Luanda – A direcção da Unita refutou o conteúdo do artigo publicado na edição do Jornal de Angola de hoje, quarta-feira, intitulado “ As teses golpistas da Juventude da Unita”, e considerou uma forma de desvirtuar o congresso da sua organização juvenil, a Jura, recentemente realizado em Luanda.


Fonte: Angop

UNITA  condena  artigo comediante publicado pelo JA

De acordo com o secretário para a Informação, Alcides Sakala, “esta foi a forma encontrada para distorcer os verdadeiros propósitos do congresso da Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA), uma vez que nesse evento a democracia, no seio do partido, saiu mais fortalecida”.


 
Questionado sobre os incitamentos denunciados no artigo, afirmou que o direito a manifestação está salvaguardado na Constituição da República de Angola, promulgada a 5 de Fevereiro último.
 


Segundo aferiu, o seu partido tudo tem feito para a consolidação da democracia no país e o fortalecimento da paz, alcançada com muito sacrifício.


 
O artigo, publicado no Jornal de Angola, advoga “a criação de factos ou aproveitamento de situações que ocorram no país, tais como eventos políticos, sociais, económicos, culturais, desportivos, académicos e naturais para desgastar, por todos os meios, a imagem do Presidente da República e transferir o foco de contradições Unita/ MPLA para o Povo/MPLA, alimentando e acirrando contradições sociais e económicas entre MPLA/Governo”, propósito desmentido por Alcides Sakala.
 


“A Unita tem manifestado, desde o alcance da paz, em 2002, disposição em contribuir para a sua consolidação, assim como a criação de mecanismos que não permitam o retorno à guerra”, realçou.

 


Jornal de Angola diz que «As teses do congresso defendem insurreição»


Segue na integra  o conto comediante da equipa do director do Jornal de Angola, José Ribeiro que alega se tratar de uma " denúncia de um leitor identificado e militante da UNITA" e que  só agora  publicaam porque "houve necessidade de confirmar a veracidade das afirmações atribuídas às teses para o II Congresso da JURA.". A equipa José Ribeiro diz que "Todas as afirmações são verdadeiras e foram por nós verificadas."

 

 

Um destes dias, fui abordado por um jovem que, pelo nível da linguagem que já lhe conhecia, sempre me pareceu próximo da família Unita. Vinha com o semblante carregado, como se tivesse estado longas horas a fazer reflexões sérias sobre alguma coisa importante.


Saudou-me com o respeito de sempre e de imediato, sem que eu terminasse a minha saudação, fez a seguinte afirmação:

 

- Mais velho, eu pensava que o tempo da guerra, da subversão, do apelo à desobediência popular e de todas as outras formas de promoção do ódio, do desrespeito às instituições e ao povo ... tudo isso, mais velho, eu pensava que fazia parte do passado e que agora tínhamos entrado numa era de paz definitiva, concórdia, fraternidade, democracia (onde quem é eleito governa e quem perde continua a apresentar propostas que, mesmo sendo diferentes, podem ser úteis) tal como nos outros países ... afinal não ... ainda há alguns que continuam a procurar formas de criar agitação e trazer mais problemas, só porque querem o poder a qualquer preço”.

 

Não sendo, para mim, uma novidade, quis saber mais:

 

- Dinho, onde queres chegar?

 

O jovem olhou fixamente para mim e perguntou-me:


- O mais velho já ouviu dizer que a JURA, a nossa organizaçãoj uvenil, vai realizar o seu II Congresso?

 

Respondi-lhe que não me havia apercebido de nada, mas que isso não era problema nenhum e que até é bom que os jovens se reunam para discutir coisas sérias e boas para o presente e o futuro da nossa jovem Nação. Aos jovens compete conduzir o destino do nosso País.
O Dinho, acortou-me a palavra :

 


- O problema não é esse. Até aí o mais velho tem razão. O problema é que há dias estive num almoço de confraternização organizado pelo maninho Didi Chiwale e o Dirceu Liberty Chaka, que ainda é o Presidente da Jura, fez um discurso inflamado contra tudo e contra todos os que “integram o sistema”.

 


Porque já conheço a retórica do seu discurso e porque, naquele momento, tinha outras prioridades, não dei muita atenção. Mas ontem deram-me este documento, que é cópia do que o Liberty apresentou no almoço e eu fiquei estupefacto com algumas coisas que li. Mas, como eu posso estar enganado, quero que o mais velho também o leia e me ajude a interpretar algumas coisas que são aí ditas.

 

Foi neste momento que o jovem me entregou um texto em cuja capa está inscrito: JURA – TESES PARA O II CONGRESSO ORDINÁRIO.

