Luanda - Soft power(poder brando), é um conceito das relações internacionais que se refere à capacidade de um país ou actor global de influenciar outros por meio da atracção e persuasão, em vez da coerção ou força militar.

Fonte: Club-k.net

O termo foi tornado conhecido pelo cientista político Joseph Nye, que argumentou que, além do “hard power” (poder duro ou potência coerciva), um país pode exercer influência de forma mais sutil, utilizando a sua cultura, os seus valores, as suas instituições políticas e a diplomacia para moldar a opinião pública e criar alianças.
Por exemplo:

1. A influência cultural, como o sucesso do Rap, da música pop e do cinema americanos, ou da música e telenovelas brasileiras, que atraem países como Angola e reforçam uma imagem positiva do States e do Brasil;


2. Instituições acadêmicas e programas de intercâmbio, como as universidades renomadas ou bolsas de estudo, que a contribuem para o fortalecimento das relações e a imagem de um país;


3. O papel de um país em promover a paz, os direitos humanos, a democracia e boa governação, e justiça social, que podem aumentar a sua atratividade;


4. Países que são líderes em tecnologia e inovação também podem exercer soft power, influenciando o desenvolvimento global.


Diferente do hard power, que, muitas vezes, depende de sanções, ameaças ou uso directo da força(os EUA são useiro e vezeiro de hp), o soft power cria um ambiente que move os outros países a optar em seguir ou apoiar as políticas ou os valores do país influente, por admiração ou persuasão.

Angola, como país de importância crescente no continente africano, possui uma combinação de soft powers e hard powers que podem ser aproveitados para fortalecer a sua posição internacional, bem como promover o desenvolvimento interno e a inclusão social.
É importante que os dois factores combinem: influência externa e desenvolvimento interno.

Nos últimos anos, o país tem se esforçado para expandir as suas relações diplomáticas, muito voltada para a diplomacia económica, com o Presidente da República na liderança(não entro no mérito dos esforços), e fortalecer os seus laços com outros países.

Contudo, a verdadeira chave para o sucesso no cenário global, ou africano, reside numa estratégia equilibrada entre essas duas formas de poder, com uma atenção especifica no movimento pela inclusão das pessoas com deficiência, que é fundamental para garantir uma sociedade mais justa e igualitária.

Os hard powers de um país são aqueles factotes tangíveis e relacionados ao poder militar, económico e geopolítico.

No caso de Angola, estes se manifestam de várias formas:


1. Angola é produtor de petróleo e gás natural.
O sector do petróleo representa a maior parte da economia nacional, o que confere ao país um poder económico a ter em conta;

2. Angola possui uma força militar que não é de subestimar na região, pois durante e após décadas de guerra civil, o país tem investido nas suas forças de defesa e segurança, o que lhe confere uma certa estabilidade e projecção no continente;

3. Angola tem feito algum investimento em infraestrutura, como estradas, portos e aeroportos, o que pode reforçar a sua posição logística e comercial na região africana, se bem aproveitado.

Esses investimentos e outros, aliados à riqueza em recursos naturais, pode permitir que o país se torne um hub de comércio e investimentos internacionais.

Os soft powers de Angola, por sua vez, dizem respeito à capacidade do país de influenciar outras nações por meio de atrativos não coercivos, como a cultura, os valores, a diplomacia e educação.

Angola possui um potencial significativo na cultura e língua.

A língua portuguesa, falada por mais de 270 milhões de pessoas no mundo, é uma poderosa ferramenta de influência cultural.


Angola pode se afirmar como um polo cultural da “lusofonia”, com uma rica tradição musical, literária, e um cinema, que vai dando uns passitos, mas pode ser explorado para aumentar a projecção internacional do país.


Eventos como o “Show do mês”, da Nova Energia, “Muzongué da Tradição”, do Centro Cultural e Recreativo Kilamba, “Festa da música”, da UNITEL, e muitos outros, ou até o aumento da produção cinematográfica podem ser usados para fortalecer o soft power do país.

