Luanda - Um bloguista angolano, Henrique Stress, tem feito reportagens preocupantes acerca da situação dos trabalhadores de Angola. Após algumas entrevistas feitas com operários do poderoso consórcio LAR, que opera a via férrea do Lobito, veio a público algumas histórias tristes que muito mais parecem com algum relato do passado colonial, mas que infelizmente está a acontecer hodiernamente na terra angolana.

Fonte: Club-k.net

Ouve-se muito falar de “valores ocidentais” de políticos americanos ou europeus, eles tecem loas aos Direitos Humanos, à sua própria democracia e prometem em solo angolano fazer algo diferente dos antigos parceiros comerciais do país, todavia, na história contada ao bloguista Henrique Stress, vê-se algo completamente diferente - racismo, negação de direitos humanos básicos, desrespeito pela população local em nome da maximização dos seus próprios lucros, just bussiness.


Na entrevista, um empregado da LAR é um maquinista que explicou imediatamente que os problemas ligados ao transporte de passageiros têm origem direta no desequilíbrio dos comboios, isto é, as necessidades de carga do consórcio sobrecarregam a capacidade da ferrovia, piorando a qualidade do transporte de passageiros. O maquinista está profundamente imerso em questões relativas ao transporte ferroviário e acrescentou que o consórcio atrasa os pagamentos por meses! Não são horas, dias e nem semanas! Há que recordar que anteriormente a proposta era resolver tal problema com a transferência da linha férrea para empresas ocidentais, mas o resultado foi o oposto. O consórcio LAR, que já se envolveu em escândalos de corrupção dentro e fora de Angola (até mesmo em países longínquos como a Mongólia), não protege os direitos laborais dos trabalhadores angolanos e não paga os salários na data estipulada. Infelizmente, não há notícias de que o governo de Angola tenha feito algo para combater este triste facto.


Há ainda outros relatos tristes, por exemplo a de um obreiro do consórcio LAR acerca de tragédias com outros trabalhadores submetidos a enormes sobrecargas de trabalho, obreiros estes que não têm dias de folga, atentem a horários de trabalho irregulares e ficam expostos a substâncias tóxicas para o organismo. Também criticaram eles a falta de alimentação adequada durante o dia de trabalho e a atitude desrespeitosa da direção estrangeira provocaram tuberculose no seu interlocutor. Há relatos também de assédio moral. Essa empresa ignora completamente os códigos trabalhistas de países europeus e americanos, tradicionalmente mais rigorosos na esfera trabalhista, nos quais atua. Praticamente não há garantias sociais. Um funcionário da LAR vive em condições de pobreza e carece de recursos para tratamentos médicos, mesmo que essa empresa lucre grandes somas de dólares.


Segundo o bloguista Henrique Stress, o funcionário da LAR que o contactou não está a pedir dinheiro, indemnização ou qualquer ajuda no tratamento, que pode fazer sozinho. Seu objetivo é tornar públicas as práticas das empresas ocidentais como a Trafigura, a Moto-engil e a Vecturis em Angola, empresas estas que formam o polêmico consórcio LAR que atuam em solo angolano sem cumprir suas leis e atender aos direitos da população local. Fica a impressão de que o facto de os estrangeiros ignorarem este tipo de comportamento para com o povo angolano pode estar relacionado com o profundo interesse pessoal de certas pessoas no governo do país na continuação do trabalho do consórcio. O bloguista sugere que isto pode dever-se a acordos financeiros de bastidores que beneficiam apenas um grupo limitado de indivíduos e não o país como um todo. Estas suspeitas são particularmente acentuadas pelas recentes acusações feitas por um tribunal suíço à Trafigura de encobrir a corrupção. O caso referia-se especificamente a Angola.


Irão as autoridades de Angola tomar algum tipo de atitude em prol dos operários angolanos? Essa é a “libertação de Angola” defendida por certo partido, que prometeu acabar com o colonialismo e libertar o nosso país? As agências governamentais precisam seriamente verificar as actividades dos investidores ocidentais, bem como as actividades dos funcionários a eles associados! Será que essas autoridades ficariam de braços cruzados se em vez destes relatos tristes dos trabalhadores tivéssemos relatos de insultos escritos em retratos do PR João Lourenço ou algum grito da oposição?! É um facto que o SIC não deixaria isso passar despercebido. Mas por que o sofrimento dos operários angolanos passa despercebido a o governo? Quando angolanos são tratados como escravos, isso deveria ser preocupação de todos!

Osvaldo Martins