Luanda - Ah, se Adam Smith estivesse vivo e desse uma volta por Angola, provavelmente ficaria perplexo. Ele pregava que o livre mercado e a concorrência fariam a economia prosperar naturalmente, como se uma "Mão Invisível" guiasse tudo para o bem comum. Mas, por aqui, essa mão parece ter sido amputada – ou, no mínimo, está de licença há algumas décadas. A economia continua refém do petróleo, a diversificação avança a passos de camaleão e os pequenos empreendedores enfrentam mais barreiras do que oportunidades. O tal laissez-faire transformou-se num laissez-survivre.

Fonte: Club-k.net

Smith também defendia que o Estado deveria restringir-se a três funções fundamentais: infraestrutura, segurança e defesa. Bom, em teoria, temos estradas e portos, mas basta sair das capitais para perceber que, muitas vezes, a verdadeira aventura começa antes mesmo de chegar ao destino. A segurança? Entre a criminalidade crescente e a morosidade do sistema judicial, o cidadão comum sente-se mais vulnerável do que protegido. E a defesa nacional, essa sim, está garantida – afinal, manter a estabilidade do poder sempre foi prioridade.

Já Jean Baptiste Say afirmava que "a oferta cria a sua própria procura", ou seja, se produzirmos mais, o mercado naturalmente consumirá. Bela teoria, mas, na prática, temos uma economia onde os produtos importados dominam as prateleiras e os bens produzidos localmente enfrentam custos elevados e baixa competitividade. Se a oferta criasse automaticamente a sua demanda, o tomate nacional não custaria os olhos da cara, enquanto os supermercados vendem frutas importadas a preços mais acessíveis.

E então surge Thomas Malthus, o profeta do apocalipse demográfico, que dizia que a população cresce mais rápido do que a produção de alimentos, levando inevitavelmente à fome e à miséria. Infelizmente, essa previsão faz mais sentido do que gostaríamos. A população angolana cresce a um ritmo acelerado, mas a agricultura não acompanha. O resultado? Dependência excessiva da importação de alimentos, preços elevados e um povo que precisa esticar o salário até onde der – ou até onde a inflação permitir.

No fim das contas, os clássicos da economia tinham ideias brilhantes, mas esqueceram-se de incluir um capítulo sobre como lidar com burocracias, monopólios e desigualdades estruturais. Se a "Mão Invisível" de Smith existe, alguém precisa avisá-la que está na hora de voltar ao trabalho.