Luanda - O Presidente do Ruanda não brinca em serviço. Paul Kagame decretou, há algum tempo, uma medida tão simples quanto eficaz: Quem quiser abrir uma igreja deve ser formado em Teologia. Mais: As igrejas devem pagar impostos ao Estado. Trata-se de uma tentativa séria de profissionalizar o púlpito e responsabilizar quem se propõe a pregar a fé. A decisão também visa cortar um mal pela raiz: A proliferação de seitas oportunistas que confundem fé com negócio.
Fonte: Club-k.net
Foi essa a resposta ruandesa à fanfarra espiritual e ao comércio da salvação. Pastor sem formação e igreja sem fisco não têm vez no Ruandq. Dito de outro modo: Teologia na cabeça, impostos no altar!
O resultado já é visível: Mais ordem, menos charlatanice. Angola. O Instituto Nacional para os Assuntos Religiosos (INAR) anunciou, recentemente, o encerramento provisório da seita “Ministério da Graça Arena de Fogo e Fé”, liderada por um pastor de palco: BM Samuel! Tal deveu-se a um acto de pura e dura humilhação praticado durante um culto contra um seguidor seu. BM Samuel humilhou-o e esbofeteou-o. Praguejou-o a morte. A ele e a sua mãe. Um putativo apóstolo de Deus na Terra a desejar a morte de um crente e da sua mãe. O vídeo viralizou. Gerou revolta e comoção nas redes sociais. Foi (muito) fogo e muito (pouca) fé.
A medida do INAR é acertada. Embora tardia. Demorou, mas chegou. Mais vale tarde que nunca. Angola está a precisar, há muito, de colocar um travão nas práticas abusivas de falsos profetas que se aproveitam da vulnerabilidade alheia para enriquecerem. Enquanto os “Chutos & Pontapés” cantarolam “Não/Não Sou O Único/“, eu digo: BM Samuel não é o único vigarista de púlpito que se aproveita da ingenuidade e pobreza de alguns angolanos. É apenas a ponta de um iceberg religioso que cresce exponencialmente alimentado por desespero, ignorância e impunidade.
Pastores ou profetas como BM Samuel são verdadeiros ilusionistas da carteira alheia. Tiram vantagem da graça e esperança de gente moralmente desesperada. Prometem o Reino dos Céus. Mas cobram pela benção aqui na Terra. São profetas do lucro eterno. Vivem à custa dos fiéis mais pobres. Mais ingénuos. Mais carentes de tudo. Sobretudo de senso crítico.
O Estado angolano tem de assumir uma postura mais firme. A fé não pode continuar a ser explorada como um negócio sem regulação. O púlpito não é palco para oportunistas. E os altares não podem continuar a ser ATMs celestiais, onde só entra quem paga. O exemplo do Ruanda revela ser possível agir com seriedade e sem atacar a liberdade religiosa, mas protegendo os cidadãos da fé do engano. A espiritualidade não pode ser isenta de responsabilidade. Já é hora de fazer como em Kigali: Estudo teológico obrigatório, impostos em dia e charlatões fora do altar, enquanto esperam - sentados - por um milagre em prestações. As igrejas e seitas têm de deixar de ser ATMs celestiais para os profetas do lucro eterno como BM Samuel.