LUANDA — O governo angolano e os jornalistas do país continuam em extremo desacordo quanto ao grão de liberdade de imprensa que existe no país
Fonte: VOA
Isto depois de um representante do governo ter afirmado no Fórum Económico Mundial em Davos que o país tem uma postura aberta ao diálogo e não regista perseguições ou detenções de jornalistas.
Segundo Nuno Caldas, representante do governo, entre 2017 e 2024 houve um aumento significativo nos meios de comunicação social, realçando a existência de 33 jornais, 37 revistas, 16 sites de notícias, 23 estações de rádio e dois canais de televisão.
As reações às declarações de Nuno Caldas, Secretário de Estado da Comunicação Social de Angola, sobre os supostos avanços nas liberdades no país, não tardaram a surgir.
Jornalistas reagem
Para o analista Ilídio Manuel, o cenário atual é preocupante.
“Isso pode ser visível na forma como o Estado detém o monopólio da comunicação social. Praticamente, o Estado é o único que tem, o único ente com liberdade de poder transmitir uma rádio que se transmita a nível nacional, ao contrário, portanto, das rádios privadas, que não têm esta autonomia”, disse.
Manuel disse que “em termos de publicações de jornais físicos, o país se resume a dois jornais", acrescentando que "a situação está cada vez pior e nota-se mesmo que há uma grande intolerância, sobretudo do governo do João Lourenço, de todos aqueles que pensam de forma diferente ou que querem exprimir o seu pensamento na mídia, nas rádios e que não sejam de acordo com os seus projectos”.
O também jornalista destaca a ausência de rádios comunitárias, apesar da legislação prever a sua existência.
“O nosso nível de liberdade de imprensa pode também ser aferido pela inexistência de rádios comunitárias", acrescentou, lembrando ainda que "embora a lei contemple isso não há uma vontade da parte do executivo no sentido de implementar aquilo que a lei diz".
SJA diz que jornalistas são intimidados de forma "subtil"
O secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), Pedro Miguel, disse por seu turno ainda haver "situações de censura nas redações e o mais grave ainda é a autocensura, que é o próprio jornalista”
O sindicalista falou igualmente dos desafios enfrentados pelos jornalistas, especialmente aqueles que se dedicam ao jornalismo investigativo.
“Os jornalistas que têm estado a desenvolver o jornalismo investigativo, de uma ou de outra forma têm sido molestados, provavelmente não de uma forma velada, mas de uma forma muito subtil, quando estão diante de alguns fatos", disse o sindicalista."
"Estes são tidos como aqueles que conspiram contra alguns dirigentes, detentores de poderes,” afirmou