Luanda - Ah, a liberdade... esse conceito tão bonito nos discursos e tão perigoso na prática. Esta semana, Ginga Savimbi — sim, filha do fundador da UNITA, sangue do sangue do homem que virou símbolo — decidiu, em acto solene e corajoso, entregar o seu cartão de militante. Disse “basta”. Cansou-se de perseguições internas, de campanhas de ódio alimentadas por “milícias digitais” — essa nova modalidade de tiro virtual disparado do conforto de gabinetes com vista para o poder.

Fonte: Club-k.net

Bravo, Ginga! Um acto de autonomia, de consciência. Um gesto raro. Mas claro… isso só é possível porque ela estava na UNITA. Porque se fosse aqui no Glorioso MPLA, minha irmã, nem se atreveria a sonhar com tamanha ousadia.

 

No Glorioso, sair do partido é como tentar mudar o rumo do Sol: ousadia inútil. Aqui, a militância não é só convicção — é identidade, é condição de sobrevivência. É um contrato silencioso, sem cláusula de saída. Nasce-se, vive-se e morre-se MPLA — com fidelidade supervisionada a cada passo.

 

Falar de liberdade partidária neste universo é como tentar ensinar filosofia ao vento: vai-se gastar voz e não vai mudar nada. Aqui, o cartão de militante não é apenas simbólico — é funcional. Garante acesso, respeito e segurança. Romper com isso? É como desligar o GPS e tentar navegar num mar cheio de tubarões.

 

Aqueles que ousam sair — ou mesmo questionar — descobrem rapidamente que tudo muda à sua volta. Os convites desaparecem, os abraços arrefecem, os telefones silenciam. E aquela aura de “camarada respeitado” transforma-se subitamente em “elemento a ser observado”. O julgamento vem rápido, sem necessidade de tribunal.

 

Ginga, parabéns pela coragem. Mas fizeste algo que, por estas bandas, seria interpretado como traição de alto risco. Aqui, liberdade é um conceito decorativo — bonito nos textos, mas impraticável na realidade.

 

Portanto, sim, em Angola todos são livres de entrar e sair de partidos. Mas só nos lugares onde o poder ainda não se considera dono da tua consciência. No Glorioso, não se sai. E se saíres... o mundo à tua volta tratará de te lembrar o erro.