Luanda - Estamos em celebração, é novo ano. Entramos para 2025. Mais um ano civil para palmilhar. Projectam-se desafios e sonhos individuais, mas também colectivos. Nos alegramos por isso, pelo dom da vida. Ao menos isso, já que para comer, quase nada há. A Angola de amanhã, essa, continua a ser desejada, talvez até implorada. Não há luz no horizonte ou melhor, não há energia eléctrica para todos. Cinquenta anos depois, o Mussulo respira de alívio. É obra do Governo. Coincidência ou talvez não, quase todos membros do governo, o do JES (marimbondos) e agora de JLo, têm residência naquela “instância balnear” ou polo turístico, como mais recentemente apelidada. Como se vê, o esforço dos 50 anos atendeu mais a determinada classe. Os tais que se julgam os únicos capazes, os iluminados.

Fonte: Club-k.net

Em meio às dificuldades sociais, um velho morador do Mbondoainbulugo, o musseque do bairro Prenda que começa do Lote 14, passa pelo antigo Centro Recreativo Bela Vista (os meus tios dizem que havia um clube com o mesmo nome), entra pelos becos de acesso à cantina do “Ti Paixão”, saí em direcção à oitava esquadra e termina na Comissão do Prenda.

O Mbondoiabulungo foi imortalizado pelo falecido Comandante Pedro Vidal. Como dizia o Velho: não há memória de tanta gente a sofrer, desde os tempos do colono. É tanta miséria, egoísmo que custa crer na idoneidade de quem gere o projecto de sociedade. Tudo é no âmbito, mas também tudo não passa de chavões, suspirou o Velho Manico. O povo passa fome, o Governo opta pelo endividamento externo, já faz lembrar o dinheiro da China, ou melhor, os incidentes que culminaram num descalabro total, apenas porque um bem intencionado patriota ousou alertar o Chefe sobre o descaminho das verbas inicialmente projectadas para alavancar o desenvolvimento. Volvidos quase vinte anos, o episódio repete-se, a dívida cresce mas a esperança de vida reduz-se. E então, qual é o caminho? O Presidente baralha as cartas, monta a sua equipa, mas está longe de harmonizar a família. Nomeia quadros manifestamente incapazes, ele sabe, mas insiste. Quando nomeou Joana Lina Baptista para Governadora de Luanda, todos sabiam que não iria resultar. E que muito possivelmente iria embaraçar o partido. Tal aconteceu. Quando nomeou a Adjani Costa para o super ministério, todos sabiam que era uma questão de dias… Quando nomeiou Eugenio Laborinho, adivinhava-se o desfecho.


A lista é longa. Chego a pensar, nos momentos mais introspectivos, que o Presidente João Lourenço está a projectar um outro MPLA ou pelo menos não leva tão a sério a disputa política. O problema é que muito provavelmente ele vai conseguir o que quer, ou seja, vai deixar um partido moribundo, exposto à derrotas humilhantes quando a sua geração já não cá estiver. O partido tem quadros brilhantes, eticamente bem resolvidos. Quadros que poderiam arregimentar um posicionamento melhor para a agremiação. O Presidente, incompreensivelmente, os ignora. Ninguém sabe qual é a direcção, ou melhor, até se sabe, passo a passo chega-se lá, na destruição. É que “água mole em pedra dura tanto bate que até fura…” Oh, e o tal patriota de ontem? Esse aprendeu a lição. O Chefe é quem manda e ponto. Bom ano a todos.