 

Comecei a ler e verifiquei que o texto estava “impecavelmente escrito”, como diria o nosso saudoso amigo de outros tempos e outras lides, o Fernando Norberto de Castro, que, como todos sabemos, também foi um fervoroso militante do partido UNITA.Li a introdução e fiquei a saber, embora pouco, mas alguma coisa mais sobre a JURA Juventude Unida e Revolucionária de Angola.


BOAS PALAVRAS

 

Imediatamente a seguir confirmei também que a sua pretensão continua a de “ser a principal organização juvenil angolana, mais íntegra e credível, política e moralmente, para melhor intermediar com os órgãos de Estado afins, a defesa, salvaguarda e promoção dos interesses, expectativas e aspirações da juventude angolana”. Se o texto fosse todo assim, diria que estávamos no rumo certo e que o futuro está garantido. Podia mesmo dizer que os jovens estavam a ficar maduros e tinham, ao contrário da minha geração, sido capazes de interiorizar o valor real da paz e os preceitos mais elementares de suporte à democracia moderna.

 

Vejam como seria bom, em plena harmonia democrática, ver os jovens unidos e a “combater com coragem e abnegação a exclusão, lutar contra a exploração do Homem pelo Homem, erradicar a miséria material e espiritual e contribuir para o triunfo do estado solidário e de justiça social”.

 

O Dinho, estava longe de perceber a viagem mental, o sonho, que eu, mesmo sabendo-me ingénuo, estava a viver naquele momento. Coisas que só a velhice explica e que os jovens teimam em não partilhar.

 

É natural que um grupo de jovens, por muito poucos que sejam, quando juntos, se sintam os maiores e os melhores do mundo. Por isso mesmo, é também natural que os militantes da JURA, mesmo sabendo da dimensão representativa do nosso partido (dez por cento nas eleições legislativas de 2008), se sintam capazes de reverter a situação e “elevar o (seu/nosso) Partido ao exercício do poder executivo do Estado”, já em 2012.

 


Sonhar não é proibido e a democracia tem mostrado que milagres, por vezes, acontecem. Mas eu continuo a pensar que é só sonho natural daqueles que acabados de sair da puberdade se consideram “comandantes do mundo”. Não sei porquê, mas de repente dei comigo a pensar na nossa euforia quando começámos a luta de libertação. Enfim…

 


Imediatamente a seguir, não sei porquê, nem a que propósito, lembrei-me de outra expressão que o nosso maninho Fernando Norberto de Castro gostava de usar, quando fazíamos as nossas análises: “não acredito em bruxas, … mas que as deve haver, … lá isso deve”.
Voltei a mim e dei continuidade à leitura de tão importante documento.

 


O nosso Liberty (confirmando o que me disse o Dinho) traça como “desafios político-estratégicos”, dentre outros, “a identificação das oportunidades, ameaças, pontos fortes e fracos” da UNITA e “a definição de planos de acção pro-activos que potenciem oportunidades e forças próprias e maximizem ameaças e fraquezas do adversário (MPLA/Governo)”. A partir daqui comecei a perceber que a JURA para além de estar preocupada com os problemas do Partido, também queria contribuir para “minar” o MPLA e o Executivo.

 

TESES GOLPISTAS


Sim senhor, estes jovens “jurados” estão fortes. Vão utilizar a ciência para investigar e descobrir (em laboratório especializado) a fórmula “política” para derrubar o poder instituído. Como as eleições em 2012 são gerais (Presidenciais e Legislativas), é caso para dizer que a JURA se está a preparar para matar dois coelhos com uma cajadada só. Agora é que vai…

 

Continuei a leitura e, (juro que levei um susto): A JURA projecta como oportunidades, a “criação de factos” e/ou “o aproveitamento de situações que ocorram no país” tais como “eventos políticos, sociais, económicos, culturais, desportivos, académicos, religiosos e naturais” (devem querer referir-se a calamidades de qualquer tipo), para “desgastar por todos os meios a imagem do Presidente da República”, “transferir o foco de contradições UNITA/MPLA para o Povo/MPLA, alimentando e acirrando contradições sociais e económicas entre o MPLA/Governo e o povo”, “mediante a propagação” de “denúncias permanentes” do “carácter fraudulento das eleições de 5 e 6 de Setembro de 2008, o golpe jurídico-constitucional de 21 de Janeiro de 2010” e a “ilegitimidade democrática do Presidente da República”, incitando a população a “perder o medo de manifestar-se”.

 

É assim mesmo que os nossos jovens da JURA/UNITA querem contribuir para o reforço da unidade nacional, o respeito pelos direitos humanos, a aceleração do processo de reconstrução nacional e a melhoria de condições do nosso povo?

