Luanda - O artigo de Manuel Alberto do jornal expansão sobre o desempenho económico e social de Angola na última década levanta pontos preocupantes e pertinentes que merecem atenção séria e uma análise minuciosa. Contudo, a classificação da década de 2014-2024 como "uma década perdida" apresenta-se como um julgamento pesado, que não reconhece plenamente o progresso alcançado em áreas importantes e os imensos potenciais que o país ainda possui para superar as adversidades e projetar-se como uma potência regional e global.
Fonte: Club-k.net
É verdade que muitos indicadores económicos e sociais apontam desafios significativos – mas em vez de desistirmos, é fundamental recalibrar as estratégias, mobilizar os recursos com eficiência e promover uma liderança visionária e determinada. Angola tem todos os recursos para se tornar uma potência.
A Decadência Narrada e a Realidade das Oportunidades.
O artigo corretamente destaca as fragilidades da diversificação económica, o declínio de sectores como a agricultura e a dependência excessiva do petróleo. Também pontua acertadamente os desafios do desemprego juvenil, educação e saúde. Contudo, tais problemas não devem ser encarados como definitivos, mas como pontos de inflexão para promover mudanças estruturais urgentes.
Pontos Fortes do Diagnóstico:
1. Relevância da Diversificação Econômica:** Não há dúvida de que o futuro de Angola depende de diversificar suas bases produtivas.
2. Preocupação com o Desemprego Juvenil:
A energia da juventude é o motor do progresso nacional, e sua ociosidade é alarmante.
3. Insistência em Políticas Inovadoras:
A análise exige maior criatividade e racionalidade na utilização dos vastos recursos do país.
Crítica Construtiva à Abordagem da “Década Perdida”
Embora reconheça que a década passada tenha sido marcada por adversidades, não posso subscrever completamente a ideia de uma "década perdida." Deve-se reconhecer alguns avanços:
Infraestrutura:
Apesar das limitações, Angola registrou crescimento em projetos de infraestrutura – desde estradas a aeroportos. Estas são bases essenciais para o desenvolvimento sustentável.
Macroeconomia:
Políticas monetárias tomadas nos últimos anos reduziram significativamente o défice fiscal e ajudaram a conter a inflação em 2023, demonstrando sinais de estabilização económica.
Energia e Indústria projetos importantes em energias renováveis e o relançamento do setor petrolífero podem tornar-se a porta de entrada para diversificação no futuro próximo.
Contudo, é imprescindível acelerar o passo. Sem mudanças ousadas, o potencial de Angola continuará latente.
A Potência Que Angola Pode Ser.
Com uma geografia privilegiada, um dos mais extensos inventários de recursos naturais e uma população jovem dinâmica, Angola tem todos os ingredientes necessários para se transformar numa potência económica.
Passos Fundamentais para o Futuro:
1. Diversificação Económica com Setores-Chave:
Agricultura Modernizada:
Com solos férteis e clima favorável, o país tem o potencial de se tornar o celeiro da África Austral. Necessita-se de políticas robustas para atrair investimentos e assegurar cadeias de valor eficientes.
Economia Digital:
Integrar jovens no mundo digital é crucial para um crescimento inclusivo e inovador.
2. Educação e Saúde Como Prioridade Absoluta:
Educação como Instrumento Estratégico:
O desenvolvimento não se efetivará sem professores bem formados, currículos atualizados e infraestrutura adequada. É necessário transformar as escolas em centros de excelência.
Reforma da Saúde:
Hospitais equipados e acesso universal aos serviços básicos de saúde são essenciais para elevar a qualidade de vida da população.
3. Estabilidade Macroeconómica e Incentivos ao Investimento:
- Angola deve continuar reduzindo o serviço da dívida e canalizando mais recursos para sectores prioritários como infraestruturas, educação e saúde.
- A desburocratização e a transparência fiscal são passos essenciais para atrair investidores estrangeiros e locais.
4. Erradicação da Corrupção:
- Deve-se apostar em instituições mais sólidas e numa cultura de responsabilização. Angola já começou este trabalho, mas ainda há muito por fazer.
5. Cooperação Regional e Global:
- A posição geográfica e os recursos únicos oferecem a Angola a oportunidade de liderar iniciativas regionais em energia, transportes e comércio, posicionando-se como um hub económico na África Austral.
Angola 2035: Uma Visão Transformadora.
Imagine um Angola onde:
- O setor agrícola não apenas abastece o mercado interno, mas compete com exportações no mercado regional e global.
- Os jovens lideram em tecnologia, inovação e empreendedorismo.
- Infraestruturas robustas conectam cidades e comunidades rurais, ampliando as oportunidades de desenvolvimento.
- Educação e saúde transformam-se em pilares da inclusão social e da produtividade económica.
Não há dúvida de que os desafios de Angola são grandes, mas sua capacidade de os superar é maior ainda. Liderança visionária, políticas bem estruturadas e o envolvimento de cada angolano serão os ingredientes para que o país transforme seu potencial em poder e trilhe o caminho da excelência.
Conclusão:
Angola não é apenas o país dos problemas, mas das possibilidades. Louvemos os passos que têm sido dados, identifiquemos as falhas que precisam ser corrigidas e assumamos um compromisso inequívoco com o futuro. Não nos contentemos em falar da última década como perdida; olhemos para os próximos dez anos como a década da renovação e da prosperidade. Porque Angola, meus caros, tem tudo para se tornar uma verdadeira potência.
*Tyilenga Tyokuehandja*
Economista e Especialista em Gestão Estratégica