Angola tem sido activa na mediação de conflitos em África, o Presidente João Lourenço foi recentemente eleito, como Presidente Pro tempore da União Africana, para um mandato de um ano, o que confere ao pais uma posição de respeito dentro do continente e não só.

A nossa política externa voltada para a estabilidade regional e o engajamento com organizações multilaterais pode ser expandida para gerar uma maior influência política.

A rica biodiversidade e as paisagens naturais, incluindo as maravilhas naturais como as Quedas de kalandula, o Parque Nacional de Kissama, o Deserto do Namibe, a Floresta do Maiombe, a Fenda da Tundavala, entre muitas outras, constituem uma excelente base para o desenvolvimento do turismo, o que pode ser uma fonte importante de soft power.


Promover o turismo sustentável e o ecoturismo pode contribuir para a criação de uma imagem positiva de Angola ao nível internacional.

A Federação Angolana das Associações de Pessoas com Deficiência (FAPED) desempenha um papel central na promoção da inclusão e na defesa dos direitos das pessoas com deficiência.
No entanto, o movimento pela inclusão vai além da promoção de direitos básicos; ele se conecta directamente com a construção de uma sociedade mais justa, que valoriza a diversidade e a igualdade de oportunidades.

Angola tem uma oportunidade única de transformar a questão da inclusão como um componente estratégico de seu soft power.

Por exemplo:
1. A implementação de políticas públicas que promovam a acessibilidade para pessoas com deficiência, nos espaços urbanos, nos transportes ou na educação, são fundamentais para demonstrar o compromisso de Angola com os direitos humanos e a inclusão a todos os níveis.

Esses esforços podem posicionar Angola como um exemplo positivo e um actor relevante na promoção dos direitos das pessoas com deficiência em África e no mundo.

A FAPED, juntamente com as suas organizações filiadas, pode ser uma ponte importante para garantir que as pessoas com deficiência tenham voz nas decisões políticas, económicas e sociais.

Ao envolver essas pessoas em todos os aspectos da vida nacional, Angola não só estará a promover a inclusão, mas também a valorizar um potencial humano muitas vezes negligenciado.

Angola pode ainda alcançar a posição de líder na inclusão das pessoas com deficiência para formar parcerias com organismos internacionais que trabalham nesse sector.
E tem o dever moral de fazê-lo, tendo em conta a sua experiência de guerra, de que são vítimas um grande numero de pessoas com deficiência.

A colaboração com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização das Nações Unidas (ONU), a Aliança Internacional da Deficiência(IDA) e outras entidades relevantes pode proporcionar recursos e apoio técnico para melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência no país.

A chave para Angola tirar proveito dos seus soft and hard powers, mantendo uma postura inclusiva, está em criar uma estratégia holística que integre todos esses elementos.

Algumas sugestões:


1. Angola pode investir mais na educação inclusiva e em programas de capacitação profissional para pessoas com deficiência. Isso contribuiria para a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas e fortaleceria o capital humano do país, um componente essencial de qualquer soft power;

2. Angola pode expandir a sua produção cultural para incluir mais representações da vida das pessoas com deficiência.
Ao dar visibilidade a essas histórias, o país não só enriqueceria a sua produção artística, mas também promoveria um modelo de inclusão que poderia ser admirado por outros países.

3. Angola pode levar a questão da inclusão para o cenário internacional, usando a sua voz na ONU, na Cimeira Mundial sobre a Deficiência(este ano terá lugar em Berlim, Alemanha, no mês de Abril), e outras plataformas para liderar debates sobre os direitos das pessoas com deficiência.

Além disso, pode trabalhar para promover a adesão de outros países africanos a acções semelhantes, consolidando a sua imagem como líder em questões de direitos humanos e inclusão social, política e económica.

Em suma, a combinação de hard and soft powers, aliada ao movimento pela inclusão das pessoas com deficiência, pode colocar Angola no centro das atenções internacionais de uma forma positiva e transformadora.

O país tem as ferramentas e o potencial para se tornar um modelo de desenvolvimento inclusivo e sustentável, onde o poder económico, político e cultural se alinha com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

*Activista social
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