económicas, referindo que a atual governação “não tem compromisso” com os direitos humanos.
Fonte: Lusa
“A visita do Presidente Joe Biden deve ser de reflexão dos direitos humanos em Angola, porque nós vivemos num país em que o Governo não tem compromisso com os direitos humanos, sem diversidade, porque aqui discordar é buscar problemas”, afirmou hoje o presidente do Observatório para Coesão Social e Justiça (OCSJ) de Angola, Zola Bambi.
Falando em conferência de imprensa sobre o estado dos quatro ativistas presos há um ano e a negação da justiça em Angola, o responsável salientou que a visita Joe Biden a Angola – que se inicia hoje e decorre até quarta-feira – é ocasião para se apresentar a “verdadeira vivência” do país.
Os direitos fazem parte da extensão dos direitos fundamentais e a visita do Presidente Joe Biden “será uma ocasião para nós apresentarmos a nossa verdadeira vivência, porque não vamos apresentar ao Presidente (Joe) Biden uma Angola de oportunidades comerciais simplesmente”, respondeu Zola Bambi à Lusa.
O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) reúne-se na terça-feira, em Luanda, com as organizações da sociedade civil e, de acordo com o presidente do OCJS, a ocasião deve servir como uma “plataforma para melhor olhar” para os direitos humanos no país.
“Temos mais de sete milhões de crianças fora do ensino, temos falta de segurança jurídica, as empresas americanas vão precisar trabalhar num país onde podem os seus interesses ser bem representados e que possam fazer o comércio com segurança, é o que não há”, referiu.
Zola Bambi considerou ainda que persistem em Angola “graves violações” dos direitos humanos, nomeadamente “torturas, execuções sumárias e prisões arbitrárias”.
Florindo Chivucute, presidente da Friends of Angola (FoA), organização não-governamental, defendeu que as relações entre Luanda e Washington devem ampliar-se para lá dos interesses económicos.
“Também esperamos que essa relação possa começar a semear as primeiras sementes da democracia em Angola. É nossa esperança que os EUA, para além de fazerem investimento que já começaram a fazer pelo Corredor do Lobito, possam também persuadir Angola, o regime angolano para que abrace a democracia”, assinalou.
Para o líder da FoA, a reaproximação entre Angola e os EUA e, sobretudo, o investimento americano no país lusófono deve ser mais uma valia, “particularmente na questão da transparência”, contrariamente, disse, ao investimento chinês. “Um dos grandes problemas que temos tido e tem estado a inibir o desenvolvimento e prosperidade em Angola é a corrupção.
E a corrupção existe em larga escala porque não existe transparência, os acordos entre a China e Angola são bastante opacos, não há detalhes”, notou. “A nossa esperança é que essa relação possa de um lado equilibrar a fonte de investimentos em Angola, mas também trazer transparência no processo desses negócios”, rematou Florindo Chivucute.
O Presidente norte-americano inicia hoje uma visita de três dias a Angola, na qual deverá fazer vários anúncios sobre o corredor do Lobito, mas também em áreas como saúde, segurança alimentar ou agronegócio.