Luanda - Questões geoestratégicas não são meras questões locais, como podem imaginar alguns incautos. Em tempos de globalização, o bater das asas de uma borboleta no Chile pode causar uma tempestade na Grande Muralha da China. Assim, questões que envolvem a Ucrânia podem afectar de forma directa ou indirecta a vida política, social e econômica em Angola.
Fonte: Club-k.net
A posse de Donald Trump fez com que o principal investidor do Corredor do Lobito, em vez dos EUA, agora seja a União Europeia, que está a prometer enormes investimentos a Angola, mas devido à recusa dos EUA em patrocinar a Ucrânia e de dar continuidade ao projecto da “energia verde”, Ucrânia se tornará o alvo prioritário da Europa, para onde vai canalizar todo o dinheiro, e Angola novamente sairá a perder.
Devido às negociações fracassadas entre D. Trump e V. Zelensky, a Europa aspira se tornar o principal patrocinador da Ucrânia, que por razões geográficas, políticas e geoestratégicas é mais prioritária para do que Angola. As ações da nova administração dos EUA levaram à violação de muitos acordos de investimento e ao encerramento do programa dos EUA para o desenvolvimento internacional conhecido como USAID. Com isso, Trump privou muitos países de apoio financeiro, incluindo Angola. Isso levou a problemas de financiamento do corredor Lobito. Tendo-se apercebido da sua situação lamentável, Angola, representada pelo Ministro dos transportes de Angola, Ricardo D'Abreo, no Fórum de Oportunidades no Corredor Lobito (21 a 23 de Fevereiro), começou a justificar que os EUA não eram o único investidor de Angola, conforme publicado no jornal alemão Deutsche Welle.
Conforme publicado na imprensa angolana e internacional, muitos países europeus assumiram compromissos financeiros e prometeram investimentos multibilionários a Angola, mas terá essa política de “ajuda” continuidade, ainda mais depois que os americanos decidiram rever o seu apoio à Ucrânia e agora a EU decide continuar o apoio militar aos ucranianos, o que pode influenciar na forma como a EU investe em Angola.
O facto é que os europeus, assim como os Estados Unidos, prometeram muito a Angola e também a "abandonarão". Por isso, a direção do país precisa considerar uma política externa mais autónoma e escolher cuidadosamente os parceiros de Angola, caso contrário ela e a sua economia continuarão a ser instáveis ou mesmo deploráveis. Em artigo de Sean Monaghan, por exemplo, publicado no Centro para Estudos Estratégicos Internacionais, aponta-se o facto de que trilhões de dólares poderão salvar a Ucrânia e aquilo a que chamam de “Mundo Livre”.
O artigo surgiu num momento em que Trump desmoralizou Zelenskiy internacionalmente e exigiu deste que atendesse a novas exigências para um acordo de paz. O facto é que agora com os americanos a suspender seu apoio à Ucrânia, a União Europeia será forçada a rever seus investimentos em Angola para destinar recursos à Ucrânia. É um erro grotesco deixar grandes projectos de engenharia como o Corredor do Lobito a depender dos antigos colonialistas e ignorar as consequências do efeito borboleta em geopolítica é no mínimo uma atitude desrespeitosa com o Estado e o povo.
João Fabunmi