Luanda - A pergunta ora colocada, parecendo ser simples, reveste-se de uma complexidade tremenda para ser respondida. Afinal, quem são, de facto, as nossas atuais referências políticas? Para começarmos, precisamos compreender o que significa ser uma referência política.

Fonte: Club-k.net

Uma referência política pode ser entendida como uma pessoa que, por sua atuação, influência e legado, serve como modelo ou inspiração para indivíduos e grupos interessados em política ou em questões sociais. Essas figuras costumam simbolizar princípios, ideais e causas que transcendem o tempo, motivando gerações e guiando decisões em contextos desafiadores.


Nos dias atuais, contudo, tem sido difícil encontrar figuras políticas que sejam amplamente consideradas como referências, especialmente entre os jovens. Personalidades como Martin Luther King, John F. Kennedy, Che Guevara ou Nelson Mandela marcaram épocas com suas lutas, discursos e exemplos de liderança, construindo legados que continuam a inspirar.


Porém, os políticos, ativistas e outras personalidades contemporâneos têm falhado, de maneira geral, em conquistar o carinho e a admiração das novas gerações. Há quem consiga esse reconhecimento, mas por curtos períodos. Outros alcançam o apoio juvenil por atenderem à urgência de mudança, mas sem, no entanto, consolidarem-se como referências duradouras. Em muitos casos, o apoio vem do desespero por transformações e da busca por um "profeta" que fale a língua que os jovens desejam ouvir, mas sem garantir o respeito e a admiração necessários para ser considerado um verdadeiro ícone político.


As lideranças políticas e sociais atuais têm pecado na aplicação de políticas e na tomada de decisões que impactem positivamente a vida das populações, incluindo em países desenvolvidos que são considerados modelos democráticos. Valores éticos e morais têm sofrido erosão, enquanto muitos políticos e líderes, que deveriam ser modelos de integridade, são frequentemente associados ao enriquecimento pessoal ilícito e a escândalos de corrupção. Esse cenário cria uma desconexão crescente entre os jovens e a política, resultando em recordes de abstenção eleitoral em diversas regiões do mundo.


A geração atual, infelizmente, devido à falta de boas referências, tem-se perdido na internet, buscando inspiração nos chamados "influencers digitais". Muitos desses criadores de conteúdo, embora populares, pouco ou nada contribuem para o enriquecimento intelectual ou social da juventude. Pelo contrário, frequentemente promovem estilos de vida superficiais e distorcem valores morais, criando uma geração mais preocupada com aparências e validações virtuais do que com impacto positivo na sociedade.


Neste contexto, torna-se cada vez mais difícil identificar referências políticas para a juventude atual. A ausência de lideranças que personifiquem valores elevados e promovam mudanças reais deixa um vazio no imaginário coletivo, ampliando o ceticismo em relação à política.


No entanto, a solução para essa crise pode estar na própria juventude, que tem o potencial de assumir protagonismo, redefinir valores e buscar novos caminhos. O mundo precisa de lideranças que resgatem a confiança, inspirem pelas ações e demonstrem compromisso genuíno com o bem comum. Talvez as referências políticas do futuro sejam aquelas que hoje caminham entre nós, construindo silenciosamente o alicerce de uma nova era política.

E você, jovem, já pensou em ser uma dessas referências?
ULISSES LUFUNDISSO
Especialista em Relações Internacionais.