 


Na minha idade e democrata como penso que sempre fui, não me preocupa que as pessoas se manifestem de forma pacífica na defesa ou para a conquista de direitos que considerem legítimos. Isso não me preocupa. Só demonstra que se está perante um país livre e democrático. Mas não é isso que a JURA nos propõe! O que a JURA pretende fazer é um apelo irresponsável à desobediência civil.

 

O que a JURA e o Liberty nos propõem é que rejubilemos de alegria perante tudo que de mal possa acontecer ao País e ao nosso Povo.

 

Acusar o Executivo por um mau resultado desportivo, ou porque há seca, e utilizar isso para agitar o Povo para que se manifeste nas ruas contra o Executivo é algo que só pode vir de alguém que ainda não se encontrou com o presente ou então continua imbuído do espírito destruidor que caracterizou a forma de actuar da organização em tempos que não pretendo reviver.

 

LIÇÕES DO PASSADO

 

Sou mais velho para me deixar levar em brincadeiras de garotos. Já sofri muito e não quero mais. Mas, como pretendo deixar de ser ingénuo e porque aprendi que, em política, “o que parece, é”, sinto-me na obrigação de pedir ao Estado Democrático e de Direito que se proteja e tome todas as medidas necessárias para defender a Paz que tanto nos custou e que tanto amamos.

 

Não me queria referir às eleições e aos resultados por ela produzidos. Lembrar apenas que, em democracia, as decisões do Povo, devem ser acatadas e respeitadas, sob pena de em actos posteriores a penalização poder ser maior. Se dúvidas subsistirem, lembremo-nos todos que o facto de em 1992 não termos aceite os 45 por cento de votos que o Povo Angolano nos deu, fez com que, em 2008, apenas conseguíssemos dez por cento.

 

Se continuarmos a agir assim, o que poderá acontecer em 2012? E, se acontecer, vamos voltar a culpar o Executivo? Continuar a desrespeitar a Constituição, que, mesmo não sendo perfeita, tem a mão de todos nós (todos mesmo), é positivo? O que é que pretendemos alcançar com isso?

 

Continuar a questionar o mandato do Presidente da República, (mesmo sabendo o que dizem as normas transitórias da Constituição) vai dar a vitória, à UNITA, em 2012?

 

É assim que os actuais dirigentes, da UNITA, pensam? Os Dirigentes da UNITA revêem-se nesta estratégia ou estão a preparar-se para, como Pilatos, lavar as mãos e dizer que nada sabiam e que nada viram ou ainda que se trata apenas de “assanhadice” dos nossos miúdos para darem nas vistas e apresentarem-se como bons militantes?

 

Enquanto lia, fui-me preparando para esclarecer algumas coisas, do passado, ao Dinho, como é o caso do Manual dos Quadros da UNITA, produzido pelo Dr. Savimbi, e tentar que ele entendesse que, infelizmente, ainda há quem não tenha percebido que a história mudou de rumo e que o retorno ao passado só é possível de persistir em pessoas que, por serem incapazes de se enquadrar na nova sociedade, ainda acreditam que o recurso à violência é a sua tábua de salvação.

 

COLIGAÇÃO NEGATIVA


Mas, voltemos às estratégias que o Liberty, o Chiwale, o Muzemba e outros membros da JURA/UNITA, querem implementar, para lembrar que eles pretendem a “mobilização e enquadramento político de membros e dirigentes de partidos políticos, igrejas e outras associações extintas pelo sistema” e a “cooperação com todas as forças, movimentos sociais e políticos ávidos da alternância do poder”. Pensar que participei no processo de libertação e na luta pela democracia e ver o partido UNITA continuar a agir como um “gang de malfeitores” que, há revelia da lei, pretende usurpar o poder, é algo que me constrange e que me preocupa sobremaneira. Então, os nossos Deputados da UNITA que aprovaram, na generalidade, o pacote legislativo eleitoral, não sabiam que os partidos que não atingissem o mínimo de 0,5 por cento dos votos válidos, seriam, automaticamente, extintos?
Hoje, pretendemos culpar o sistema? Qual sistema? Não estávamos todos representados nos Órgãos de Soberania que decidiram sobre as regras? Mas, não é isso que me preocupa. O que me preocupa é que a direcção da UNITA continue a pensar que agindo assim está a criar mais valias e que com esse quadro de dirigentes e políticos pode contribuir para o desenvolvimento do País. Assim já é demais. Estamos tão fracos que essa é a melhor aliança que podemos fazer?

 

APOSTA NO CAOS SOCIAL

 

Ver a JURA/UNITA assumir o seu “fraco entendimento da natureza do regime que sustenta o Estado angolano, como surgiu, e para que existe, sugerindo que se determine o tipo de combate que se impõe travar” é ainda mais constrangedor.

