Luanda - Ah, que espectáculo de números! O Instituto Nacional de Estatística (INE) acaba de anunciar que o Produto Interno Bruto (PIB) de Angola cresceu 4,4% em 2024. Um feito grandioso, digno de ser impresso a ouro e colocado em cada esquina do país. Afinal, o INE nunca erra, não é? Se os dados dizem que estamos a prosperar, então só pode ser verdade! O problema é que a realidade teima em não seguir o roteiro oficial.

Fonte: Club-k.net

O maior salto veio da extracção de diamantes e minerais metálicos, com um crescimento de 44,8%. Sensacional! Agora, qualquer cidadão pode ir ao mercado e trocar um saco de jinguba por um pequeno diamante. Só que não. O dinheiro dessas riquezas continua a escorrer por caminhos invisíveis, enquanto o povo segue a sua rotina diária de luta para comprar o pão.

O sector dos transportes e armazenagem subiu 10,4%. Óptimo! Significa que os candongueiros agora circulam sem engarrafamentos, os autocarros são pontuais e as estradas estão lisas como vidro. Espera… não? Ah, então talvez esse crescimento tenha sido apenas nos relatórios, porque, na prática, o caos continua a ser o melhor amigo dos passageiros.

A pesca aumentou 12,2%, o que, em teoria, significa mais peixe no prato do cidadão. Mas, na prática, o peixe segue com preços astronómicos e, a julgar pelos mercados, parece que os pescadores decidiram pescar directamente para as estatísticas do INE, pois o povo continua a comer fuba e feijão.

Electricidade e água cresceram 6,5%. Finalmente, podemos esquecer os geradores e as velas! Só que não. Os apagões continuam firmes e fortes e a água? Bem, essa continua a ser um bem de luxo em muitas áreas do país. Mas quem sabe, o INE esteja a contar também os baldes de água que a população carrega na cabeça.

O comércio expandiu 4,6%, sinal de que os mercados estão vibrantes e os angolanos a consumir alegremente. Se ignorarmos o aumento dos preços, a desvalorização do kwanza e o poder de compra em queda, até que faz sentido.

A Administração Pública e a Segurança Social cresceram 4,3%. Quem dera que isso significasse menos burocracia e melhores serviços públicos! Mas, como todos sabemos, os funcionários continuam a atender com aquela motivação contagiante que nos faz querer voltar noutro dia.

No sector do petróleo, crescimento de 2,8%. Claro, porque enquanto os lucros sobem, os preços dos combustíveis seguem a mesma direcção, garantindo que cada angolano sinta, na pele, os efeitos dessa "prosperidade".

No final, o PIB no quarto trimestre de 2024 atingiu uns impressionantes 23 025 128 milhões de kwanzas (23 mil milhões de euros). Maravilha! Se apenas uma pequena fracção desse valor chegasse ao bolso do cidadão comum, talvez houvesse motivos para comemorar. Mas, enquanto os relatórios do INE mostram um país em ascensão, a realidade insiste em manter os angolanos presos à economia de sobrevivência.

Mas não nos preocupemos! O INE já garantiu que estamos a crescer. Só falta o povo perceber onde foi parar esse crescimento.