Luanda - No princípio deste mês, o Novo Jornal noticiou que o Governo do Presidente João Lourenço contraiu um empréstimo de 50 milhões de euros para a modernização de morgues de Luanda.De acordo com a referida publicação o empréstimo, concedido pelo Standard Chartered Bank, visa a construção, reabilitação e apetrechamento das morgues da província de Luanda.

Fonte: Club-k.net

No Jornal de Domingo da TV Zimbo, de ontem, 25 de Fevereiro, o ministro do Interior, Manuel Homem, anunciou que o Ministério das Finanças estás prestes a celebrar um acordo de financiamento, em valores que não revelou, para a construção de uma cadeia de alta segurança na localidade de Pungo-a-Ndongo, província de Malange.


Independentemente dos valores implicados, qualquer dos empréstimos é constrangedor, na medida em que desnuda por completo a incapacidade do Executivo angolano de fazer face a despesas que, em outras paragens, são tidas como elementares e têm até uma natureza quase que íntima.


Qualquer Governo que se preze tem de ser capaz de ter poupanças para, pelo menos, cuidar das suas morgues.


É constrangedor que o segundo produtor africano de petróleo e exportador de vários minérios de alto valor não tenha capacidade própria para cuidar das suas morgues.


Constrangedor é, também, que um Governo, cujo titular viaja em aviões topo de gama, recorra a financiamento estrangeiro para construir uma cadeia de alta segurança.


A propósito: a qualidade e a sofisticação da criminalidade em Angola já requerem uma cadeia de alta segurança ou ela vai ser construída para antecipar-se a eventuais distúrbios?
Países sérios investem na prevenção do crime e não na sofisticação da repressão.


É estranho que o ministro do Interior tenha anunciado, quase com alegria estampada no rosto, a construção de estabelecimentos prisionais em quase todas as províncias do país.


Haverá algum propósito de transformar o país num extenso campo de concentração?


Viciado em contrair dívidas, ninguém se espante se à ministra das Finanças for concedida autorização para negociar um empréstimo para “caiar” o palácio presidencial ou reparar os equipamentos de musculação dos deputados na Assembleia Nacional.


Agora que quebrou o tabu, revelando que arrumará as chuteiras no final dos seus dois mandatos constitucionais, o Presidente João Lourenço aparentemente tornou-se seguidor da máxima atribuída ao rei francês Luis XV segundo a qual “après moi le déluge”, ou seja, depois de mim o dilúvio.
Historiadores atribuíram também à expressão do soberano o significado de que lhe seriam indiferentes todas as calamidades que sobreviessem à nação depois dele.


A João Lourenço será indiferente o tamanho do endividamento externo que legará ao país?