 

Assumir que não se conhece o Estado em que se está e, mesmo assim, alimentar a pretensão (presunção) de um dia o governar, é, no mínimo, ridículo e caracteriza bem o nível de dirigentes e a organização que temos hoje.

 

MOMENTO DE LUCIDEZ


O único mérito que se pode colher da constatação que a JURA/UNITA faz é que em todo o tempo que perderam a definir os termos da conspiração contra o Estado e o nosso Povo, houve um momento de lucidez em que se assumiu que o mais importante é destruir.


Afinal, aqueles que o dizem têm razão: A UNITA continua igual a si própria. Não fomos capazes de nos transformarmos em partido político e continuamos a pensar em conquistar o poder a qualquer preço.

 

Pensar que é possível “usar contra o regime os movimentos sociais por ele criados” constitui prova inequívoca de que ainda não fomos capazes de perceber e muito menos conhecer, a real grandeza do principal adversário político que temos pela frente. Assim sendo, vamos alimentando estas pseudo estratégias que, alicerçadas no desconhecimento, jamais poderão constituir rampas que nos possam catapultar para posições favoráveis à melhoria da nossa inserção social e ao concomitante reflexo disso em futuros resultados eleitorais. Continuamos a pensar que o regime vai entrar de férias e que tomaremos o poder ao som de valsa, regando o festim com um delicioso maruvo.

 

Li no documento das teses que a JURA/UNITA pretende “deslocar o combate das instituições públicas para as ruas, praças, bairros, escolas, hospitais, etc.” sustentando que o “regime deve ser levado a combater no terreno escolhido pela oposição e que lhe seja desfavorável” para que “a população se torne mais auto-confiante no desafio ao poder”.

 


Fiquei incrédulo: será que a UNITA assume, como nossa, a estratégia de criar o caos social e, por essa via, ascender ao poder? Invadiu-me o espírito a convicção de que esta estratégia não pode estar a ser gizada pela nossa organizaçãojuvenil e que por detrás disto tem que estar a própria Direcção do Partido, sendo que aquela apenas está a servir de instrumento.

 

O Presidente Samakuva e todos os actuais dirigentes da UNITA não se podem ilibar das responsabilidades advenientes de uma estratégia tão macabra, despudorada e anti-patriótica, como a que me foi dada, agora, a conhecer. Não me revejo nisto e não quero voltar a passar por caminhos que me fizeram sofrer tanto. Não foi para isto que eu dei a minha juventude.


Apelar à insurreição popular, sabendo das consequências desse acto nefando e irresponsável, mesmo acreditando que “verão o espectáculo a partir de alguma vereda luxuriante”, só pode vir de alguém que não tem um mínimo de amor à nossa Pátria e que nutre um profundo ódio ao nosso Povo.

 

Como homem que contribuiu para o que somos hoje, não posso evitar de soltar o meu grito de revolta e apelar que se tomem medidas sérias para que os mentores de tão vil estratégia jamais tenham a possibilidade de a materializar. Mas, vejam o que vem a seguir. De acordo com a proposta de teses para o II Congresso, a JURA/UNITA pretende “enfraquecer economicamente o regime e provocar a falta de recursos financeiros e materiais”, motivando a retracção do investimento estrangeiro e consequentemente “reduzir as fontes de financiamento do poder (entenda-se Executivo), causando atrasos no pagamento de salários, inclusive das Forças de Defesa e Segurança do Estado”, com o objectivo de criar um clima de “insatisfação geral”, visando o “princípio do fim” do regime.

 

Os mentores da estratégia apelam à observância do sigilo por acreditarem que quanto maior for a capacidade de guardar segredo dos planos e intenções, maior será a força da organização em surpreender o adversário e resultará em mais confiança na juventude. Tendo tomado conhecimento disto, jamais me calaria. Desde logo porque o único adversário que vislumbro na pseudo estratégia é o Povo Angolano. Assim sendo, também me sinto na pele de adversário, porque, com orgulho e honra jurei servir a Pátria e, por isso mesmo, não defendo interesses mesquinhos e, muito menos, acobertarei criminosos.

 

Como cidadão, cumpri o meu dever. Não pensem que traí o Dinho. Longe disso. Tive o cuidado de lhe dizer o que pensava do que li, pedi-lhe que jamais participe em acções que não tenham o respaldo da Constituição e das Leis da República, que ambos amamos de paixão, e que me autorizasse a trazer a público toda esta tramóia. Por último, pedi-lhe que fizéssemos umas cópias do texto para remeter aos Órgãos de Imprensa da nossa terra.